Estalou definitivamente o verniz entre Rui Rio e António Costa. A quatro dias das eleições legislativas, o social-democrata voltou a acusar o adversário de estar a conduzir um “campanha negra” que chega a roçar a “difamação”,” próximo de ser passível de processo-crime”.
Em causa está uma discussão entre António Costa e Rui Rio que se tem arrastado desde a pré-campanha sobre o salário mínimo nacional. O PS recuperou declarações de Rui Rio proferidas em 2020, quando o líder do PSD se manifestou contra a subida do salário mínimo no ano de 2021 e divulgou um “vídeo truncado” nas redes sociais — de resto, a 3 de janeiro, o Observador já tinha verificado a veracidade das declarações de António Costa e concluiu que elas eram enganadoras.
O décimo dia de campanha eleitoral acabou marcado pelo escalar da tensão entre os dois. Em duas publicações no Twitter, Rio acusou Costa de estar a ser “baixo”, a cometer uma “ataque difamatório próximo de ser passível de processo-crime” e a conduzir uma “vergonhosa campanha negra”.
[Pode ouvir aqui a reportagem da Rádio Observador com a campanha do PSD]
“Não vai morrer ninguém”, mas Rio lembra-se de uma “banhada”
Já em Leiria, em declarações aos jornalistas, exigiu de novo elevação a António Costa. “Lembro-me das eleições de 1980, eu ainda era jovem, e o PS, que liderava uma coligação que era a Frente Revolucionária Socialista, seguiu justamente esse caminho: difamação atrás de difamação atrás de difamação, na altura do PSD e da Aliança Democrática lideradas por Sá Carneiro. Bom, levaram uma banhada. O PS está a fazer uma campanha como se isto fosse de vida ou de morte. O pior que pode acontecer é perder, e perder não é morrer.”
“Não sei se aqui não vão perder por causa disso, mas eu acho que eles não conseguem enganar completamente o eleitorado, pelo menos as pessoas mais inteligentes do eleitorado não são enganadas com isto de certeza, só aqueles mais distraídos é que se deixam enganar por uma coisa destas. E lamento.”
O líder social-democrata foi desafiado a falar mais uma vez sobre eventuais acordos com o Chega, depois de António Costa ter voltado a dizer que Rio está “refém da extrema-direita” para governar. “Quantos mais votos houver no Chega mais facilmente António Costa continua como primeiro-ministro. É um dos grandes interessados em que o Chega tenha um grande resultado. É hipocrisia”, despachou Rio.
“O Chega diz que só há acordo com o PSD se tiver ministros. Isso é absolutamente impossível. Não há outra conversa. Quando o PS diz que preciso dos votos do Chega para aprovar, por exemplo, um Orçamento, então o PS também precisa dos votos do Chega para derrotar um Orçamento meu.”
Na sessão de esclarecimento encerrou o dia de campanha de Rio, o social-democrata aproveitou o tema para denunciar, novamente, a falta de ética de António Costa. “Os homens de marketing disseram a António Costa que a forma mais eficaz de lá chegar é deturpar e criar a confusão. Compreendo a racionalidade disto; não compreendo isto no plano ético. Mesmo que os homens de marketing me dissessem isso, recusava-me a fazer o que PS está a fazer. Assim, eu não fazia. Isto que vai acontecer no domingo não é de vida ou de morte. Podemos ser democratas, não vai morrer ninguém.”
Ao lado de Paulo Mota Pinto e de Henrique Neto, com António Leitão Amaro, ex-deputado e crítico interno de Rio na plateia, Rio foi ainda mais longe no apelo ao voto útil à direita, ideia que tem vindo a recuperar nos últimos dias. “Daqui até domingo, as pessoas que ainda não decidiram, ou então que já decidiram e não tinham reparado neste ponto, têm de voltar a refletir um bocadinho para saber o que é que colocam em primeiro lugar: tirar o PS ou eleger mais um deputado de um partido pequeno que não tenha deputado nenhum ou que eventualmente possa ter um e queira ter um ou dois ou três”, começou por dizer.
“Para aqueles para quem a prioridade é que o doutor António Costa e o PS não continuem a chefiar o Governo do país só há um voto verdadeiramente útil para esse efeito concreto, que é no único partido que tem força para que isso possa acontecer, que é o PSD”, rematou.