É uma espécie de “maldição” recente que o Sporting tem enfrentado nas últimas épocas — o Sporting e também Rúben Amorim. E era esse borrego, como se diz na gíria, que os leões procuravam matar esta terça-feira, na receção ao Famalicão, na estreia dos verdes e brancos na Taça da Liga, no Estádio de Alvalade. Isto porque desde que o Famalicão voltou à I Liga, em 2019/2020 (16 anos depois), o Sporting leva cinco jogos sem vencer o conjunto famalicense, os últimos três já com Amorim no banco de suplentes e onde o Sporting não foi além do empate. Já esta época, o Sporting deslocou-se a Vila Nova de Famalicão na 4.ª jornada do campeonato para, lá está, somar mais um empate (1-1).

O jogo desta noite tinha ainda a particularidade que advém das características desta edição da Taça da Liga: o facto de os grupos serem de três equipas fazia com que uma vitória do Famalicão significasse o apuramento para a final four da competição, deixando desde logo os leões, detentores do troféu, fora da corrida. É que os famalicenses já tinham ganho por claros 5-0 ao Penafiel, o outro elemento do grupo. Assim, em caso de empate, o Sporting teria de ir a Penafiel ganhar, pelo menos, por 5-0, o que é sempre, independentemente do adversário, uma tarefa complicada.

E era com todos estes pormenores que Alvalade recebia uma equipa non grata devido aos tais últimos resultados e que nos últimos cinco jogos havia marcado um total de 14 golos. No entanto, a primeira vitória do Famalicão no campeonato, que não está a ser muito positivo, veio apenas no último fim de semana, no campo do Santa Clara, que esta terça-feira deixou o FC Porto fora da luta pela competição, por 2-0.

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Sem surpresas, no entanto, a história dizia que o Sporting tinha clara vantagem nos jogos entre as duas equipas, com 19 vitórias em 26 jogos, tendo sofrido apenas duas derrotas, as duas na tal edição 2019/2020 da I Liga, no regresso do Famalicão.

Na antevisão, Rúben Amorim destacou que para o Sporting a Taça da Liga conquistada na época passada, “o primeiro troféu da temporada”, foi “muito marcante para o clube”. “Não é por sermos os campeões em título que nos dá mais responsabilidade. É importante ir à final four, é um momento importante, são as fases finais das competições e o Sporting tem de lá estar. E para isso tem de vencer uma equipa que ainda não venceu, uma equipa muito boa, que vem moralizada de uma vitória. Mas jogamos em nossa casa. Temos todas as condições para ganhar o jogo, porque aprendemos com o último jogo [com o Famalicão], eles também, de certeza. Estaremos preparados para dar uma resposta melhor”, frisou o treinador dos leões.

Sobre o facto de ainda não ter ganho ao Famalicão, Rúben Amorim diz que “vale o mesmo do que o borrego das competições europeias, até porque isto muda tudo de um momento para o outro”. O treinador do Sporting deixou antever alterações na equipa e estas confirmaram-se, relativamente ao último jogo do campeonato frente ao Moreirense: entraram João Virgínia, Neto, Feddal, Esgaio, Ugarte, Matheus Nunes, Vinagre e Jovane, para a saída de Adán, Coates, Matheus Reis, Porro, Palhinha, Daniel Bragança, Paulinho e Pote.

E mesmo com tantas alterações, que também aconteceram no Famalicão, com Ivo Vieira a repetir apenas três jogador em comparação com o jogo nos Açores (Luíz Júnior, Pêpê e Marcos Paulo), o Sporting entrou com intensidade mas, acima de tudo, com um controlo total do jogo. O Famalicão sempre tentou ter uma equipa curta e defender em cima da linha do meio-campo, mas os leões conseguiram jogar por fora durante toda a primeira parte, desviando-se facilmente da pressão adversária e chegando ao golo, com alguma sorte, é verdade, mas de forma justa, logo aos 8′, por Ugarte, que marcou assim à antiga equipa. O remate de fora da área ainda desviou em Pickel, mas o jovem médio uruguaio, esta terça-feira a jogar no lugar de Palhinha, foi rápido a chegar a uma segunda bola e colocou os leões na frente.

