790kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

"Roar". Um livro de contos sobre mulheres transformado em série

Este artigo tem mais de 2 anos

Em cada episódio da série da Apple TV+ há uma espécie de lenda da qual devemos tirar uma moral. Mas talvez esta seja uma das fragilidades de "Roar": o quão pouco subtis são as suas metáforas.

Além de produtora, Nicole Kidman é uma das protagonistas da série criada por Liz Flahive e Carly Mensch
i

Além de produtora, Nicole Kidman é uma das protagonistas da série criada por Liz Flahive e Carly Mensch

Além de produtora, Nicole Kidman é uma das protagonistas da série criada por Liz Flahive e Carly Mensch

Caso seja, como eu, alguém com um coração mole para êxitos pop que ficam na cabeça, deixe-me já atirar-lhe o balde de água fria: nunca ao longo desta série se vai ouvir o tema “Roar”, daquela altura breve e equivocada em que Katy Perry parecia o futuro do cançonetismo orelhudo à base de glitter e refrões cantados aos berros. “Roar”, que agora se estreia na Apple TV+, é a transposição para o pequeno ecrã de uma coletânea de contos distintos, mas com dois pontos em comum entre si: terem sempre uma mulher como protagonista; e fazerem uso do realismo mágico, corrente artística que mistura o banal com o fantástico, o pragmático com o onírico.

O livro Roar (editado em Portugal como Garra, pela Suma de Letras) é da autoria de Cecelia Ahern, uma irlandesa de 40 anos que é um fenómeno literário desde os 21. O seu primeiro romance, P.S. – Eu Amo-te foi um considerável sucesso, tendo resultado em 2007 num filme com Hilary Swank e Gerard Butler, daqueles que aparentemente estão sempre a dar no Canal Hollywood quando calha a passarmos lá no zapping. Liz Flahive and Carly Mensch, as criadoras de “GLOW” (uma interessante série da Netflix sobre um grupo de wrestling feminino nos anos 80, infelizmente cancelada precocemente) resolveram pegar em Roar para continuarem a sua missão de criarem mais séries protagonizadas por mulheres e que, de algum modo, coloquem um holofote nas suas experiências e preocupações.

[o trailer de “Roar”:]

O resultado é então uma série em modelo de antologia, no qual cada episódio é uma história separada, com os seus próprios personagens e trama. O lado do realismo mágico, com laivos de futurismo, de non sense e por vezes de sci-fi, torna “Roar” numa espécie de “Twilight Zone” do feminismo. Todas as narrativas, mesmo as que começam de modo mais pragmático e explícito, descambam invariavelmente para alguma fantasia, tornado cada episódio numa espécie de lenda da qual devemos ordenhar uma moral da história. E é aqui que começa aquela que é, talvez, uma das fragilidades de “Roar”: o quão pouco subtis são as suas metáforas, tornadas literais em todos os episódios.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para isso, basta analisar os títulos de cada um dos capítulos. Títulos esses que, algumas vezes, constituem o chamado spoiler de um volte-face que seria mais interessante se surpreendesse o espectador. A saber, para cada um dos oito episódios: “A Mulher Que Desapareceu”, protagonizado por Issa Rae (“Insecure”); “A Mulher Que Comia Fotografias”, protagonizado por Nicole Kidman (uma das produtoras da série); “A Mulher Que Era Mantida Numa Prateleira”, protagonizado por Betty Gilpin (“GLOW”); “A Mulher Que Encontrou Marcas De Dentadas Na Sua Pele”, protagonizado por Cynthia Erivo (um fenómeno na Broadway quando protagonizou “A Minha Cor Púrpura”); “A Mulher Que Foi Alimentada Por Um Pato”, protagonizado por Merritt Wever (“Run”, “Nurse Jackie”); “A Mulher Que Resolveu O Seu Próprio Homicídio”, protagonizado por Alison Brie (“Mad Men”, “Community”); “A Mulher Que Devolveu O Seu Marido”, protagonizado por Meera Syal (“Goodness Gracious Me”); e “A Rapariga Que Adorava Cavalos”, protagonizado por Fivel Stewart (“Atypical”)

Praticamente todos os episódios usam uma certa dose de humor negro no seu conceito e nos seus diálogos, mas os diferentes tomos de “Roar” conseguem efetivamente ser distintos entre si. Desde o tipo de protagonistas — de diferentes idades, etnias e experiências de vida — ao próprio género cinematográfico dos episódios, que vão do western à fábula encantada com animais que falam. Apesar de existir uma coerência dos estilos de realização e até de escrita de guião, “Roar” padece de um mal geral das séries em antologia: há episódios muito melhores do que outros.

Merritt Wever, Alison Brie e Cynthia Erivo fazem parte do elenco de "Roar"

“A Mulher Que Era Mantida Numa Prateleira” mostra como Betty Gilpin é uma atriz que merece ser mais vezes protagonista, além de ser uma boa hipérbole da chamada “esposa troféu” e de ser uma espécie de “Boxing Helena” (um dos piores filmes de sempre) em bom. “A Mulher Que Encontrou Marcas De Dentadas Na Sua Pele” dirá sempre qualquer coisa a todas as mães que se sentem entaladas entre o profissional e o pessoal. “A Mulher Que Resolveu O Seu Próprio Homicídio” consegue um bom balanço entre comédia e grotesco e “A Mulher Que Devolveu O Seu Marido” é, provavelmente, o melhor episódio da série, sobre o que o tempo faz às relações (e é, curiosamente, o episódio com a protagonista mais velha, com 60 anos). Os restantes têm pontos fortes e fracos, mas serão mais esquecíveis. E alguns terão mesmo a sua dose de vergonha alheia, com uma cena de sexo entre uma mulher e um pato que infelizmente vai habitar na minha memória mesmo que eu a tente expulsar e mudar as fechaduras.

“Roar” é uma série com bons desempenhos (das protagonistas ao elenco secundário), com boas ideias e com uma estética interessante e, a espaços, fresca. Mas fica a ideia de que muitas vezes se limita a demonstrar em imagens o título do episódio, numa metáfora nem sempre subtil e quase sempre moralista qb. Talvez 30 minutos de duração por episódio não seja, por vezes, o suficiente para fazer mais do que o óbvio. Os temas são relevantes, da invisibilidade as mulheres negras à culpa materna, passando pelas relações amorosas tóxicas ao se uma mulher pode “agir como um homem”. E a experiência é, de grosso modo, prazerosa. Mas é mais fugaz do que aquilo que, calculo, as suas criadoras pretendiam.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora