Os dois últimos resultados não foram propriamente os melhores, com empates na Serie A com a Atalanta e o Torino, mas depois de um início desastroso a bater vários recordes negativos de um clube que há bem pouco tempo foi nove anos consecutivos campeão a Juventus voltou a sonhar. A sonhar com o título transalpino, a sonhar com uma caminhada melhor em termos europeus do que nas últimas épocas com o treinador que também há não muito tempo levou os bianconeri duas vezes à final da Liga dos Campeões. Era por isso que chegava ao El Madrigal com um ligeiro favoritismo teórico. No entanto, e mesmo estando no sexto lugar da Liga espanhola, o Villarreal já mostrara por várias ocasiões que não encontra impossíveis quando se fala de provas europeias, como se viu na resposta na última ronda dos grupos em Bérgamo com a Atalanta. E nem mesmo a gigante diferença de currículos entre os dois conjuntos podia servir de peso nessa balança.

O jornal As recuava esta terça-feira a 20 de maio de 1998 para retratar essas diferenças: nesse dia, a Juve, que era um dos conjunto mais fortes da Europa, jogava com o Real Madrid a sua terceira final da Liga dos Campeões consecutiva tendo já 25 Campeonatos, nove Taças de Itália, duas Champions, três Taças UEFA e duas Taças Intercontinentais. A 21 de maio de 1998, o Villarreal tinha um jogo decisivo com o Compostela para almejar a primeira subida ao escalão principal do futebol espanhol, algo que conseguiria mesmo quatro dias depois numa estreia confirmada na temporada de 1998/99 antes de subir mais uns degraus. Em contrapartida, o trajeto dos dois treinadores indicava linhas contrárias, com Allegri a somar 13 títulos no plano nacional (seis Campeonatos) e duas finais da Champions perdidas entre AC Milan e Juventus contra um Unai Emey que ganhou quatro das cinco finais da Liga Europa que disputou entre Sevilha, Arsenal (onde perdeu com o Chelsea) e Villarreal entre vários troféus nacionais sobretudo na passagem pelo PSG.

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E se este era um jogo de treinadores, com uma carga relevante a nível de preparação e interpretação do plano de jogo, havia dois jogadores em especial destaque com caminhos bem diferentes até ao estrelato.

De um lado, Vlahovic, contratação mais cara do mercado de inverno com a Juventus a pagar um total de 80 milhões de euros pelo passe do antigo avançado da Fiorentina. Grande revelação da primeira metade da temporada, juntando às exibições os golos, o jogador que passou pela formação do Partizan Belgrado até chegar por dois milhões de euros a Florença foi muitas vezes comparado pela compleição física com Zlatan Ibrahimovic mas herdou o 7 que era de Ronaldo em Turim para dar a referência ofensiva que faltava e os golos que também diminuíram com a grave lesão de Chiesa. Também teve os seus episódios polémicos, como o facto de ter saltado o confinamento por Covid-19, mas chegou, viu e venceu para não ficar por aí.

Do outro lado, Arnaut Danjuma, jogador que ao contrário de Vlahovic não era assim tão conhecido (ou mesmo nada para alguns) mas que chegou por pedido expresso de Emery por 20 milhões do Championship, segundo escalão inglês onde se encontrava o Bournemouth, naquela que foi a segunda maior transferência de sempre do Villarreal. O preço podia ser um peso, os golos aliviaram a pressão. E foram muitos, três só no último jogo da Liga frente ao Granada. Hoje chamam-lhe Danjumagic, no passado foram mais os problemas do que as soluções: depois da separação dos pais chegou a ficar em casa de amigos ou mesmo a dormir no carro quando tinha quatro anos, os pais adotivos que teve não gostavam da ideia de jogar futebol e muitas vezes era o pai biológico que o levava a treinos e jogos, não teve contrato do PSV aos 16 anos, passou pelo NEC, brilhou no Club Brugge, chegou ao Bournemouth. Hoje, agradece sobretudo a Unai Emery.

Como era esperado, os dois avançados foram os protagonistas de um bom jogo de futebol e com o sérvio a não demorar (literalmente) a fazer história na Liga dos Campeões com a camisola da Juventus.

Na sequência de uma recuperação de bola ainda no seu meio-campo, Danilo lançou longo para o camisola 7 e Vlahovic voltou a ter mais um rasgo de génio: receção orientada com o peito, remate cruzado de pé direito entre os dois centrais e 1-0 logo aos 32 segundos de jogo, tornando-se o mais rápido de sempre a marcar na estreia na Champions. Melhor início era impossível e sempre que o sérvio procurava a profundidade havia um Unai Emery particularmente ativo a tentar evitar males maiores. Até ao intervalo, conseguiu. E só por algum azar à mistura não levou outro resultado, com Lo Celso a rematar ao poste na área após grande jogada de Pedraza (12′) e Danjuma a desviar o cruzamento de Chukwueze de calcanhar para defesa de Szczesny (17′). A Juventus mostrava-se bem mais competitiva mas o Villarreal pressionava.

Sem ter a mesma entrada “a matar” da primeira parte, os transalpinos voltaram a estar por cima no início do segundo tempo com algumas aproximações perigosas para a baliza de Rulli mas os espanhóis tiveram o mérito de nunca desligarem da partida em busca do espaço que conseguisse furar uma muralha defensiva que tinha sido reforçada com a entrada de Bonucci para o lugar de Alex Sandro. E esse espaço apareceu mesmo, com Dani Parejo a fazer o movimento vindo de trás para receber sozinho na área no espaço que deveria ser de De Ligt e rematar sem hipóteses para o empate (66′). Já não daria para mais no jogo e tudo será agora decidido em Itália mas, com Vlahovic, a Juventus está sempre muito mais perto de ganhar.