Há três meses aproveitámos a oferta que a Apple dá aos utilizadores para testarem gratuitamente o Apple Arcade, o serviço de subscrição de videojogos da empresas. Num iPad e num Macbook Air instalámos e desinstalámos as principais aplicações de jogos que a plataforma tem para oferecer e outras não tão conhecidas. No total, jogámos muitas e muitas horas. Mesmo assim, no final, ficámos pouco cativados.

Em seis perguntas, explicamos o que é o serviço e o resultado desta análise.

O que é o Apple Arcade?

O Apple Arcade foi anunciado em março de 2019 num evento que até contou com a presença de Oprah Winfrey. O serviço permite aceder a várias apps de jogos que, caso não tivesse a subscrição, teria de pagar à parte ou não estão acessíveis na App Store, a loja digital de aplicações da Apple.

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Na prática, o Arcade é como um Netflix de videojogos da Apple. Porém, neste caso não se joga estes jogos através da internet sem necessidade de instalação, como é possível em sites como o Miniclip, por exemplo. Instala-se no dispositivo e joga-se enquanto a subscrição estiver ativa. Por causa disso, há a desvantagem de ter de ocupar espaço no aparelho. Porém, há também uma vantagem: depois de instalados, é possível jogar offline.

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Se tem um smartphone Android ou nunca toca num computador com o sistema operativo macOS, pode nunca ter ouvido falar do Apple Arcade. Este serviço de subscrição só funciona nos dispositivos da empresa, como os tablet iPad, os iPhone ou computadores Macbook. Ou seja, se não tem um ou pretende comprar um destes aparelhos, o resto deste artigo provavelmente não é para si.

Quais é que são os jogos que o Apple Arcade oferece?

Como diz o nome — “Arcade” (jogos de arcada, em português) –, este serviço de subscrição permite que tenha acesso a uma biblioteca de aplicações de videojogos que pode instalar e jogar nos dispositivos da Apple. Ao contrário dos salões de jogos de arcade, não tem de pôr uma moeda para jogar mais um jogo. Basta pagar a subscrição e aceder à biblioteca que, segundo a Apple, já tem mais de 180 apps de jogos. Alguns destes videojogos são no entanto exclusivos, como o “Star Trek: Legends” ou “The Oregon Trail” e, por isso, só pode jogar se tiver a subscrição.

Apesar de esta biblioteca de jogos ser extensa, com jogos exclusivos e muitos que já estão disponíveis na loja de aplicações da Apple, nem todos os videojogos disponíveis na App Store estão também disponíveis no serviço. Ou seja, se quiser utilizar o seu aparelho da Apple para jogar videojogos como “Grand Theft Auto: Vice City” ou “Civilization VI”, vai ter de pagar à parte o preço. A vantagem é que estes jogos que comprar à parte continuarão disponíveis e não precisa de pagar uma subscrição. Não obstante, com isto já vê um problema do serviço: não lhe dá acesso a tudo.

Dá para jogar de graça?

Sim, durante três meses. Para cativar os utilizadores, a Apple oferece este tempo de acesso gratuito a quem tenha um equipamento da empresa e queira experimentar o serviço (foi a modalidade que usámos).

Se gostar do serviço, pode optar por pagar 4,99 euros mensais ou 49,99 euros anuais para continuar a usufruir dele. Isto é tudo feito através da App Store, que tem uma secção dedicada ao Arcade.

Tenho de ter atenção a alguma coisa se quiser experimentar?

Sim. Durante este período é possível instalar e desinstalar todas as apps do Apple Arcade as vezes que quiser. Porém, não se esqueça de cancelar o serviço antes da renovação automática começar. Caso contrário, é-lhe debitado o valor mensal da subscrição quando o prazo acaba (sim, o velho problema de sempre).

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Mas o Apple Arcade vale ou não a pena?

Resumidamente, a resposta é não. Ao todo, experimentámos cerca de 15% de todas as aplicações de jogos. A maioria dos títulos que experimentámos são exclusivos do serviço, como: “Lego Builder’s Journey”, uma história em formato Lego sobre um pai e um filho); o já referido “Star Trek: Legends”, uma aventura do conhecido universo de ficção científica; ou até jogos mais casuais como “Cut the Rope Remastered”. Mesmo assim, a sensação final foi: não dava já para jogar muitos títulos semelhantes a estes de forma gratuita?

[O vídeo de apresentação do Apple Arcade]

A resposta à pergunta acima é sim. O Apple Arcade tem vários jogos exclusivos e a vantagem de não haver a insistência constante no ecrã para que pague compras integradas em nenhuma apps. Este tipo de vendas é uma coisa cada vez mais comum nos jogos gratuitos das lojas digitais, conhecidos como “freemium” (grátis – “free”, em inglês — mas que incentivam a um pagamento “premium“).

Tanto a App Store e outros concorrentes, como a PlayStore, da Google, têm ofertas pagas para que se jogue grande parte dos jogos sem anúncios. Afinal, estão a vender um produto. Além disso, mesmo que não ceda à tentação de pagar, muitos destes jogos freemium são perfeitamente jogáveis sem muitas interrupções.

Esta explicação serve para chegar à principal crítica quanto ao Apple Arcade: a biblioteca de jogos. Desde o início desta análise (em julho), muitas vezes bastou um nível para desinstalar um jogo e passar ao próximo. Ou seja, os jogos não são todos cativantes. Aliás, poucos prenderam realmente por mais do que umas horas — a exceção foi o “Wonderbox” e o “Monument Valley+”. Já os que o fizeram, acabaram em poucas horas de jogos. Não houve experiências como a que jogos pagos à parte na App Store — como é o caso do “Minecraft”, ou até de jogos freemium  como “PUB: Battlegrounds” — oferecem. E isto podendo dizer com segurança que experimentámos os principais títulos que o serviço tem para oferecer. Até porque instalámos todos os que o serviço sugeriu para nos cativar.

[Abaixo, pode ver o trailer do “LEGO Builder’s Journey”, um jogo que era exclusivo do Apple Arcade e ficou disponível em mais plataformas]

Se usássemos o mesmo montante da subscrição para comprar outras apps de jogos na App Store, sentimos que podíamos ficar mais bem servidos. Não há um jogo de simulação cativante ou jogos de tiros que prendam por dias e dias. E vasculhámos a biblioteca toda para ver se os encontrávamos para instalar.

Qual é a vantagem do Apple Arcade?

A grande vantagem do Apple Arcade é que oferece várias apps de jogos por uma prestação mensal única. Por exemplo, para quem tem filhos que entretém demasiadas vezes com um iPad, pode ser uma solução para não repetir sempre os mesmos jogos. Contudo, a App Store já tem milhares de apps para entreter gratuitamente. E, se se olhar para a concorrência, outros serviços de subscrição de jogos, seja o PS Now ou até, devido aos jogos mais antigos que oferece, o Nintendo Switch Online, podem ser mais cativantes.

Se o Apple Arcade aumentar a biblioteca de jogos e tiver títulos mais interessantes, até como os que já referimos, poderá ser mais interessante. Contudo, no final, a sensação que deixa é que, pelo valor, mais vale escolher mensalmente uma ou duas apps que ficam disponíveis na conta Apple do utilizador mesmo após o fim da subscrição.