Pelo menos 1.300 civis foram mortos nos territórios de Beni e Irumu, no leste e nordeste da República Democrática do Congo, desde que foi declarado o estado de sítio em maio, de acordo com um relatório publicado esta quarta-feira.

Pelo menos “1.302 pessoas foram massacradas desde a declaração do estado de sítio” nas províncias do Kivu Norte e Ituri, segundo o “Relatório Yotama sobre os massacres em Beni e Irumu”, realizado por funcionários eleitos na região.

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Desde 6 de maio, estas duas províncias têm estado sob um estado de sítio excecional para combater grupos armados e acabar com os massacres de civis. As autoridades civis foram substituídas por oficiais do exército e da polícia.

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“Estamos longe dos objetivos atribuídos por esta medida excecional, que é pôr fim à violência e aos massacres de civis”, disse Mbenze Yotama, conselheiro provincial de Butembo e coautor do relatório, à AFP.

Com a transferência do poder administrativo para os militares, “o exército parece estar sobrecarregado porque deve não só cuidar da sua missão de garantir o território, mas também cuidar da sua administração”, disse ele.

O relatório regista tanto a evolução do número de massacres registados, como o número de mortes, que aumentou de três ataques, com seis mortes em 2008, para 346 ataques, com 1.747 mortes em 2021 (entre janeiro e setembro).

Assim, de 2008 a setembro de 2021, foram registados pelo menos “2.237 ataques” em 696 localidades, que causaram a morte de “mais de 7.404 pessoas”, refere o relatório, enumerando as identidades de todas as vítimas.

De acordo com o relatório, os massacres começaram a aumentar em outubro de 2014, altura a partir da qual as autoridades atribuem as mortes ao grupo armado Forças Democráticas Aliadas (ADF).

Este grupo, de origem ugandesa, foi colocado em março passado, pelos Estados Unidos, entre os “grupos terroristas” afiliados aos jihadistas do Estado Islâmico (EI).

Os autores da investigação apelam igualmente à criação de uma comissão de inquérito internacional independente para “identificar claramente os verdadeiros autores” e à criação de um tribunal penal internacional para a RDC.

A parte oriental da RDC, particularmente as regiões Kivu e Ituri, tem sido flagelada pela violência durante quase 25 anos devido à presença de numerosos grupos armados locais e estrangeiros. Foram aí realizadas operações militares, sem pôr fim ao ativismo dos grupos armados.

Na província de Ituri, foram descobertos esta quarta-feira 26 cadáveres perto da estrada onde suspeitos rebeldes das Forças Democráticas Aliadas (ADF) atacaram dois autocarros no sábado.

“No ataque, os rebeldes atearam fogo aos autocarros e mataram vários passageiros, enquanto levavam outros para uma zona arborizada”, disse Buisa Delvaux, ativista e líder da sociedade civil na zona.

O ataque teve lugar na Estrada Nacional 4 (RN4), entre as cidades de Beni e Komanda.

O funcionário local Njiamoja Sabiti disse à agência Efe que, entre os mortos, descobertos numa área arborizada na comuna de Erengeti, encontram-se várias crianças. A Cruz Vermelha foi destacada para a área para transferir os corpos para um hospital próximo.

No início de novembro, as autoridades congolesas fecharam temporariamente um troço do RN4 devido à presença de grupos rebeldes e obras rodoviárias em curso, deixando mais de 300 veículos bloqueados.

Atualmente, por razões de segurança, o exército só permite a circulação de 40 veículos por dia neste trecho, e estes devem ser escoltados pelos militares.

“Reduzimos o número de veículos para proteger a vida dos utilizadores do RN4 e pedimos aos condutores que respeitem estes regulamentos, para a sua própria segurança”, disse na terça-feira o comandante-geral responsável por esta área, Joseph Mugisa Muleki.

Durante meses, suspeitos de rebeldes ADF emboscaram civis nas estradas das províncias de Ituri e Kivu do Norte, causando dezenas de mortes e queimando veículos.

A ADF é um grupo rebelde de origem ugandesa, mas opera atualmente no nordeste da vizinha RDC.