O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou esta sexta-feira à preservação da estabilidade na Líbia por todas as partes “como prioridade máxima”, depois de o país passar a ter dois primeiros-ministros concorrentes.

O português recordou “a todas as instituições o objetivo primordial de realizar eleições nacionais o mais rapidamente possível para garantir o respeito pela vontade política dos 2,8 milhões de cidadãos líbios que se inscreveram para votar”, pode ler-se no comunicado.

O chefe da ONU “toma nota” da votação de quinta-feira sobre uma emenda constitucional que prepara o caminho para uma revisão do projeto de Constituição de 2017 e para o processo eleitoral, e da votação que designou um novo primeiro-ministro, segundo a declaração emitida pelo seu porta-voz.

Guterres “apela a todas as partes e instituições para continuarem a assegurar que estas decisões cruciais sejam tomadas de forma transparente e consensual”, acrescenta o comunicado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A declaração do responsável da ONU não mencionava os nomes do primeiro-ministro interino Abdelhamid Dbeibah ou do novo primeiro-ministro nomeado na quinta-feira, Fathi Bachagha.

No entanto, Guterres não repetiu aquilo que o seu porta-voz havia dito na quinta-feira, nomeadamente que a ONU continuaria a apoiar Dbeibah como primeiro-ministro interino encarregado dos assuntos na Líbia.

Num aparente golpe de força constitucional da fação concentrada no leste do país contra os dirigentes de Tripoli, no oeste, o parlamento sediado em Tobruk designou o influente ex-ministro do Interior Fathi Bachagha para substituir Abdelhamid Dbeibah na liderança do Executivo de transição.

A Líbia mergulhou no caos depois da queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011.

Após anos de conflito armado e divisões entre o leste e o oeste, o governo de Dbeibah foi criado há um ano, sob a égide das Nações Unidas, para liderar a transição até uma dupla eleição presidencial e legislativa, marcada inicialmente para 24 de dezembro.

As eleições deveriam ser o culminar da prolongada transição pós-Kadhafi, mas foram adiadas num cenário de desacordos entre as potências do leste, personificadas pelo parlamento e o pelo marechal Khalifa Haftar, e as do oeste, centradas no governo de Dbeibah e no Alto Conselho do Estado, que atua como um Senado.

O parlamento, sediado em Tobruk, considera que o mandato do Executivo expirou com o adiamento das eleições, mas o governo assegura que a sua missão deve durar até à nomeação de um governo que saia das urnas.

Na quinta-feira, Abdelhamid Dbeibah sofreu uma tentativa de assassínio quando estava no interior de um veículo a caminho de casa, em Tripoli, revelou uma fonte próxima do político ao jornal The Libya Observer.

Primeiro-ministro interino da Líbia sofre tentativa de assassinato em Tripoli

De acordo com a fonte, que preferiu não ser identificada, Dbeibah, que viajava no veículo como passageiro, escapou ileso do ataque e os agressores fugiram após terem efetuado vários disparos contra a janela do carro.

A Procuradoria-Geral líbia anunciou, entretanto, a abertura de uma investigação para esclarecer o caso.