Com bola, o Famalicão esteve longe de estar bem e, num jogo em que um bom resultado podia significar chegar à final four da Taça da Liga, os famalicenses ficaram àquem no jogo com bola, tendo sempre muita pressa e pouca posse. Apenas aos 36′ os minhotos criaram algum frisson na área do Sporting, mas antes disso já Sarabia (que rodou muito no ataque juntamente com Jovane e Nuno Santos) tinha cabeceado com algum perigo para uma defesa de Luís Júnior. O Sporting, sempre controlador, acabou por deixar baixar o ritmo de jogo, mas sempre a seu bel-prazer, estando bem defensivamente e rápido na resposta à perda de bola e na transição defensiva. O intervalo chegaria com os leões em vantagem de forma justa, mas sem nada garantido, até porque o Famalicão deixava algo a desejar para uma equipa na sua posição ao arranque para esta segunda jornada do Grupo B.

Ivo Vieira via o jogo também dessa foram e, ao intervalo, colocou Pedro Brazão, Ivan Jaime e Heriberto em campo, os últimos dois habituais titulares, com o objetivo claro de melhorar a produção ofensiva da equipa. E enquanto o Sporting parecia entrar com o mesmo ritmo com que acabou a primeira parte, os forasteiros tentavam mais e melhor, mas o primeiro remate, do jovem espanhol Ivan Jaime, foi direto para a bancada. Estavam decorridos 10′ e notava-se que o Famalicão estava um pouco mais agressivo, com e sem bola. Também por isso, Pote saiu do banco pouco depois.

Por volta da hora de jogo, o Famalicão consegue uma boa saída, talvez a melhor do encontro e confirmando algum aumentar da qualidade, mas o Sporting é uma grande equipa e essas precisam de pouquíssimas oportunidades para marcar ou decidir jogos. Aos 62′, talvez na fase menos conseguida dos leões durante o jogo até então, Nuno Santos fez o 2-0 após uma defesa incompleta de Luíz Júnior. Destaque na jogada do remate certeiro do canhoto para Matheus Nunes, grande responsável pela insistência da equipa na jogada e autor de (mais) uma boa exibição, provavelmente a melhor dos leões.

O Famalicão reagiu bem ao golo, percebendo e bem que não tinha mesmo nada a perder por esta altura, com os mais criativos, como Ivan Jaime ou Ivo Rodrigues a tentarem fazer também alguma diferença no jogo. Mas uma diferença de dois golos parecia já algo impossível de virar e o Sporting conseguiria com esse remate certeiro colocar muito gelo no encontro, controlando com qualidade e o ritmo desejado. O jogo parecia ir decorrer assim até ao apito final, mas Pedro Brazão ainda assustou Alvalade, reduzindo para 2-1 aos 90 minutos de jogo. O Famalicão ainda festejou o empate, mas Riccieli estava em fora de jogo, para alívio de todo o estádio (e do banco dos leões). Os últimos minutos foram, quando nada fazia prever, algo frenéticos, com muito barulho vindo das bancadas e bolas paradas da equipa visitante, mas tudo acabou dentro do que era justo.

Os leões vencem a equipa de Vila Nova de Famalicão cinco jogos depois e num encontro importante, que podia ter valido ao adversário uma presença na final four da Taça da Liga. Um empate frente ao Penafiel colocará o Sporting mais uma vez na fase final da competição que conquistou o ano passado, o primeiro troféu da época do regresso aos títulos nacionais. Rúben Amorim desvalorizou antes do jogo o “borrego” e este acabou por ser morto com qualidade e eficácia.