Com a invasão das tropas russas à Ucrânia, os dois países vizinhos, que partilham uma grande herança cultural, são agora vistos como antagonistas. Mas as ações de um governo sobre o outro não refletem necessariamente a relação entre ucranianos e russos.

Um exemplo disso é a dupla de ténis do campus de Northridge, da Universidade Estatal da Califórnia, Yuliia Zhytelna e Ekaterina Repina.

Zhytelna, uma estudante-alteta ucraniana de 18 anos, soube dos primeiros bombardeamentos de Kiev — onde os pais moram — por uma jornal na entrada do hotel onde se encontrava na altura, em Sacramento.

“Apenas comecei a chorar porque não conseguia imaginar o meu país, o meu pacífico país, numa guerra“, explicou a estudante ao Los Angeles Times.

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O conforto de Zhytelna veio precisamente da sua colega de quarto e colega de equipa no ténis, Ekaterina Repina, uma estudante-atleta russa de 20 anos. “Ela estava a apoiar-me tanto, enquanto eu estava a chorar no seu ombro. Ela estava comigo“, contou. A amizade entre a dupla não é algo de anormal, uma vez que a mãe de Zhytelna é russa, e embora tenha dado à luz cinco filhos ucranianos, Zhytelna sempre teve amigos russos.

Elas já eram muito chegadas. Agora acho que são ainda mais”, explicou Gary Victor, o treinador da dupla. “Elas estão a partilhar uma experiência de uma vida que nós podemos apenas imaginar. Isto aproximou-as mais e a sua relação é de facto inquebrável.”

A atleta russa não quis prestar declarações, por receio de que algo pudesse acontecer à sua família. A junção das duas atletas na mesma dupla de ténis foi um passo óbvio para o treinador. Ambas falam russo, e dentro do court, complementam as qualidades uma da outra.

Mas além de colegas de equipa, Victor viu uma oportunidade para que Ekaterina Repina não jogasse apenas com Zhytelna, mas fosse também sua tutora. Desde então, as duas partilham o mesmo quarto quando estão na estrada.

Com a invasão do seu país, o ténis e a universidade passaram para um papel secundário, com o pensamento de Zhytelna constantemente focado na sua família. “Os russos estavam a tentar assaltar a capital e eu estava no telemóvel com a minha família. Não conseguia jogar. Apenas senti que devia estar com eles“, contou Yuliia Zhytelna.

O treinador da dupla considerou que se as suas atletas “quiserem distrair-se seria um prazer tê-las lá [no court]. Mas se não conseguirem lidar com isso agora, é preciso fazer o melhor pela saúde mental“.

Na universidade, a situação é também atípica para a tenista. Alguns professores pediram a Zhytelna que desse uma palestra sobre a sua situação na Ucrânia, enquanto outros adiaram as avaliações da estudante.

Não conseguia dormir durante três dias seguidos. Estava tão assustada por fechar os olhos e acordar às seis da manhã com a minha mãe a dizer-me ‘já não temos casa'”, explicou. “Já aconteceu com um amigo. Eles acordaram e já não tinham casa.”

A invasão do país vizinho ao seu, contudo, não influencia a sua visão do povo russo, e a atleta considera que a guerra é perpetrada pelo governo russo, não pelo povo russo.

Eu tenho amigos na Rússia. Não tenho nenhum problema com os russos. Mas gostava que eles não fossem para o nosso país“, concluiu.