Não, o problema não foi da sua internet, computador ou smartphone. Por muito estranho (e altamente improvável) lhe possa parecer, o Facebook e as aplicações da empresa caíram todas ao mesmo tempo — e em todo o mundo. Esta terça-feira, a empresa já veio esclarecer que não se tratou de um ataque de piratas informáticos, mas de um erro interno.

Facebook, WhatsApp, Instagram, Messenger e Oculus (a aplicação de realidade virtual) estiveram em baixo, pelo menos, desde as 16h30 (hora de Lisboa), segundo as queixas registadas no Down Detector — que ultrapassaram os 10 milhões de registos a nível mundial. A rede social Facebook disse que “a causa principal da interrupção foi uma alteração de configuração defeituosa”. A empresa indicou, na segunda-feira à noite, ainda não haver “provas de que os dados dos utilizadores tenham sido comprometidos como resultado” da interrupção.

Pelas 23 horas, as redes começam a dar sinais de querer regressar, mas lentamente e sem funcionarem plenamente. O Facebook anunciou o tão aguardado regresso via Twitter, mas nem todos os utilizadores conseguiram fazer uso da aplicação.

Durante o apagão, os próprios trabalhadores da empresa não conseguiam aceder às ferramentas de comunicação interna, nem tão pouco entrar nos edifícios ou salas de conferência porque os cartões de acesso não funcionavam, escreveu uma jornalista do New York Times no Twitter. Pior, os engenheiros de segurança, que poderiam tentar identificar e resolver o problema, não conseguiam aceder aos servidores.

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Internamente, o Facebook fez chegar um relatório aos funcionários que identificava a interrupção como de “alto risco para as pessoas, risco moderado para os ativos e alto risco para a reputação do Facebook”, escreveu o New York Times depois de ter acesso ao documento.

Reputação essa que já estava fragilizada com as declarações de uma denunciante que acusa a empresa de conhecer os riscos do Instagram, sobretudo para as adolescentes, mas continuar a privilegiar os lucros.

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A riqueza pessoal do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, caiu em mais de seis mil milhões de dólares, após o apagão que se fez sentir durante mais de seis horas. De acordo com a Bloomberg, Mark Zuckerberg desceu um degrau na lista dos mais riscos do mundo.

Uma liquidação fez com as ações do gigante tecnológico caíssem na segunda-feira 4,9%, somando-se a uma queda de cerca de 15% registada desde meados de setembro. A queda das ações, na segunda-feira, fez com que o valor de Mark Zuckerberg descesse para 121,6 mil milhões de dólares, ficando abaixo do fundador da Microsoft, Bill Gates, na quinta posição no índice Bloomberg Billionaires. Mark Zuckerberg registava 140 mil milhões de dólares em setembro, segundo o índice.

Com paralisação das redes sociais, não foi só Mark Zuckerberg a ressentir-se. A organização não governamental NetBlocks, que se dedica à cibersegurança, calculou uma “estimativa aproximada” de que a economia global está a perder 160 milhões de dólares, devido a perda de receita do Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp. A economia mundial perdeu mais de 950 milhões de dólares, após as mais de seis horas de problemas técnicos na empresa de Mark Zuckerberg.

Redes sociais tiveram de ir à concorrência pedir desculpa pelo problema

Quase uma hora depois de detetadas as falhas, as redes sociais começaram a deixar notas no Twitter a dizer que estavam a trabalhar para resolver o problema.

O próprio diretor de tecnologia do Facebook, Mike Schroepfer, pediu desculpa pelas interrupções através do canal da concorrência, o Twitter. “Estamos com problemas de rede e as equipas estão a trabalhar para depurar e restaurar o mais rápido possível”, escreveu.

A interrupção durante várias horas, que nos Estados Unidos começou ao final da manhã de segunda-feira (já final de tarde em Portugal), prejudicou muitos negócios e profissionais que dependem quase exclusivamente destas plataformas no seu dia a dia.

A descrição dos erros dada pela empresa é, no entanto, vaga e ainda não se sabe o que poderá ter causado as interferências nas aplicações do grupo. Os especialistas ouvidos por vários jornais, no entanto, dizem que será mais do que os “problemas de rede” referidos por Mike Schroepfer.

O que se terá passado com o Facebook?

“As potenciais causas são inúmeras”, alerta Miguel Correia, especialista em Engenharia Informática à rádio Observador, que descarta, no entanto, que se tenha tratado de um ataque por piratas informáticos. “Numa empresa como o Facebook é improvável, porque estão muito bem protegidos.”

Além disso, cada uma das redes sociais tem uma tecnologia diferente tornando difícil que um único ataque afetasse todas as aplicações ao mesmo tempo, disseram especialistas de cibersegurança do Facebook ao jornal The New York Times.

Redes Sociais em baixo. “Ataque de hackers é improvável”

Sobre o tempo que poderia demorar a resolver o problema, Miguel Correia não conseguiu fazer uma previsão, uma vez que uma situação como esta pode ir de alguns minutos, a poucas horas ou, na pior das hipóteses, alguns dias. Neste caso, foram mais de seis horas.

Os sistemas são altamente complexos, têm milhares de milhões de utilizadores e centenas de milhares de computadores em todo o mundo, o que justifica o tempo necessário a identificar e resolver o problema, explica o professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.

Quatro horas bastariam para resolver um potencial erro no protocolo BGP (Border Gateway Protocol) — um protocolo-chave usado para obter a redundância da conexão com a Internet —, segundo um especialista ouvido pelo jornal El País.

Se alguma vez chegaremos a saber o que aconteceu, Miguel Correia tem dúvidas. Ao contrário da Google, Microsoft ou Amazon que elaboram longos relatórios sobre os problemas identificados e a sua resolução, o Facebook costuma manter essas questões em segredo.

O Facebook não costuma dar muitos detalhes sobre que aconteceu e ainda menos quando está a acontecer e estão a tentar concertar”, responde o engenheiro informático.

Posto isto, Miguel Correia arrisca “o suspeito do costume”: o sistema de nomes de domínio (DNS, em inglês). “Quase tudo na internet é baseado em DNS”, por isso, quando se verificam problemas neste sistema “geralmente são catastróficos”, diz o professor. “Apesar de não impedirem a comunicação, impedem a forma como as pessoas utilizam os computadores.”

John Graham-Cumming, diretor de tecnologia da Cloudflare, disse ao New York Times que o mais provável é que fosse uma configuração incorreta dos servidores do Facebook. Grosso modo, seria como retirar o número de telefone de cada pessoa da agenda de contactos tornando-se impossível ligar para elas — assim como se tornou impossível aceder ao Facebook e outras aplicações através do endereço que normalmente usamos.

E foi mesmo isso: esta terça-feira, a empresa explicou que e “a causa principal da interrupção foi uma alteração de configuração defeituosa”. Mas, tal como Miguel Correia previa, o Facebook não deu mais detalhes sobre o motivo do apagão, nomeadamente quem foi o responsável pela alteração ou se esta mudança foi propositada.

Entretanto, já na terça-feira, o Facebook excluiu a hipótese de o “apagão” mundial dos seus serviços na segunda-feira, durante seis horas, se ter devido a um ataque informático e atribuiu-o a um erro técnico causado pela própria empresa.

Num blogue da empresa o vice-presidente de infraestruturas da rede social Facebook, Santosh Janardhan, afirmou que os serviços não ficaram inativos por atividade maliciosa. Foi por “um erro causado por nós próprios”, disse.

Segundo a empresa de Menlo Park, cidade da Califórnia, os esforços que têm sido feitos nos últimos anos para proteger os sistemas de possíveis ataques externos foram uma das causas que fizeram demorar o tempo de resposta para resolver o problema.

“Acredito que se o preço a pagar por uma maior segurança do sistema no dia-a-dia é uma recuperação mais lenta dos serviços, vale a pena”, disse Santosh Janardhan no blogue.

Os memes sobre o apagão

Facebook, WhatsApp e Instagram tiveram de recorrer à concorrência (Twitter) para comunicarem com os utilizadores, que não deixaram as redes sociais sem respostas humorísticas. Aqui ficam algumas delas (incluindo do próprio Twitter).

3 fotos

“Olá a todos, literalmente”, escreveu o Twitter. Ao que o Instagram respondeu com uma cara pouco satisfeita: “Olá e boa segunda-feira”. Mas há quem tenha arranjado uma solução para rever as publicações dos amigos no Instagram.

O antigo astronauta Terry Virts juntou-se à conversa, brincando que na Estação Espacial Internacional também não era possível aceder ao Facebook e Instagram.

Com as redes sociais do grupo Facebook em baixo, muitos internautas brincaram com a debandada geral de utilizadores para o Twitter, com o Twitter a celebrar ou com dicas sobre como reparar o sistema.

Atualizado com a informação acerca das perdas para o Facebook e para a economia mundial e com a causa do apagão
Última atualização às 9h55