“Estava muito nervoso. Talvez nem o tenha mostrado mas estava… A receção foi incrível. Estou aqui para ganhar jogos, para ajudar a equipa e para colocar o clube no topo de novo”. Tanto ou mais do que os golos marcados na goleada ao Newcastle, as lágrimas da mãe Dolores Aveiro ou as milhares de camisolas com o número 7 que invadiram Old Trafford no sábado, a entrevista de Ronaldo na flash interview da Sky Sports não demorou a tornar-se um dos assuntos da semana. Que o avançado é um homem de sentimentos, todos tinham percebido naquele caminho do meio-campo até ao acesso aos balneários ao intervalo, acabadinho de marcar o primeiro golo depois do regresso. Que estava tão ansioso, isso acabou por ser a “surpresa”.

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“Claro que tudo isto é especial. Todos sabem que o futebol aqui é diferente de todos os lados do mundo. Joguei em muitos sítios e para ser sincero o inglês é o mais especial. Eu pertenço a Manchester, cheguei aqui com 18 anos, trataram-me de forma incrível e foi por isso que voltei. Estou muito orgulhoso por estar aqui”. Foi um momento incrível. Estava muito nervoso. Ontem [sexta-feira] à noite estava a pensar no que queria – jogar bem e mostrar que ainda sou capaz de ajudar a equipa. Quando comecei o jogo estava super nervoso, especialmente quando disseram o meu nome, mas estes adeptos são incríveis. Sinto-me tão orgulhoso, vou dar tudo de mim para que eles também se sintam orgulhosos de mim”, salientou.

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Não diria que estou emocionado mas é entusiasmante. E sinto alívio, porque não conseguia imagina-lo a jogar pelo Manchester City, acho que ninguém conseguia. Foi por isso que tivemos que tomar atitudes para garantir que ele viesse. Muitas pessoas ajudaram a trazer o Ronaldo de volta e eu contribuí, pois sabia que ele realmente queria voltar para cá e isso era importante. Funcionou muito bem”, comentou o ex-técnico Alex Ferguson à TV3 Sport da Dinamarca.

O United iniciou uma nova era, tanto que Avram Glazer, norte-americano que é o dono do clube, voltou a Old Trafford dois anos depois, um hiato onde se tornou persona non grata a ponto de haver mesmo a invasão de campo antes de um jogo na última época após a ideia abortada de uma nova Superliga Europeia. Mas essa foi apenas uma das histórias que sobrou de um 11 de setembro de 2021 que não mais será esquecido na cidade de Manchester. E a mais curiosa acabou por chegar do jantar no estágio da equipa.

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“Isto aconteceu na sexta-feira à noite, na reunião de grupo no hotel. Como vocês sabem, acabamos de jantar e normalmente temos algumas sobremesas e coisas ‘menos boas’. Temos tarte de maçã, brownies com creme, e outras coisas. Posso garantir que não houve um único jogador que tenha tocado na tarte de maçã e ninguém se levantou para ir buscar o brownie. Toda a gente ficou sentada e um dos jogadores até me perguntou: ‘O que é que o Cristiano tem no prato?’. Estávamos a espreitar o que ele tinha e claro que era a coisa mais limpa, o prato mais saudável que se consiga imaginar. Fartei-me de rir porque ninguém se atreveu a comer sobremesa”, contou Lee Grant, guarda-redes suplente do Manchester United, à rádio talkSPORT.

Em paralelo, o experiente guarda-redes de 38 anos, que chegou ao clube em 2018 após várias passagens por clubes mais modestos, revelou também que Ronaldo não só alinhou na habitual praxe para os estreantes como se esmerou para ser o melhor. “Todos sabem como funciona: tens uma colher, sobes para a cadeira e cantas. O Varane fê-lo, o Jadon [Sancho] também e depois foi o Cristiano. Estávamos todos com dúvidas se ia fazer mas meteu-se em cima da cadeira e foi brilhante. Claro que não vou revelar tudo o que disse mas foi interessante o facto de ter referido que estava nervoso, tal como fez depois do jogo. Estava incrivelmente entusiasmado por jogar, é uma superestrela que está completamente fascinada por voltar”, explicou.

“Todos sabem aquilo que o Cristiano Ronaldo trouxe ao clube e estamos muito felizes por tê-lo connosco. O mais importante, como ele dirá, é o resultado da equipa. Os bons jogadores podem sempre jogar juntos”, tinha dito logo após o encontro o também português Bruno Fernandes, autor do melhor golo na goleada do Manchester United frente ao Newcastle. E o 4-1 ficou fechado por Jesse Lingaard, internacional inglês que foi um dos mais emocionados ao jogar ao lado do número 7. “Sonhem, crianças grandes”, escreveu nas suas redes sociais com uma imagem onde estava a trocar algumas bolas num treino com o português em 2003.

Agora, as atenções já estão centradas na primeira jornada da Liga dos Campeões, com o Manchester United a defrontar na Suíça o Young Boys num encontro em que Ronaldo tem mais um recorde garantido, neste caso ao empatar com Iker Casillas no ranking de jogadores com mais jogos disputados na Liga dos Campeões. E com a certeza de que, aos 36 anos, mais recordes estarão para chegar, mesmo não sejam os verdadeiros “recordes”: o português fez um sprint a mais de 32 km/hora para marcar o segundo golo ao Newcastle após assistência de Luke Shaw, um registo próximo do máximo de Stuart Armstrong (Southampton).