Um dos membros mais proeminentes do movimento que quer reescrever a constituição do Chile admitiu que não tem cancro, ao contrário do que afirmava publicamente desde outubro de 2019. Aliás, a doença foi um dos maiores fatores da sua ascensão política, levando à sua eleição para membro da convenção criada para substituir a constituição.

Confrontado pelo jornal chileno La Tercera, na quinta-feira, Rodrigo Rojas Vade acabou por admitir que não tem qualquer doença oncológica, mas sim hematológica, reconhecendo também que mentiu às pessoas que em si votaram. Foram mais de 19.000 chilenos a escolher este candidato independente.

O país sul-americano ainda é regulado pela constituição de 1980 escrita sob a ditadura de Augusto Pinochet, sem participação popular . A revogação desse documento foi decidida num histórico plebiscito em outubro de 2020, resultando de uma das principais exigências dos protestos de 2019.

Foi durante essas manifestações que Rojas Vade começou a ser conhecido. Presença regular nas filas da frente dos protestos contra a desigualdade social, erguia cartazes onde testemunhava as suas dificuldades para pagar a quimioterapia. Chegou mesmo a ser fotografado numa manifestação com um cateter no diafragma, além de dar entrevistas acerca dos tratamentos esgotantes pelos quais passaria, explica o jornal The Guardian.

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No sábado, três dias após a entrevista com o jornal chileno, o ativista desculpou-se num vídeo publicado no Instagram, cuja conta se encontra neste momento privada, apenas de acesso aos seguidores. Citado pelo jornal britânico, o independente justificou-se como tendo sido diagnosticado com uma condição que carregava um “grande estigma”, o que o levou a contar aos amigos e família que era um tipo raro de cancro, explicou na rede social.

Eu cometi um erro, um erro terrível. Não fui honesto com vocês, com a minha família nem com ninguém. Eu menti sobre o meu diagnóstico — não tenho cancro”, disse no vídeo.

Agora, Rojas Vade quer abandonar a convenção, mas, de acordo com o que o The Guardian escreve, não há um método claro através do qual se possa demitir, já que a única razão viável para tal é uma doença grave que impeça o trabalho, o que não será o caso.

Ainda assim, a sua ausência da assembleia constituinte não afetaria a maioria detida pelos delegados de esquerda e independentes, que deverão votar a favor da nova constituição. A convenção teve início em julho deste ano e terá de ter a lei fundamental pronta na mesma altura de 2022.

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