A indústria automóvel, em certos aspectos, persegue o mesmo objectivo dos fabricantes de perfumes, sabonetes e desodorizantes: dar aos clientes exactamente o odor que mais lhes agrada. Lembra-se do cheiro a carro novo ou a uns bancos revestidos a um couro de primeira qualidade? Pois bem, tudo isso tem a ver com a capacidade dos receptores olfactivos, que possuímos nas cavidades nasais, de identificarem as moléculas das substâncias que circulam no ar.

A tecnologia permite há muito que os odores possam ser fabricados em laboratório e afinados até à perfeição. Na Nissan, entre os muitos técnicos que trabalham neste departamento, há um muito especial. Ryunosuke Ino é o “nariz da Nissan”, uma vez que é a ele que cabe de fazer de “perdigueiro” e definir com exactidão o odor ideal para transmitir a sensação de carro novo ou o couro perfeito.

Mas a definição dos odores é ainda mais complexa, uma vez que varia consoante a região do globo, pois o cheiro que cativa os europeus pode ser menos atraente para norte-americanos ou árabes. Daí que, para além de Ino, que trabalha a partir do Nissan Technical Center, no Japão, o construtor nipónico recorra ainda a Peter Eastland, o especialista em odores na Europa, e a Tori Karl, o especialista em materiais nos EUA.

Ser o “perdigueiro da Nissan” significa ter de cheirar todos os objectos e peças dentro do habitáculo. Os clientes sentem os odores mais próximos do local onde estão sentados, pelo que é preciso apurar o cheiro emanado pelo revestimento dos bancos e encostos de cabeça, do tablier e do volante.

Sempre que tem de cheirar e apurar um novo odor, Ino recorre a um truque que afirma ter aprendido com um produtor de café. Para realizar uma espécie de reset olfactivo, o mestre dos cheiros cheira o interior do cotovelo, defendendo que “um odor familiar é a preparação ideal para lidar com um novo odor”.  E, segundo ele, não usar detergentes quando lava a sua roupa, não fumar, não comer alimentos com alho ou pratos com um odor intenso, como os indianos, ajuda igualmente a manter apurada a capacidade de identificar odores. Mas embora sejam aceitáveis alguns sacrifícios, nesta profissão de especialista em olfacto, não faltará quem pense que lavar a roupa de trabalho só com água pode ser um pouco “excessivo”…

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR