Esta terça-feira, parecia que a novela tinha terminado e 24 horas depois teve definitivamente o seu fim. Novak Djokovic tinha recebido uma isenção médica por parte da organização do Open da Austrália, não tinha de comprovar que está completamente vacinado e ia competir no primeiro Grand Slam do ano. Esta quarta-feira, os contornos pouco habituais da situação mostraram que este foi apenas o primeiro capítulo da novela: o tenista sérvio foi barrado à chegada a Melbourne — e o desfecho consistiu na impossibilidade de permanecer no país para disputar o torneio.

Segundo a BBC, o tenista sérvio não poderá permanecer na Austrália e vai ser deportado já esta quinta-feira, apesar de a equipa de advogados de Djokovic prometer recorrer. A decisão surge após o tenista ter estado sete horas retido no aeroporto, vigiado por dois polícias e sem ter a possibilidade de utilizar o telemóvel.

“A Autoridade Fronteiriça da Austrália pode confirmar que Djokovic não forneceu provas apropriadas para cumprir os requisitos de entrada na Austrália. O seu visto foi, por isso, cancelado”, lê-se num comunicado dos serviços australianos.

Antes disso, o pai de Djokovic já se tinha manifestado contra a decisão da Austrália e instava a que o país libertasse o filho. Em declarações à Sputnik Serbia, Srdan Djokovic disse não fazer ideia “do que se está passar”. Destacou que o tenista estava “em cativeiro”, deixando ainda um repto: “Isto é uma luta pela liberdade do mundo, não é uma luta só do Novak, é do mundo todo. Caso não o deixem sair sair em meia hora, vamos juntar-nos nas ruas. Isto é uma luta por todos”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De acordo com o The Times, Djokovic foi travado pelas autoridades australianas no controlo de passaportes depois de a equipa de apoio do tenista ter cometido um erro ao solicitar uma subcategoria de visto que não se aplica aos viajantes sob o regime de isenção médica. O jornal adianta ainda que a irregularidade foi detetada ainda enquanto o sérvio estava a viajar, durante o voo de 14 horas que realizou entre o Dubai e a Austrália. Atualmente, Djokovic está ainda no aeroporto a aguardar uma decisão do governo de Victoria, o Estado australiano onde fica Melbourne, para saber se volta para casa ou se pode entrar no país para disputar o Open da Austrália.

Djokovic, que nunca quis confirmar se está ou não imunizado mas que no ano passado disse ser “contrário à vacinação”, conseguiu então a tal isenção médica para poder competir no Open da Austrália, que tem como principal linha vermelha a obrigatoriedade de vacinação de todos os tenistas participantes. A exceção, atribuída por dois painéis independentes que avaliam as candidaturas às cegas e sem saberem quem é o atleta em questão, costuma prender-se com condições médicas crónicas — sendo que não é conhecido qualquer problema do género ao sérvio.

Ainda assim, existe uma possibilidade alternativa. Djokovic poderá ter estado infetado nos últimos seis meses, algo que seria uma reinfeção depois de ter testado positivo durante o Adria Tour em 2020, e ficar assim dispensado da obrigatoriedade da dupla vacinação. Contudo, e mesmo com essas condicionantes, a ideia de facilitismo ou de tratamento especial daquele que é o número 1 do ranking ATP não demorou a surgir. Jamie Murray, britânico que é especialista em pares, foi um dos primeiros a deixar claro aquilo que pensa sobre todo o episódio, garantindo que, se fosse ele a não estar vacinado, “não tinha isenção nenhuma”. “Mas ainda bem para ele”, acrescentou.

Mesmo sem dizer se está vacinado ou não, Djokovic vai estar no Open da Austrália graças a uma “isenção médica”

O principal problema de Novak Djokovic, porém, não serão os comentários dos colegas de profissão. Scott Morrison, o primeiro-ministro da Austrália, mostrou-se contra a participação do tenista sem a apresentação do comprovativo de vacinação completa e abriu desde logo a porta à possibilidade de este não chegar a competir. “Se as provas que ele apresenta são insuficientes, não poderá ser tratado de forma diferente e estará no próximo avião para casa. Não podem existir regras especiais para o Novak Djokovic. Nenhumas”, atirou. O CEO da Tennis Australia e principal responsável pelo Open da Austrália, por oposição, garante que o sérvio não está a receber qualquer tipo de tratamento especial.

“Existiram 26 candidaturas anónimas a estas isenções e só algumas foram atribuídas. A maioria não foi atribuída, 75 ou 80% daqueles que se candidataram não a receberam. Se eu for um visitante internacional e não estiver vacinado, com estas regras, qualquer profissional de saúde pode dar-me uma isenção e acrescentar o meu nome ao registo de imunização. Ou seja, qualquer pessoa pode entrar no país sem estar vacinada, não é só o Novak. Mas ele passou por esse processo, fez uma candidatura completamente legítima”, explicou Craig Tiley, deixando quase certa a ideia de que Djokovic não estará mesmo vacinado.