Vai crescendo a ideia de uma iminente crise política, depois dos parceiros de esquerda darem uma primeira nega ao Orçamento, e é neste contexto que surge o ministro de Estado e da Economia a falar de “humildade democrática: o PS não tem maioria no Parlamento e precisa de construir os compromissos necessários para mudar isso“. Pedro Siza Vieira recusa a ideia de o Governo “estar a guardar cartas para jogar na altura certa” na negociação do Orçamento, assume que as reações dos parceiros parlamentares estão a ser “levadas a sério”, que não quer conversas alternativas com o PSD, mas também diz à esquerda que o país “não perceberia” que não se entendessem agora.

“O nosso estrito dever é continuar estas negociações”. O ministro garantiu, em entrevista à RTP esta quarta-feira, que “leva a sério as mensagens e sinais que os partidos vão passando” e que este não é “um ritual com desfecho certo, é um exercício sério onde os partidos estão empenhados”, confia. Por isso garante que a ideia é continuar a negociar até à votação final global do Orçamento do Estado, mostrando disponibilidade do Governo para chegar a entendimentos e evitar o que está convencido que os portugueses (e os investidores) não querem: uma crise política no país.

“Tenho a absoluta convicção que os eleitores destes três partidos [PS, BE e PCP] não perceberiam que depois de ultrapassada uma crise tão dramática (…) estes partidos não fossem capazes de viabilizar uma proposta de Orçamento que aumenta o investimento público, apoia o investimento privado, melhora os rendimentos das famílias, aposta nos mais jovens e melhora o SNS”. O ministro admite, no entanto: “Se calhar precisamos de fazer um esforço aqui ou ali”. 

Evita falar de “margem” porque “parece que se está aguardar cartas para jogar na altura certa”. Refere que o processo negocial “exige disponibilidade de ambas as partes” e descreve-o como “um exercício de humildade democrática”, tentando baixar a tensão entre as partes envolvidas no processo. Há um lado que Siza recusa já que seja parte deste processo: o PSD. Quando questionado sobre a possibilidade de o Governo vir a recorrer à carta PSD para viabilizar a proposta, o ministro atira: “Neste momento nem vejo que ela se justifique. Vamos tentar fazer o que fizemos em percursos anteriores”.

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Quanto à negociação com a esquerda e o “aqui e ali” que admite que possa a vir ser alvo de acertos, Siza Vieira coloca o estatuto dos trabalhadores do SNS como “uma matéria que tem de ser detalhada e aprofundada” e a dedicação plena do pessoal médico como uma área onde “se pode fazer caminho”. E reforçou que se o Orçamento não for aprovado o que consta será perdido.

A dramatização é um nível de argumentação em que o Governo tem vindo a escalar nas últimas horas para pressionar a esquerda e Siza foi mais um governante que veio carregar nas tintas ao sublinhar que, caso o OE para 2022 seja chumbado, “havia uma vantagem no bolso das pessoas que se deixava de sentir”, referindo-se em concreto às medidas que visam reforçar rendimentos e que vêm inscritas na proposta.

Isto além dos “aspectos intangíveis” onde o ministro da Economia coloca a confiança das empresas para investirem em Portugal. Como a voz do Governo mais perto das empresas e dos investidores, refere o valor da “estabilidade política e a previsibilidade das decisões públicas” como um dos pontos que tem jogado a favor de Portugal junto de quem investe no país.

Além disso refere também o “peso mais significativo da dívida pública que exige responsabilidade nos próximos anos”. O ministro diz que o nível de endividamento subiu cerca de 40 mil milhões e euros por causa da pandemia e para o Governo fazer face às medidas necessárias para apoiar a economia, mas que “vamos ter de pagar esses compromissos de endividamento” e continuar a trajetória de controlo da dívida.

Rejeita que o ambiente interno com o ministro das Finanças seja pior do que já foi no passado, ainda que admita a existência de “discussões vivas”. No final, diz, há “uma proposta em que o Governo se reconhece e que é uma excelente base para continuar o trabalho de aperfeiçoamento até à votação final global” do Orçamento na Assembleia da República. Mas isso só virá no final de novembro, para chegar lá o Governo terá de fazer a proposta passar no dia 27 de outubro, data da primeira votação parlamentar.