O biólogo e entomólogo norte-americano Edward O. Wilson, apontado como o pai da biodiversidade e com ligação a Moçambique, morreu no domingo, aos 92 anos, em Burlington, Estados Unidos, anunciou esta segunda-feira a fundação que tem o seu nome.

Edward O. Wilson, considerado o herdeiro do naturalista oitocentista Charles Darwin, esteve ligado a Moçambique, onde, no Parque Nacional da Gorongosa, liderou expedições científicas e um laboratório de investigação destinado a documentar e a proteger a biodiversidade do local que tem o seu nome em sua honra.

Para Wilson, o Parque Nacional da Gorongosa era “o mais importante parque no mundo“, ao tornar-se “num centro-modelo de pesquisa científica e educação, muito além de qualquer outro empreendimento comparável nos Estados Unidos ou outro lugar”.

O biólogo liderou em 2011 e 2012 expedições científicas para catalogar a biodiversidade do parque.

Numa reação à morte do seu “herói, mentor e amigo”, o diretor do Laboratório E.O. Wilson, Piotr Naskrecki, disse na rede social Facebook ser “um dia triste”, realçando que “a presença marcante” do entomólogo “nas ciências biológicas fará muita falta“.

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Também no Facebook, o filantropo norte-americano que dá o nome à fundação que acordou em 2007 o restauro do Parque Nacional da Gorongosa com o Governo moçambicano, Greg Carr, referiu que “a Terra perdeu um verdadeiro amigo“, enaltecendo o “grande cientista”, o “homem decente, doador e carinhoso”. “Eu amava-o”, afirmou.

A Fundação E.O. Wilson para a Biodiversidade tem uma parceria com o projeto de recuperação da Gorongosa para preservar o ecossistema local, que é tema de obras do cientista.

Dois dos livros de Wilson — “On Human Nature” (Sobre a Natureza Humana), de 1979, e “The Ants” (As Formigas), de 1990 — foram distinguidos com o Prémio Pulitzer.

Edward O. Wilson concentrou-se na classificação e ecologia das formigas, estendendo os seus estudos para áreas mais amplas da biologia, incluindo os padrões de comunicação química de insetos e o campo da sociobiologia. Descobriu que as formigas comunicam por meio da troca de substâncias químicas, conhecidas como feromonas.

No final da sua carreira, Wilson converteu-se numa das figuras científicas mais comprometidas com a defesa da natureza.

No livro “The creation. An appeal to save life on Earth” (A Criação. Um Apelo para Salvar a Vida na Terra), de 2007, o investigador alerta para as consequências da poluição, do aquecimento global e da deterioração da diversidade biológica da Terra, sugerindo que a ciência e a religião devem agir em conjunto para resolver estes problemas.

Professor durante 46 anos na universidade norte-americana de Harvard, onde se doutorou, Edward O. Wilson introduziu na literatura científica conceitos como biodiversidade, conduta social, sucesso reprodutivo, parentesco genético e biofilia (amor à vida).

Natural de Birmingham, no Estado do Alabama, onde nasceu em 10 de junho de 1929, o biólogo e entomólogo cresceu no campo, nos arredores da cidade de Mobile, onde foi ganhando o encanto pela natureza.

“A maioria das crianças tem um período de insetos. Eu nunca cresci fora do meu”, descreveu-se na sua “autobiografia” na página oficial do Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique.