Não há garantia” de que a chinesa Evergrande irá conseguir cumprir os próximos pagamentos de dívida, admitiu a gigante da promoção imobiliária num comunicado emitido na sexta-feira, nas vésperas de mais um prazo-limite para evitar o incumprimento. Esta segunda-feira termina o período de carência de 30 dias para o pagamento de 82,5 milhões de dólares (o equivalente a 73 milhões de euros), mais uma obrigação que a chinesa vai tentar cumprir à última hora, como fez por três vezes nos últimos meses.

No comunicado, a empresa diz que, “desde setembro de 2021, o grupo tem revisto de forma diligente a sua estrutura de capital e situação de liquidez, com a ajuda dos seus assessores financeiros e legais, avaliando todas as opções estratégicas e mantendo um diálogo constante com os credores internacionais” e acrescenta que, “à luz da atual situação de liquidez do grupo, não há garantia de que terá fundos suficientes para continuar a cumprir as suas obrigações financeiras”.

A Evergrande fez este anúncio depois de ter recebido “um pedido para cumprir as suas obrigações ao abrigo de uma garantia no valor de aproximadamente 260 milhões de dólares”, ou 230 milhões de euros. “Caso o grupo não seja capaz de cumprir as suas garantias ou outras obrigações financeiras, isso poderá levar os credores a exigir a aceleração dos pagamentos”, reconhece a empresa chinesa, descrevendo o cenário de um default (incumprimento) que há vários meses gera nos mercados globais um receio de um colapso disruptivo que alguns analistas compararam a um “momento Lehman” nas bolsas e economias mundiais.

Pela primeira vez, a empresa reconhece que a dívida terá de ser reestruturada: a Evergrande “está a avaliar a situação financeira global e, de acordo com os interesses de todos os stakeholders e no respeito dos princípios da justiça e legalidade, planeia negociar com os credores internacionais um plano de reestruturação viável da dívida que a empresa tem no exterior, para benefício de todos os stakeholders”, isto é, todos aqueles que têm ações, obrigações ou outras exposições à empresa.

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Segundo a agência Reuters, com as ações da chinesa a derraparem até 15% em Hong Kong, o presidente da Evergrande já foi chamado pelas autoridades chinesas no que poderá ser um passo no sentido de haver algum tipo de envolvimento estatal nessa reestruturação de uma empresa que acumulou mais de 300 mil milhões de dólares em dívida. Apesar desse valor, os reguladores – incluindo o Banco Popular da China – continuam a garantir que é possível conter o contágio não só ao restante setor como à economia como um todo.

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