O ténue eclipse de uma estrela situada fora da Via Láctea, a 28 milhões de anos-luz do Sistema Solar, pode ter revelado aos cientistas o primeiro exoplaneta identificado noutra galáxia. Batizado de M51-ULS-1b, o corpo celeste orbita numa estrela na Messier 51, também conhecida como Galáxia do Redemoinho.
Até agora, já se confirmou a existência de cerca de 4.000 exoplanetas — planetas que orbitam estrelas que não o Sol —, mas todos eles ficavam a menos de 3.000 anos-luz da Terra. Agora, os cientistas do Centro Harvard-Smithsonian para a Astrofísica, com o apoio de telescópios da NASA, queriam encontrá-los fora da vizinhança estelar do Sol.
A equipa de cientistas liderada Rosanne Di Stefano decidiu então vasculhar o espaço em três galáxias e concentraram-se em 55 estrelas na Galáxia do Redemoinho, 64 na Galáxia do Cata-Vento (a sete milhões de anos-luz de distância) e 119 na Galáxia do Sombreiro (à mesma distância que a Messier 51).
Foi numa das estrelas da Galáxia do Redemoinho que detetaram um sinal promissor: observando com minúcia o brilho dela, Rosanne Di Stefano reparou numa discreta e curta diminuição nas emissões de raios-X, tal como acontece com o Sol sempre que um corpo celeste se atravessa entre a nossa estrela e o planeta; ou tal como observado quando se descobriram exoplanetas na Via Láctea.
O suposto eclipse durou cerca de três horas e permitiu aos astrofísicos teorizar que o alegado planeta deve orbitar um buraco negro em torno do qual gira uma estrela de neutrões. O corpo deve ter um tamanho aproximado ao de Saturno e está à mesma distância do centro do seu sistema que o planeta dos anéis está do Sol.
Agora, a equipa de Rosanne Di Stefano aguarda que outros cientistas olhem para os dados e confirmem a interpretação que fizeram — outra hipótese em cima da mesa era que a diminuição nos raios-X tenha sido causado pela mera passagem de nuvem de gases e poeiras, por exemplo.
Mas a confirmação de que este é mesmo um exoplaneta extragalático pode demorar sete décadas a chegar. É que, se o corpo celeste tiver as características estimadas pelos cientistas, só mesmo dentro de 70 anos é que ele passará novamente entre a estrela que orbita e os telescópios no planeta Terra.
Mas a equipa está preparada para o escrutínio e para a espera: “Sabemos que estamos a fazer uma afirmação empolgante e ousada, por isso esperamos que outros astrónomos a examinem com muito cuidado”, assumiu uma das coautoras do estudo, Julia Berndtsson: “Achamos que temos argumentos fortes e este processo é como a ciência funciona”.