“Têm sido dez semanas de puro horror para o povo do meu país. Dez semanas de sofrimento profundo que afetou todas as famílias ucranianas sem exceção.” Estas palavras foram ditas por Emine Dzheppar, vice-ministra dos Negócios Estrangeiros ucraniano, que falou, esta quinta-feira, ao Conselho dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Numa sessão em que ficou marcada pela abertura de um inquérito pelas alegadas violações de Direitos Humanos da Rússia em território ucraniano, Emine Dzheppar mostrou, por videochamada a partir Kiev, uma folha de papel com um desenho em tons negros aos membros do referido órgão da ONU.

Segundo Emine Dzheppar, o desenho pertence a um rapaz de 11 anos que só consegue comunicar através de “linhas pretas”. Isto porque a criança foi “violada em frente da mãe” pelas tropas russas. 

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“Ele perdeu a capacidade de falar após o que lhe aconteceu”, relatou Emine Dzheppar. O desenho que a representante ucraniana mostrou ao Conselho dos Direitos Humanos foi “o primeiro que fez com um grupo de psicólogos que estão a tentar que ele recupere”.

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A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, denunciou, na mesma sessão, a morte de civis em território ucraniano. “Este assassinato de civis aparenta ser intencional e é levado a cabo por snipers e por soldados. Os civis são mortos quando atravessam estradas ou quando saem dos seus abrigos à procura de comida e água. Outros são mortos quando estão a tentar fugir nos seus carros”, contou.

Como exemplo, Michelle Bachelet lembrou um episódio que ocorreu perto de Kiev: um casal e a sua filha de 14 anos foram atingidos pelos soldados russos “quando estavam a ir para casa”. “Os pais foram mortos e a criança ficou ferida.”

Além disso, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos assinalou que a guerra está a causar graves problemas de saúde pela falta de cuidados médicos e também pelo facto de as pessoas passarem semanas em caves.