Tornou-se viral nas redes sociais o vídeo de uma mulher a ser violentamente agredida pelo companheiro na casa onde vive o casal no Entroncamento, distrito de Santarém. A vítima, Yolanda Azevedo, de 30 anos, surge com o rosto e as mãos ensanguentadas num vídeo captado pelo alegado agressor, David Vicente, de 26 anos. O homem faz questão que a mulher mostre para a câmara do telemóvel, alegadamente dela, os ferimentos que lhe causou.

O caso foi denunciado pela ativista Francisca de Magalhães Barros, que em declarações ao Observador explica ter sido alertada por uma amiga da vítima. De acordo com os relatos que recebeu, o ataque aconteceu na noite de sábado: o agressor terá enviado o vídeo para alguém que, por sua vez, o encaminhou para a amiga de Yolanda às 23h26. O pai da vítima e uma segunda amiga dirigiram-se para a casa onde vive o casal enquanto chamavam as autoridades, que terão demorado 40 minutos a chegar ao local.

Ao Observador, a Polícia de Segurança Pública (PSP) confirma ter recebido um alerta para o caso, mas afirma que o agressor fugiu antes da chegada dos agentes, sem que estes tenham conseguido localizá-lo nas buscas que desencadearam de seguida. Esta não foi o primeiro episódio de violência doméstica entre os membros do casal que obrigaram à intervenção do casal, tanto que o suspeito já foi detido em situações anteriores. O Ministério Público foi informado pela PSP de todas as ocorrências, garantem as autoridades.

Entretanto, o Comando Distrital de Santarém confirmou também que “teve notícia de uma situação de agressões entre casal, numa residência particular”. Segundo o comunicado, os agentes encontraram a vítima “com vários ferimentos visíveis na face”. O agressor, embora tenha sido identificado, colocou-se em fuga e continua em parte incerta. A polícia elaborou um plano de segurança para a vítima e deu conhecimento do caso ao Departamentos de Investigação e Ação Penal de Tomar.
O comunicado da polícia confirma também a existência de processos anteriores de violência doméstica com este mesmo casal, todos entre 2020 e o início de 2021.

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Num dos ataques, David entrou na casa de Yolanda com uma catana e ameaçou-a de morte enquanto destruía o apartamento e lhe cortava as roupas. A história foi contada pelo pai da vítima, Paulo Azevedo, à TVI. Noutras ocasiões, o homem dirigia-se aos locais de trabalho da ex-namorada e chegou a destruir montras de lojas, o que se traduziu no despedimento da mulher, que tem uma cicatriz na testa à conta dos ataques de foi vítima.

Segundo os relatos que chegaram a Francisca de Magalhães Barros, e que foram partilhados com o Observador, Yolanda foi transferida para o Hospital de Abrantes e a médica que a assistiu apresentou queixa às autoridades. Recebeu alta por volta das cinco da manhã de domingo, mas voltou já ao longo do dia, após visitar a amiga que denunciou o caso — a violência doméstica é um crime público, qualquer pessoa o pode denunciar — , por ter começado a sangrar do nariz e por ter desenvolvido coágulos na boca. De acordo com a amiga, vai ser submetida a uma cirurgia na sequência dos murros que recebeu na zona do tórax.

Em declarações à TVI, a vítima explicou que o ex-companheiro, com quem manteve uma relação de dois anos, tinha estado num almoço e ficou embriagado. Os ataques começaram quando perguntou a Yolanda se pretendia acompanhá-lo à Feira da Golegã e esta lhe respondeu que não. “Houve uma altura” em que a vítima julgou mesmo que ia morrer, confessou em direto à jornalista no local.

Questionada sobre os motivos que a levam a retomar a relação com o agressor, apesar das constantes ameaças de cada vez que ela se aproxima de alguém, Yolanda justifica que tem pena do ex-namorado: “Às vezes tenho pena dele. Falo com ele, diz que nunca mais vai acontecer e eu volto lá“. O pai da vítima confirma que David “manobra-a de tal maneira que a miúda cai” nas promessas do agressor.

Agora, Yolanda garante que não regressa para David: “Tentou contactar-me ontem quando estava no hospital, mas bloqueei-o no Facebook. Não o quero ver mais a minha frente, só quero que pague pelo que fez“. A mulher tem um filho, cujo pai não é David, e garante que a criança nunca foi vítima direta da violência do ex-companheiro. Mas o pai explica que, num dos ataques, o homem atirou o computador do menino pela janela.

A PSP apelou à população que denuncie os casos de violência doméstica de que tenha conhecimento. “O Comando Distrital de Santarém da Polícia de Segurança Pública apela ainda a população para que, sempre que se apercebam de uma situação de violência doméstica, seja a vítima, um familiar, amigo ou vizinho, que de imediato alertem a PSP por forma a ser dada a melhor resposta possível à situação”, diz o comunicado.