Faltam 3 dias para o 9 de maio, o Dia da Vitória. Em Mariupol, as ruas estão a ser preparadas para o feriado mais importante dos russos, aquele que marca a capitulação nazi na Segunda Guerra Mundial. Enquanto os últimos resistentes ucranianos continuam a lutar a partir da fábrica de Azovstal, os russos limpam as ruas principais de destroços, fazem desaparecer os cadáveres e as placas de sinalização são substituídas. Já não estão escritas em ucraniano, mas sim em russo. E algumas delas veem os seus nomes desaparecer, para serem substituídos por nomes antigos, anteriores à Revolução da Ucrânia de 2014 (EuroMaidan).

“Até agora, toda a ‘restauração’ limitou-se à mudança de sinalização rodoviária com o regresso aos nomes antigos, como na aldeia Nikolske”, escreveu Petro Andriushchenko, conselheiro do autarca de Mariupol, na rede social Telegram. Com o seu texto, partilha uma imagem onde se vê, caída no chão, a placa de Nikolske. No seu lugar, um grupo de homens coloca uma placa com o nome Volodarske.

Também o site da Câmara Municipal de Mariupol faz o mesmo alerta. “Os ocupantes destruíram a nossa cidade, mataram 20.000 pessoas e agora estão a mudar de direção. As pessoas, com os seus problemas vão esperar. Enquanto isso, em Mariupol é Idade Média. Moradores sem água, comida suficiente, remédios. Não há luz e nenhuma conexão normal.” Tal como Andriushchenko também partilham uma imagem. Desta vez, é o nome de Mariupol que muda. Deixa de estar escrito em ucraniano e passa a estar escrito em russo. 

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“Mariupol foi, é e será uma cidade ucraniana. Que ali os russos não fantasiavam…”, escreve a câmara no final da publicação.

A mudança de nomes é confirmada pela auto-proclamada República Popular de Donetsk (DPR), uma das regiões separatistas pró-russas, no seu site de notícias. No entanto, escrevem que a mudança de placas já começou há muito tempo.

A 4 de março, os sinais foram substituídos nas entradas e saídas do assentamento Volodarske, escreve o site, que cita informação divulgada pelo Ministério dos Transportes. “Iniciaram-se, na República, os trabalhos de substituição de placas informativas nos territórios libertados. Hoje, o trabalho foi realizado na vila de Volodarske. De acordo com o decreto do chefe do DPR, a justiça histórica foi restaurada — Volodarske foi devolvido ao seu nome nativo”. Previa-se também a troca de placas em Mariupol.

Em 2016, as autoridades ucranianas — naquilo que foi chamado de descomunização — mudaram os nomes de diversas cidades e vilarejos. Na altura, o Instituto Ucraniano de Memória Nacional publicou uma lista de cidades e aldeias cujos nomes, na sua opinião, simbolizavam o regime totalitário comunista e que, de acordo com a lei “Sobre a condenação dos regimes totalitários comunistas e nacional-socialistas (nazistas) na Ucrânia e a proibição da propaganda de seus símbolos” deveriam ser alterados.