O Sporting foi goleado pelo Ajax em Alvalade ainda a meio de setembro, num desaire que travou o entusiasmo leonino pelo regresso à Liga dos Campeões e ofereceu um banho de realidade que a equipa de Rúben Amorim nunca tinha enfrentado. Seguiram-se vitórias tangenciais e conquistadas já nos últimos minutos contra o Estoril e o Marítimo, uma nova derrota europeia perante o Borussia Dortmund e reinava uma única ideia: o pesado trambolhão contra os neerlandeses, numa fase ainda embrionária da temporada, poderia ter ditado um destino pouco agradável para os leões.

Em outubro, contudo, o Sporting fez questão de rejeitar essa teoria. A equipa de Amorim somou seis vitórias consecutivas para todas as competições — Campeonato, Liga dos Campeões, Taça de Portugal e Taça da Liga — e até aproveitou um deslize do Benfica para saltar para a liderança da Primeira Liga em igualdade pontual com o FC Porto. Era neste contexto, claramente na melhor fase da época, que o Sporting recebia esta quarta-feira um Besiktas que havia goleado em Istambul duas semanas antes. Mas o treinador não confiava em qualquer tipo de balanço ou bagagem para fazer contas contra os turcos.

Ficha de jogo

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Sporting-Besiktas, 4-0

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Sergei Karasev (Rússia)

Sporting: Adán, Gonçalo Inácio, Coates, Feddal, Pedro Porro (Ricardo Esgaio, 17′), Matheus Reis (Rúben Vinagre, 72′), Matheus Nunes (Daniel Bragança, 59′), João Palhinha, Sarabia, Paulinho (Nuno Santos, 59′), Pedro Gonçalves (Jovane, 72′)

Suplentes não utilizados: André Paulo, João Virgínia, Bruno Tabata, Luís Neto, Manuel Ugarte

Treinador: Rúben Amorim

Besiktas: Ersin Destanoglu, Necip Uysal, Welinton, Montero (Alex Teixeira, 45′), Ridvan Yilmaz, Mehmet Topal, Souza, Ghezzal (Gökhan Töre, 78′), Hutchinson (Salih Uçan, 61′), Larin (Bozdogan, 61′, Özyakup, 83′), Kenan Karaman

Suplentes não utilizados: Gunok, N’Sakala, Saatçi, Meras

Treinador: Sergen Yalçın

Golos: Pedro Gonçalves (gp, 31′ e 38′), Paulinho (43′), Sarabia (56′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Souza (50′ e 90′); cartão vermelho por acumulação a Souza (90′)

“Nos primeiros 15 minutos de jogo na Turquia quase não tivemos bola, o Besiktas podia ter feito golo e o jogo teria sido diferente. Nós marcámos de bola parada, sofremos de bola parada e voltámos a marcar logo a seguir. O jogo foi ao encontro das nossas características, visto que somos bons a defender e a fazer transições. Não há qualquer ilusão, vai ser um jogo muito difícil, onde temos de ser melhores do que fomos na Turquia, principalmente através da posse de bola (…) Favoritismo, não há. Interessa pouco. Da mesma forma que ganhámos na Turquia, o Besiktas também pode ganhar aqui. É essa a mentalidade mas queremos ganhar. Jogámos bem na Turquia, agora queremos jogar melhor. Estamos cada vez mais preparados”, explicou Rúben Amorim.

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Certo é que, em Alvalade, o Sporting podia dar um passo praticamente decisivo em relação à garantia, pelo menos, do lugar de acesso à Liga Europa. Em termos mais otimistas, os leões também podiam esperar que o Ajax voltasse a derrotar o Borussia Dortmund, desta feita na Alemanha, e assim aproximar-se de uma posição de apuramento para os oitavos de final em cenário de vitória contra o Besiktas. Ora, com Tiago Tomás a ser a única baixa, Rúben Amorim decidiu não mexer naquela que é atualmente a equipa-tipo do Sporting e repetiu o onze inicial que derrotou o V. Guimarães no fim de semana. Do outro lado, destacavam-se as ausências de Pjanic, Batshuayi, Vida e Rosier, todos lesionados, e o regresso do ex-FC Porto Souza, que voltou depois de ter recuperado de um problema físico.

O jogo começou vivo mas sem grandes aproximações às balizas, com as duas equipas a discutirem a posse de bola no meio-campo e o Sporting a explorar essencialmente a profundidade nas costas da defesa turca. O primeiro momento mais perigoso dos leões acabou por dar o tom para aquilo que seria a partida até ao intervalo: na sequência de um lançamento de linha lateral, Paulinho apareceu muito solto à entrada da grande área e tentou desviar da cabeça para Sarabia, que já surgia em velocidade na esquerda. Os erros de posicionamento defensivo do Besiktas eram claros e notórios, assim como haviam sido em Istambul, e a equipa de Rúben Amorim ia tentando aproveitar essas fragilidades através de uma pressão alta que provocava erros e assegurava recuperações em zonas adiantadas.

Ainda antes de estarem cumpridos 10 minutos, Paulinho teve a primeira grande oportunidade do jogo, ao acertar no poste na sequência de um cruzamento de Sarabia (9′). Logo depois, o avançado voltou a desperdiçar uma ocasião mas devido a uma defesa de Destanoglu (10′), novamente ao segundo poste e novamente depois de uma grande assistência do jogador espanhol. Coates tentou repetir o êxito da Turquia ao cabecear depois de um canto, com o guarda-redes adversário a defender (12′), e o Sporting foi dominando o jogo durante o quarto de hora inicial, altura em que o encontro acabou por mudar de características.

Logo depois de uma grande oportunidade para Larin, que apareceu na grande área após um cruzamento vindo da direita mas atirou à figura de Adán (14′), Pedro Porro ressentiu-se dos problemas físicos que tem sofrido ao longo da temporada e teve de ser substituído por Ricardo Esgaio. A alteração no corredor direito, associada ao melhor período do Besiktas no jogo, empurrou os leões para trás e motivou uma fase de superioridade turca em que tanto Hutchinson (27′) como Larin (28′) tiveram ocasiões para abrir o marcador. O Sporting respondeu por intermédio de Esgaio, que apareceu solto depois de um passe vertical de Pedro Gonçalves (23′), e acabou por beneficiar de uma grande penalidade cometida por Rıdvan Yılmaz sobre o mesmo Pedro Gonçalves para voltar a agarrar o encontro — e, desta feita, para não mais o largar.

O avançado português sofreu e converteu o penálti (31′), regressando aos golos oito jogos depois e estreando-se a marcar na Liga dos Campeões, e não precisou de esperar muito tempo para aumentar a vantagem. Depois de uma recuperação de bola de Coates, Matheus Nunes descobriu Pedro Gonçalves na grande área e o jogador até dominou menos bem para depois tirar o adversário da frente com uma finta e atirar em força para dentro da baliza (38′). Antes do intervalo e na sequência de uma transição rápida, o Sporting ainda dilatou o resultado, com Paulinho a receber de Esgaio na direita para atirar rasteiro a 20 metros da baliza e assinar mais um grande golo em Alvalade (43′). Tudo somado e o Sporting chegava ao final da primeira parte a vencer tranquilamente o Besiktas, com espaço para gerir a vantagem no segundo tempo e já com o recorde de ter marcado três golos em apenas 45 minutos em casa na Liga dos Campeões.

Logo no arranque da segunda parte, Sergen Yalçın deu a ideia de que ainda queria ir atrás do resultado e tirou Montero, um central, para lançar Alex Teixeira, um segundo avançado, recuando Topal para o eixo defensivo. Apesar da substituição, o Sporting manteve-se por cima do jogo e ficou perto de aumentar a vantagem logo nos primeiros minutos, com Sarabia a assinar um cruzamento que saiu à baliza e que acertou em cheio na trave (48′). João Palhinha também ficou perto de marcar, ao rematar forte para uma defesa atenta de Destanoglu (55′), mas o quarto golo estava mesmo reservado para o espanhol: Matheus Reis acelerou na esquerda e cruzou rasteiro para a grande área, Welinton fez um corte para trás para evitar o desvio de Pedro Gonçalves ao primeiro poste e Sarabia, na recarga, só precisou de atirar para a baliza deserta (56′).

Com a confirmação da goleada, Rúben Amorim começou a gerir a equipa e tirou Matheus Nunes e Paulinho para lançar Daniel Bragança e Nuno Santos, com o Besiktas a responder com as entradas de Salih Uçan e Bozdogan. O jogo entrou numa fase muito morna e sem grandes características em que os leões permitiam posse de bola aos turcos e preocupavam-se essencialmente em juntar as linhas para soltar o contra-ataque veloz em situação de recuperação. Os visitantes só ficaram perto de reduzir numa ocasião, com Ghezzal a cabecear por cima ao segundo poste (70′), enquanto que o Sporting viu Bragança atirar ao lado quando tinha tudo para fazer o quinto golo (77′).

Até ao fim, à exceção das substituições que ainda deram minutos a Rúben Vinagre e Jovane e do segundo cartão amarelo que expulsou Souza, já pouco aconteceu. O Sporting voltou a golear o Besiktas, somou a segunda vitória na fase de grupos da Liga dos Campeões, assegurou (pelo menos) a Liga Europa e aproveitou a vitória do Ajax na Alemanha para igualar o Borussia Dortmund e reentrar nas contas do apuramento para os oitavos — sendo que ainda tem de receber os alemães em Alvalade. Numa noite em que Pote voltou aos golos e Paulinho mostrou novamente que é feito para as noites europeias, ficou notório que esta equipa de Rúben Amorim move-se cada vez mais à lei de Sarabia: que cruza, faz assistências, desequilibra e marca golos.