As sanções a todas as equipas russas e bielorrussas foram transversais ao mundo do desporto, a maneira como as diferentes modalidades foram aplicando castigos em modalidades individuais vai variando entre competições e países. Desde o início da invasão à Ucrânia que as medidas são diferentes e o ténis funciona como exemplo paradigmático disso mesmo, com Roland Garros, segundo Grand Slam da época, a permitir a presença de todos desde que não exista qualquer tipo de apoio às ações de Putin e Wimbledon, terceiro Major da temporada, a vetar a participação de qualquer jogador da Rússia ou da Bielorrússia.

“Faria o mesmo”: atleta russo que usou símbolo pró-invasão não se arrepende e diz ter sido maltratado por ucranianos

Depois, ou em paralelo, têm existido sanções (pesadas) a todos aqueles que, de uma ou outra forma, vão apoiando as ações russas na guerra. Evgeny Rylov, campeão olímpico dos 100m e dos 200m costas nos últimos Jogos de Tóquio, foi castigado por nove meses depois de ter participado no desfile feito no Estádio Luzhniki, em Moscovo, a propósito dos oito anos da anexação da Crimeia. Ivan Kuliak foi o último.

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O jovem ginasta tornou-se notícia um pouco por todo o mundo quando, ainda na primeira semana do mês de março, decidiu subir ao pódio da prova das barras paralelas da Taça do Mundo de Doha, no Qatar, com o símbolo Z associado aos defensores da invasão – e tendo a seu lado precisamente um atleta ucraniano.

“Disseram-nos para cobrir a bandeira, foi o que fiz. Já tinham proibido tudo o que era possível, só quis mostrar de onde sou, apenas isso. Não tenho medo das consequências e não quero causar danos a ninguém. Se existisse uma segunda vez, voltaria a fazer o mesmo O ‘Z’ significa ‘Pela Vitória’, pela paz. E os atletas ucranianos têm-nos tratado mal, só vendo é que iriam acreditar”, justificou então o atleta de 20 anos numa mensagem que publicou através do Telegram, onde fez mais reparos ao que se passou no pódio.

Atleta russo investigado por usar símbolo pró-invasão em pódio de prova mundial de ginástica (que foi ganha por ucraniano)

“Os atletas estavam no pódio a gritar ‘Glória à Ucrânia’ e, de acordo com os regulamentos da competição, isso não é permitido. Mas ninguém lhes disse nada esse respeito”, apontou. Nas imagens que existem desse pódio das barras paralelas, prova que foi ganha pelo ucraniano Illia Kovtun e que teve como segundo classificado o cazaque Milad Karimi, consegue apenas perceber-se o nervosismo de Ivan Kuliak, que vai mordendo os lábios, bem como a tensão com Kovtun, que só saudou Karimi durante as medalhas.

“A FIG confirma que vai pedir à Gymnastics Ethics Foundation que inicie um processo disciplinar relativamente ao ginasta Ivan Kuliak, na sequência do comportamento chocante que teve na Taça do Mundo de Doha. A FIG adotou medidas contra a Rússia e a Bielorrússia a 4 de março. A partir de 7 de março de 2022 atletas e oficiais russos e bielorrussos, incluindo juízes, não poderão integrar competições da FIG”, anunciou então a Federação Internacional de Ginástica em comunicado. Agora, veio a decisão.

Ivan Kuliak, que entretanto já apelou da decisão que poderá ser entregue em 21 dias, ficará suspenso durante um ano (havendo ainda uma nuance: se as medidas contra Rússia e Bielorrússia se mantiverem em maio de 2023, poderá ter ainda de ficar de fora mais seis meses), terá de devolver a medalha de bronze e pagará ainda os custos do processo, além de ficar sem o prémio monetário pelo terceiro lugar.

Nascido em Kaluga, Ivak Kuliak começou cedo na ginástica por influência da mãe, representando há muitos anos a conhecida Escola de Ginástica Larisa Latynina com uma passagem pela Universidade de Smolensk. Em 2019 teve o primeiro grande ano no plano competitivo, ao sagrar-se campeão júnior do all-around e do solo, além de ser medalha de prata na barra horizontal. Essa participação valeu-lhe a ida ao Festival Olímpico da Juventude de 2019, onde ficou em segundo no all-around e por equipas e em terceiro no solo e nas argolas. Os feitos viriam a dar mais tarde o degrau de Mestre do Desporto pela Federação Russa de Ginástica. Em 2021, quando passou a integrar o projeto olímpico para Paris-2024, serviu o exército como uma espécie de doutrinação política na base militar em Balashikha.