A casa que João Rendeiro disse ter em Joanesburgo, para poder permanecer em liberdade à espera do processo de extradição, é num hotel de cinco de estrelas na zona de Sandton, precisamente onde também ficava localizada uma dependência do BPP na África do Sul quando ele era presidente do banco. E onde ele até terá uma relação de amizade. A polícia esteve lá à sua procura quando percebeu que o antigo banqueiro já tinha mudado de localização.

João Rendeiro saiu do Reino Unido no último dia 14 de setembro, aparentemente num jato privado com destino a Doha, no Qatar para fugir a uma pena de cadeia de cinco anos e oito meses e de um agravamento da medida de coação no outro processo, em que foi condenado a uma pena de dez anos de cadeia. Do Qatar terá apanhado um voo comercial para Joanesburgo, a capital sul africana, onde chegou a 18 de setembro. Foi por esta altura que chegou ao Hotel e Suites DaVinci e pagou uma reserva até final de fevereiro.

Reserva que, apurou o Observador junto de uma fonte policial, manteve mesmo depois de ter rumado a sul para a cidade de Durban, mais concretamente no hotel Forest Manor Boutique Guest House, a cerca de 600 quilómetros, onde acabou detido.

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Durante mais de um mês que passou na zona de Sandton, onde chegou a haver uma dependência do BPP com vários clientes, e onde terá mesmo um amigo. João Rendeiro almoçava quase sempre no mesmo restaurante, perto do hotel. Um local por onde a polícia esteve para o procurar e que deixou os funcionários surpreendidos. Ninguém esperava que aquele cliente tivesse pendentes dois mandados de detenção internacional.

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A mesma fonte policial explicou ao Observador que as autoridades sul-africanas pensavam que iam detê-lo ali, mas perceberam depois que ele tinha abandonado aquela unidade hoteleira, mantendo a reserva e até alguns bens pessoais no quarto.  Tentou despistar a polícia, mas podia ter mesmo intenção de regressar.

Rendeiro saiu do Hotel and Suites DaVinci a 14 de novembro, quatro dias depois de ter obtido um visto de residência baseado num alegado investimento no país. A fonte contactada pelo Observador revela que é possível obter esta autorização apenas pela expectativa do negócio e sem mostrar qualquer comprovativo de que vai concretizar-se. Rendeiro, na entrevista à CNN que deu cerca de uma semana depois, falou de um contrato de meio milhão de euros que teria feito.

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O Observador apurou que o antigo líder do BPP deixou mesmo um rasto num pagamento que fez e que denunciou à polícia o seu paradeiro na zona luxuosa de Sandton, onde a polícia chegou a estar. Ainda assim foi necessário cruzar várias informações até chegar a Rendeiro. E só na semana que Rendeiro deu a entrevista é que as autoridades portuguesas reuniram com as autoridades sul-africanas, na assembleia geral da Interpol na Turquia, que decidiram empenhar os “melhores meios” para deter João Rendeiro — como disse o diretor da Polícia da Judiciária, Luís Neves, na conferência de imprensa que deu na manhã da detenção.

Na quarta-feira, quando finalmente João Rendeiro apresentou a sua defesa perante o juiz que iria determinar se ficaria detido a aguardar o processo de extradição, o antigo banqueiro disse que tinha uma casa em Joanesburgo até março, mas alegou também que era “pobre”. Não especificou que a sua casa era num luxuoso hotel na capital. Rendeiro nunca assumiu ser “um fugitivo” e mostrou-se mesmo nervoso e surpreendido quando, esta sexta-feira, o juiz considerou que se o devolvesse à liberdade ele fugiria. Não só porque já o fez, como em África do Sul não existem meios de o controlar remotamente e todos os dias várias pessoas passam as fronteiras com documentos falsos.

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João Rendeiro tinha vários cartões na sua posse, embora tenha dito em tribunal que apenas tinha conta na África do Sul e nos Estados Unidos. Segundo o Ministério Público, tinha também três passaportes. A defesa diz que só um era válido e que os outros eram antigos.