Onde está Peng Shuai? Esta é a questão que muitas pessoas, independentemente da nacionalidade e da ligação ao mundo do ténis estão a fazer. Já é, aliás, uma hashtag (#WhereIsPengShuai). Mas, afinal, quem é, o que se passou e o que se sabe sobre a tenista chinesa que ninguém, pelo menos a nível oficial, parece saber onde está?

questão Peng Shuai foi para o ar no início do mês de novembro, quando a tenista chinesa de 35 anos, número 281 do ranking de singulares e 191 em pares no WTA Tour, usou as redes sociais para denunciar um alegado abuso sexual. Na altura, foi num post na rede social chinesa Weibo que Shuai escreveu ter sido vítima de agressões sexuais às mãos de Zhang Gaoli, atualmente com 75 anos e uma figura de proa do regime chinês nos últimos anos. Isto segundo vários jornais internacionais como o New York Times, a CNN e o Guardian, os últimos a admitirem que não conseguiram verificar de forma “independente” a “autenticidade” do post em questão. Shuai terá escrito que teve uma relação intermitente com Gaoli durante cerca de uma década, mas que tentou manter em segredo. O homem teria, inclusivamente, medo que a tenista pudesse gravar os seus encontros.

De 2013 a 2018, Zhang Gaoli foi um de apenas sete membros de um comité do regime encabeçado nada mais, nada menos, do que pelo presidente Xi Jinping. Viria a sair do governo chinês em 2019, como vice-presidente. Segundo a tenista, foi quando o homem começou a subir na hierarquia do regime que a relação foi terminada de uma vez por todas. Há cerca de três anos, no entanto, Zhang convidou Peng Shuai para jogar ténis com ele e a esposa, abusando depois sexualmente dela. “Nunca consenti nada naquela tarde. Chorei o tempo todo“, escreveu a mulher de 35 anos segundo o The Guardian.

A publicação no Weibo, uma rede semelhante ao Twitter, ficou indisponível pouco tempo depois e dizia ainda que a tenista admitia não ter provas para corroborar as suas palavras. “Vou dizer a verdade sobre ti”, terá escrito, ainda que diga, metaforicamente, que a sua  acusação e as suas palavras podem efetivamente ser um “ovo a bater numa rocha ou uma traça em direção a uma chama”. Contudo, não só o post desapareceu como, segundo os media internacionais, os motores de busca daquele país bloquearam as pesquisas pelo nome de Peng Shuai e até pela palavra “ténis”.

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Mas, além dos desaparecimentos digitais, parece que ninguém sabe verdadeiramente onde está Peng. A situação já mereceu a intervenção do diretor-executivo do circuito mundial feminino de ténis (WTA), Steve Simon, o único a dizer algo sobre o possível estado da chinesa. Ao New York Times, referiu que teve de várias fontes a informação de que Peng Shuai estava “segura e não estaria sobre ameaça física”. Mas é caso para dizer que, tirando esta frase de Simon, ninguém diz mais nada, até porque o mesmo admite que ninguém envolvido no WTA conseguiu contactá-la e, além disso, o circuito que dirige não tem, na prática, muita influência junto do que as autoridades chinesas podem ou não fazer, podem ou não ter feito. “Mas não vamos recuar”, acrescenta. Steve Simon terá conseguido algumas informações junto da Associação Chinesa de Ténis, organização que o Guardian já contactou. “Peng Shuai, como todas as mulheres, merece ser ouvida, e não censurada. A acusação que faz contra um antigo líder chinês, que envolve uma agressão sexual, deve ser tratada da forma mais séria. Em todas as sociedades, o que ela alega, deve ser investigado”, acrescentou o responsável.

A página de Peng na Weibo está ativa, mas sem menção de Zhang e os comentários parecem estar desativados. O The Guardian explica numa das suas notícias sobre o caso que tentou interagir com a publicação mas que recebeu uma “mensagem de erro em como o conteúdo tinha informação que viola leis e regulamentos relevantes”. Ativistas chineses já conseguiram projetar frases em alguns edifícios (“onde está Peng Shuai” ou “exigimos o regresso seguro de Peng Shuai”).

Peng Shuai, tenista de 35 anos, foi a primeira chinesa a chegar ao topo de um ranking mundial de ténis, neste caso o de pares, em 2014, depois de vencer dois Grand Slam (na carreira venceu 23 títulos de pares femininos): Wimbledon em 2013 e Roland Garros no ano seguinte.