Otimismo cauteloso. Foi esta a mensagem que a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, quis passar em relação ao futuro imediato da TAP. No dia em que apresentou prejuízos recorde, de 1.600 milhões de euros, a responsável adiantou que a companhia deverá alcançar este verão uma procura de 90% face aos níveis pré-pandemia. Para tal, a empresa está a contratar cerca de 250 tripulantes de cabine para a época alta.

Questionada sobre o impacto destas contratações na política de controlo de custos, que a empresa está obrigada a seguir na sequência do plano de reestruturação, Ourmières-Widener explicou que este é um “custo viável”. “É mais fácil para uma companhia cortar custos quando está a crescer do que quando não crescer”, referiu, na conferência de imprensa de apresentação dos resultados anuais da empresa. “Os custos fixos mantêm-se, mas os custos variáveis aumentam. O facto de estamos a recrutar tripulantes de cabine para o verão não significa que isso terá impacto na infraestrutura global”, devido ao aumento da procura esperada para o verão, referiu a CEO. A empresa conta atingir o pico da procura em maio, e é nessa altura que vai precisar “de todos os recursos”.

Desde que começou a implementar o plano de reestruturação, a empresa perdeu cerca de 900 tripulantes de cabine. A CEO da TAP rejeita que o plano de cortes tenha ido longe de mais. “Todas as companhias da Europa estão a recrutar para o verão, estamos a fazer o mesmo. Agora estamos em melhores condições para prever a procura”, justificou.

Os tripulantes que vão agora ser contratados fazem parte do lote de trabalhadores dispensados . “Estamos satisfeitos por tê-los de volta”, referiu Ourmières-Widener. As contratações serão feitas nas mesmas condições que estão atualmente em vigor para os trabalhadores da companhia, ou seja, refletem os cortes salariais impostos pelo plano de reestruturação. “Temos de ser justos, os cortes de salários aplicam-se a todos. Não há a possibilidade de diferenciar, e não queremos fazer isso”, afirmou, assegurando que, apesar disso, a empresa não está a ter dificuldades em contratar.

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Ourmières-Widener adiantou ainda que a expectativa em relação ao aumento da procura é transversal ao setor, e que a TAP tem a vantagem de não voar para a Ásia, já que esta é a geografia onde ainda se registam algumas restrições da pandemia.

O “otimismo cauteloso” da empresa deve-se à atual conjuntura global. “A macrovolatilidade traz algumas incertezas em relação à procura”, admitiu a CEO da TAP, que lidera os destinos da companhia desde junho do ano passado. Além da guerra na Ucrânia, o preço dos combustíveis, a inflação e as flutuações cambiais representam “muita incerteza”.

Questionada sobre a abertura de novas rotas, a CEO da TAP admitiu apenas que poderão ser relançadas rotas que foram suspensas antes da pandemia. Novos destinos estão, para já, descartados. “A nossa estratégia passa por reforçar o negócio core, por isso relançámos os destinos para o Brasil. Estamos a voar três vezes por semana para Porto Alegre e admitimos aumentar para cinco”, dependendo da procura. A época de inverno ainda está a ser trabalhada mas a CEO reconhece que as expetativas sobre novas rotas são “baixas”. Encerrada continuará a rota para Moscovo, por motivos “óbvios”.

A CEO da TAP respondeu ainda sobre a perda de slots, referindo apenas que este é “um processo independente” no qual a companhia não pode estar envolvida. A líder pediu, no entanto, para que a informação chegue “o mais depressa possível”, porque a empresa precisa da informação para “preparar a época de inverno”.

A TAP fechou o ano com prejuízos recorde de 1.600 milhões de euros, que foram causadas sobretudo pelos custos não recorrentes, de 1.024,9 milhões de euros, com o encerramento das operações de manutenção no Brasil. A empresa ainda tentou vender a operação, mas não identificou nenhuma “oportunidade”, pelo que avançou para o seu encerramento. Os custos desta operação já estão todos contabilizados, adiantou o CFO da TAP, Gonçalo Pires.