Uma das fábricas indianas da Foxconn, a gigante de Taiwan que fabrica os iPhones e outros equipamentos da Apple, foi encerrada temporariamente por ordem da própria multinacional americana, que considerou esta quarta-feira que as condições dos refeitórios e dos dormitórios que albergam os cerca de 17 mil trabalhadores, na maior parte mulheres, não cumprem os padrões exigidos pela empresa.

“Verificámos que alguns dos dormitórios e refeitórios utilizados pelos empregados não satisfazem os nossos requisitos e estamos a trabalhar com o fornecedor para assegurar a rápida implementação de um conjunto abrangente de ações corretivas”, disse um porta-voz da Apple.

Desde 15 de dezembro que a fábrica da zona de Chennai, no sul da Índia, tem estado debaixo de fogo. Nesse dia, cerca de 250 trabalhadoras sofreram uma intoxicação alimentar depois de uma refeição no hostel onde estão alojadas, através de uma empresa subcontratada pela Foxconn, e 159 delas chegaram mesmo a ter de ser assistidas no hospital. Dois dias depois, cerca de duas mil trabalhadoras juntaram-se e, num protesto inédito naquela região, cortaram a autoestrada que dá acesso à fábrica onde são montados os iPhones.

No início do ano, um grupo de acionistas tinha pedido à Apple que preparasse um relatório a dar conta das medidas implementadas pela empresa para proteger os trabalhadores, ao longo de toda a sua cadeia de fornecimento, de abusos laborais e de situações de trabalho forçado. Entretanto, na semana passada, a 22 de dezembro, o regulador norte-americano recusou a pretensão da multinacional, que queria bloquear a proposta, argumentando que até ao momento “não parece que os objetivos essenciais da proposta tenham sido implementados”.

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À Reuters, seis antigas funcionárias da fábrica da Foxconn em Chennai, sob anonimato, por temerem retaliações dos atuais empregadores ou da polícia, descreveram as condições sub-humanas em que ficaram alojadas quando trabalharam para o parceiro da Apple — a expensas próprias: os custos do alojamento e da habitação são suportados pelas próprias funcionárias, a maior parte delas mulheres entre os 18 e os 22 anos, provenientes de zonas rurais do estado de Tamil Nadu. Para além de os dormitórios estarem sobrelotados, e de chegarem a albergar 30 pessoas em simultâneo, as trabalhadoras revelaram que algumas das casas de banho não tinham água corrente e que as intoxicações alimentares eram habituais, chegando mesmo a descrever vermes na comida.

“As pessoas que vivem nos hostels tiveram sempre uma doença ou outra — alergias, dores no peito, intoxicações alimentares”, disse uma mulher de 21 anos, que abandonou a fábrica depois dos protestos de dia 17. “Não reclamámos muito porque pensámos que ia ser resolvido. Mas agora, afetou muitas pessoas.”

Também à Reuters, a Foxconn disse que está a reestruturar a equipa local de gestão e a tomar medidas para melhorar as instalações. Também garantiu que, enquanto a fábrica estiver parada por este motivo, todos os salários vão continuar a ser pagos aos trabalhadores.