O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, apresentou “desculpas humildes e sinceras” por não ter revelado mensagens de telemóvel numa investigação sobre quem financiou a remodelação dos aposentos pessoais em Downing Street, segundo documentos divulgados quinta-feira.

O primeiro-ministro foi forçado a pedir desculpas a Christopher Geidt, responsável por fiscalizar o cumprimento das normas de conduta dos ministros, porque informação divulgada posteriormente punha em causa o testemunho que o ilibou de irregularidades.

Numa carta datada de 21 de dezembro, Johnson atribuiu a confusão a uma troca de telemóveis e prometeu tomar medidas para que este tipo de mal-entendidos “não voltem a acontecer no futuro”.

Geidt, que se tinha queixado de “falta de respeito”, respondeu dois dias depois, reiterando que o “episódio abalou a confiança” devido às “falhas potenciais e reais” no processo de facilitação de informação pelo gabinete do primeiro-ministro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Porém, manteve que os novos factos não invalidam a conclusão do inquérito finalizado no início deste ano de que o primeiro-ministro não transgrediu os regulamentos.

Numa primeira investigação à potencial violação do código ministerial por não declarar donativos, Geidt, que é membro da Câmara dos Lordes e foi secretário privado da Rainha Isabel II, absolveu Johnson porque este disse que não conhecia a origem do financiamento.

Geidt, mesmo assim, considerou que Johnson se portou de forma “imprudente” pela forma como financiou as obras.

Mas, numa segunda investigação, a Comissão Eleitoral identificou provas de que Johnson enviou ao milionário David Brownlow uma mensagem de telemóvel, em novembro de 2020, “pedindo-lhe para autorizar ainda mais, naquela altura sem especificar, obras de remodelação na residência“, o que sugere que o primeiro-ministro sabia de onde vinha o dinheiro.

As regras parlamentares dizem que qualquer donativo acima de 500 libras (600 euros) deve ser registado e declarado.

Como penalização, a Comissão Eleitoral multou o Partido Conservador em 17.800 libras (21.300 euros) por ter concluído que os conservadores não conseguiram “documentar com precisão um donativo e manter um registo de contabilidade adequado” do dinheiro entregue em outubro de 2020 por Brownlow, militante e membro da Câmara dos Lordes pelo Partido Conservador.

O relatório da Comissão Eleitoral disse que os conservadores alegaram repetidamente que o dinheiro não tinha sido um donativo ao Partido, e que as justificações para o pagamento variaram entre ser “um donativo ao primeiro-ministro através do partido”, um “presente para a nação”, um “assunto ministerial” e o “reembolso de um empréstimo”.

No relatório final, a Comissão calculou que Brownlow entregou 52.801,72 libras (63.165.91 euros) ao Partido Conservador para pagar as obras de remodelação, as quais, segundo a imprensa britânica, terão custado perto de 200.000 libras (239.000 euros), incluindo papel de parede dourado escolhido pela mulher, Carrie.

Esta despesa gerou controvérsia por ter ultrapassado em muito o limite anual de 30.000 libras (36.000 euros) concedido ao primeiro-ministro para decorar os aposentos pessoais na residência oficial, em Downing Street.

Apesar de oficialmente a morada do chefe do Governo ser no número 10, Johnson e alguns dos antecessores têm-se instalado no apartamento ao lado, no número 11, pertencente oficialmente ao ministro das Finanças.

Boris Johnson foi acusado pela oposição de “mentir” sobre a origem do financiamento para as obras de remodelação do apartamento em Downing Street.

Na sequência do escândalo, Boris Johnson acabou por assumir o custo total das obras.