Carta de protesto ou de denúncia? A Câmara Municipal de Setúbal voltou este sábado a insistir que alertou o Governo para as declarações da embaixadora da Ucrânia numa entrevista à CNN, em que esta afirmava que havia em Portugal cidadãos russos a receber nacionais ucranianos e a obter informações que podiam ajudar o governo de Vladimir Putin no conflito com a Ucrânia, — dando mesmo como exemplo a associação EDINSTVO, chefiada por Igor Khashin, um cidadão russo que colabora há anos com a Câmara Municipal de Setúbal.

Numa publicação, pelas 18h30, a autarquia comunista, presidida por André Martins, lamentava aquilo que considera de aproveitamento político do caso e sublinhava o facto de ter mantido sempre posições contra a intervenção da Rússia na Ucrânia. Antes, porém, voltou a insistir que perante a entrevista que a embaixadora ucraniana, Inna Ohnivets, deu a 8 de abril enviou logo “uma carta ao chefe do governo” em que apelava “com toda a veemência, que o senhor Primeiro-ministro” clarificasse aquelas informações com a embaixadora “assim como a veracidade das afirmações da diplomata no que respeita à conversa que terá mantido com a senhora secretária de Estado da Igualdade e das Migrações”. Uma carta que, segundo o Governo de António Costa, não era um pedido de esclarecimento das informações, mas um “protesto” em relação ao que a diplomata ucraniana tinha dito publicamente.

Das “ingerências” da embaixadora à “discrição” da associação. Afinal, o que dizia a carta da Câmara de Setúbal enviada a António Costa?

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“Fica claro que a Câmara Municipal solicitou com a máxima celeridade ao Governo que prestasse esclarecimento sobre as suspeitas levantadas pela senhora embaixadora a propósito da associação de imigrantes de Leste que colabora com a autarquia setubalense desde 2005”, lê-se neste segundo comunicado sobre o caso. No entanto, acrescenta a autarquia, não houve resposta. “Não tendo, contudo, até hoje obtido qualquer resposta. Não corresponde, pois, aos factos que a câmara municipal não tenha solicitado esclarecimentos ao senhor Primeiro-ministro”, afirma.

Mais. A autarquia diz ainda que o próprio Governo, perante as declarações desta representante diplomática, “deveria, de imediato, ter informado a Câmara Municipal de Setúbal, e as outras autarquias onde existem associações de imigrantes alvo de suspeitas, da necessidade de adotar medidas, o que não aconteceu, embora se saiba que é o Governo quem detêm os necessários instrumentos para averiguar acusações de espionagem”.

O caso dos refugiados ucranianos recebidos por russos em Setúbal (explicado em 17 respostas)

“Lamentamos que, tendo, supostamente, sido feitos alertas aos serviços de informação do Estado, de acordo com as afirmações do senhor Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, estes serviços não tenham informado as diversas Câmaras Municipais ou entidades que acolhem refugiados para a eventuais ações que possam configurar atos de espionagem”, diz.

Já quanto a Yulia Kashina, que é mulher de Igor Khashin e que trabalha na autarquia, o comunicado sublinha que  lhe foi atribuída nacionalidade portuguesa em 2007. “Ou seja, há 15 anos, tendo, por isso, dupla nacionalidade, e, desta forma, todos os direitos e deveres de qualquer cidadão português”, lembrando que esta jurista entrou nos quadros da câmara como técnica superior a 1 de dezembro de 2021.

“A EDINTSVO, a associação de imigrantes de leste visada neste processo, cooperou ininterruptamente com a Câmara Municipal de Setúbal desde 2005, por via de protocolos estabelecidos entre as duas partes. Nunca e em nenhuma circunstância foi esta autarquia informada por qualquer entidade oficial de atos ou condutas suspeitas da parte dos dirigentes desta associação”, reafirma, lembrando que todos os seus dirigentes, incluindo Igor Kashin, colaboram “desde há muito com entidades como o IEFP ou a Segurança Social”, tendo há poucas semanas colaborado com o SEF.