O presidente da Câmara do Porto acusou, esta terça-feira, o BE de se apropriar das causas da comunidade LGBT+, acusação que a deputada Susana Constante Pereira rejeitou, defendendo que o partido está no movimento “desde o primeiro momento”.

A acusação do independente Rui Moreira surgiu após um pedido de esclarecimento da deputada do BE sobre o papel da câmara na organização do LGBT+ Music Festival, cujo cancelamento foi anunciado na segunda-feira.

“A iniciativa está a ser pensada à revelia e não em consonância com a organização histórica com 16 anos feita pela comissão organizadora da marcha do orgulho”, disse Susana Constante Pereira, acrescentando terem existido “outros sinais” no Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, que se assinalou no Porto com o hastear da bandeira em frente aos Paços do Concelho e nas juntas de freguesias de Campanhã e Bonfim.

À mesma hora em que pela primeira vez era hasteada a bandeira na Junta de Freguesia do Bonfim houve uma iniciativa à frente dos Paços do Concelho em que o executivo optou por estar, em que alguns vereadores optaram por estar, de costas voltadas para o aquilo que o movimento trouxe […], ao contrário da colocação de um mastro pela iniciativa de uma entidade de pendor comercial, que quer fazer das lutas ativistas um negócio”, afirmou Susana Constante Pereira.

As considerações da deputada levaram Rui Moreira a acusar o BE de “tentar capturar o movimento LGBT+ em Portugal”, o que considerou uma “vergonha” e um “ato social fascista”.

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“Não são donos de um movimento, nem proprietários de um movimento”, referiu o independente, acrescentando que “enquanto for presidente da câmara, o BE não se vai apropriar desses movimentos cívicos, deve participar neles, deve apoiá-los”.

“Censurar por apoiarmos aqueles que vocês não gostam? Como se porventura o movimento LGBT+ tivesse de ser trotskista? Não tem. Pode ser capitalista, socialista, social-democrata, liberal, pode ser tudo”, salientou.

Em resposta, Susana Constante Pereira assegurou que o partido “não se apropria de movimentos” e que, relativamente ao movimento LGBT+ “está e estará desde o primeiro momento” ao lado da comunidade.

“Desde o assassinato de Gisberta Júnior que o BE tem estado com outros ativistas e ignorar os restantes ativistas é ignorar e desmerecer o movimento”, afirmou a deputada, acrescentando que “seria bom dar um sinal ao movimento sobre quem do executivo vai estar na marcha do orgulho gay no dia 25 de junho”.

Rui Moreira disse que às marchas “vai quem quiser”.

Quanto aos apoios por parte da câmara ao LGBT+ Music Festival, o autarca adiantou que os mesmos foram solicitados pelo Museu dos Transportes para a organização de dois festivais e que a autarquia iria ceder o parque de estacionamento da Alfândega do Porto.

As afirmações de Susana Constante Pereira foram também alvo de critica do líder da bancada do PSD, Miguel Corte-Real, que acusou o BE de ter um “problema de identidade política”, e do líder da bancada do movimento do independente Rui Moreira ‘Aqui Há Porto’, Raul Almeida, que repudiou o sucedido e acusou o partido de “instrumentalizar um assassinato horrível”.

O LGBT+ Music Festival, marcado para o início de julho, no Porto, foi cancelado, anunciou na segunda-feira a organização, que estava a cargo da empresa Apollon, garantindo ter contactado quem tem bilhetes “sobre o processo de reembolso”.

A Apollon é também promotora do Trace Made in Africa, um festival “afro-urbano, de música, moda dança e arte”, que vai decorrer entre sexta-feira e domingo, na Alfândega do Porto.