Josep Borrell, vice-presidente da Comissão Europeia e chefe da diplomacia comunitária, admitiu que a “Europa está em perigo” e que os “europeus nem sempre estão conscientes disso”. “Estamos num mundo em que tudo é suscetível de ser utilizado como arma de agressão”, referiu em entrevista a vários meios de comunicação internacionais, um dos quais o El País.

Num momento em que a UE se vê a braços com a crise migratória na fronteira com a Polónia e a Bielorrússia, o alto responsável frisa que não basta à União Europeia utilizar mecanismos de “soft power” — como os de “política comercial e os de direitos humanos”. Há que ir além disso, defendeu, principalmente num cenário em que o mundo está envolto num “ambiente muito conflituoso e perigoso”.

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“É um mundo muito mais hostil, em que há disputas no nosso espaço económico e estratégico, e em que o nosso espaço político está cada vez mais degradado”, reiterou.

Para fazer face a este contexto, Josep Borrell elaborou um documento designado de “Bússola Estratégica”, que pretende uniformizar a resposta da União Europeia a possíveis ameaças geoestratégicas. De acordo com a sua visão, será necessário criar um exército militar europeu até 2025, uma proposta que admite que não é consensual entre os diferentes estados-membros.

O chefe da diplomacia da UE também descartou a ideia de que se transformará numa aliança militar que substituirá a NATO. Será, em vez disso, uma maneira de a completar. “Ninguém quer construir uma NATO europeia”, garantiu Josep Borrell, afirmando que a “defesa territorial coletiva da Europa é da NATO e não há alternativa para isso”.

Com cinco mil militares, o exército europeu seria uma força de reação rápida, capaz de dar resposta a algum problema que surja noutro país. “Não podemos olhar para o lado e esperar que outros façam o nosso trabalho”,frisou.

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Esta ideia, que tem tem circulado por Bruxelas durante anos sem nunca ter tido uma proposta formal para a consubstanciar, ganha força dentro da Comissão Europeia, depois do que aconteceu após a tomada pelos talibãs do Afeganistão, em que não houve uma resposta uniforme por parte da União Europeia. 

Segundo Josep Borrell, este documento é um “guia para atuar” e não apenas uma “bússola”. Inclui também propostas como o desenvolvimento da capacidade de intervenção para conseguir colocar o exército europeu no terreno e também a criação de um núcleo de inovação militar. “Gostamos do mundo de Kant, mas vivemos num mundo de Hobbes”, sintetizou.