Se há uma (das muitas) coisa interessante e atraente no futebol mundial são os choques de titãs. E numa das competições que, para o bem e para o mal, mantém um estilo de futebol ainda muito puro e rápido, arrancar um grupo com dois favoritos à vitória final é de luxo. Foi o que aconteceu esta quarta-feira na Taça das Nações Africanas (CAN) com um Nigéria-Egito, em Garoua, nos Camarões. Foi assim que arrancou o Grupo D, entre seleções habituadas a ganhar: os nigerianos com três triunfos (último em 2013) e os egípcios com sete, com destaque para o tri de 2006, 2008 e 2010.

E do lado do Cairo, a referência era óbvia e não apenas do seu país e de África, mas do planeta: um tal de Mohamed Salah, jogador de 29 anos do Liverpool, um dos três nomeados ao prémio The Best da FIFA, que elege o melhor jogador à face da terra. O maior craque da CAN, aquele em que, sem surpresa também, as câmaras mais recaiam durante a transmissão. Mas do lado português também havia interesse no Egito, visto que o selecionador dos faraós é português Carlos Queiroz, que aos 68 anos ainda está para estas curvas.

Na antevisão, Queiroz afirmou ser “uma honra estar nos Camarões e jogar a competição”, havendo muito “entusiasmo” na equipa. “O que gostamos é de jogar, por isso estamos muito entusiasmados para que a bola comece a rolar e possamos competir, tentando dar o nosso melhor, de modo que possamos corresponder aos nossos objetivos e aos sonhos dos adeptos egípcios”, frisou o português, que declarou ser um “prazer” abrir a CAN contra a Nigéria, “a única seleção africana que passou a fase de grupos em mundiais por três ocasiões”. ” É um grande adversário, queremos jogar contra os melhores, por isso este jogo é um privilégio”, disse o homem que procura levar Salah e companhia a mais um caneco africano.

E, em tempo de pandemia (e a meio da época em vários campeonatos, só Klopp ficou sem Salah e Mané, por exemplo), o que acha o português do futebol em tempos de pandemia? “Depois de todos estes anos percebi que, nestas situações, expressar o que vem do fundo do nosso coração, partilhar a nossa opinião, pode ser algo perigoso, sobretudo junto de alguns idiotas. Por isso prefiro não fazer comentários. O meu trabalho é treinar”, frisou.

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O português tem razão e, claro, o que interessava, estando assegurada a saúde de todos, era o “privilégio” de enfrentar as super águias nigerianas, as tais de quem se falou que podem vir a ser comandadas por José Peseiro. Mas, contudo, não foi um privilégio assim tão grande. Principalmente para Salah. É que, sem desprimor, os colegas no Egito não são Mané, Firmino, Diogo Jota, Henderson ou Alexander-Arnold. Pelo que não só era mais complicado a bola chegar redondinha, como o avançado dos reds andava completamente perdido. Não necessariamente em termos táticos, mas em homem por metro quadrado. Ninguém joga sozinho e Salah não é exceção.

Tanto assim foi que Salah muitas vezes era obrigado a sprintar para bolas longas, a receber e dar para trás ou tentar jogadas tão, mas tão rápidas como as combinações que faz em Liverpool. Do outro lado, destaque para a esquerda da Nigéria, onde alinhou Zaidu, jogador que tem sido dono do mesmo posto na defesa do FC Porto. Zaidu não foi obrigado a complicar, nem teve problemas por aí além, mas o homem que jogou à sua frente foi um autêntico quebra-cabeças para a defesa do Egito, que perdeu o defesa Tawfik logo aos 11′. É que Moses Simon, jogador do Nantes, foi o melhor em campo na primeira parte e invariavelmente, pela direita, a equipa de Carlos Queiroz ficava para trás.

Ter bola no próprio meio-campo vale o que vale e era isso que o Egito conseguia, enquanto a Nigéria, decidida a resolver o jogo mais depressa mas em futebol organizado em simultâneo, lá continuava a insistir. Sem surpresa, jogada pela esquerda, bola sobra para os pés de Iheanacho, jogador do Leicester, bomba para a dentro da baliza. Estava feito o 1-0 aos 30′ e merecido, numa primeira parte em que a Nigéria foi segura e superior. E, também, em que as bolas de futebol foram trocadas quatro ou cinco vezes devido a raramente estarem cheias (apenas por curiosidade).

Foi assim, com esta simplicidade, mas com um grande golo, que o jogo ficou, apesar de ainda ninguém saber, decidido para o lado das águias da Nigéria, que aguentaram a vantagem até final, começam da melhor forma, ganham moral e impedem Salah e Queiroz de entrar a vencer na CAN 2021 (disputada em 2022).

Para o português, foi o primeiro encontro na CAN ao fim de 20 anos, quando esteve no Mali com a África do Sul, e antes da derrota com o Egito havia dito que “a estratégia é um jogo de cada vez” e que “não se pode chegar longe se não se derem os passos iniciais”.

Pois bem, o passo inicial foi em falso e se é “um jogo de cada vez” é preciso olhar o próximo, porque com a experiência de Queiroz e a qualidade mundial de Salah tudo é possível. A última nota tem de ficar para a Nigéria, que se explanou muito bem em campo, naquela mistura de alguma organização com futebol puro de correr a atacar. Temos CAN, competição onde se encontram 21 atletas que alinham em Portugal.