“Tem de ser a missão certa, no momento certo.” Foi assim que Marcelo Rebelo de Sousa, que falava na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, o maior evento de sempre dedicado ao tema, resumiu a importância do encontro. Esta segunda-feira, em Carcavelos, eram esperadas mais de 7.000 pessoas, entre elas representantes de 140 países. O encontro em Lisboa é a segunda edição da conferência, depois de a primeira ter acontecido em Nova Iorque, há cinco anos.

Logo no início do seu discurso, o Presidente da República foi afirmativo: é “a conferência certa, no momento certo, com o enfoque certo, e o secretário-geral da ONU certo”.  Marcelo Rebelo de Sousa começou por fazer fortes elogios a António Guterres, antigo primeiro-ministro português: é “uma honra e um prazer” ter o secretário-geral da ONU neste encontro, “um homem de princípios e convicções”, um promotor “da paz e da justiça social”.

“Portugal é o que é graças aos oceanos”

Portugal é o que é graças aos oceanos, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, destacando a sua importância geopolítica. “Portugal é uma plataforma entre oceanos, continentes, culturas e civilizações”, acrescentou o Presidente da República, frisando que assim foi no passado, assim é no presente e assim será no futuro.

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Voltando à sua ideia inicial, Marcelo Rebelo de Sousa especificou que o encontro acontece no “tempo certo, porque os oceanos são centrais no poder geopolítico, saúde, recursos económicos, mobilidade, migrações, desenvolvimento científico e tecnológico”. E relembrou que a conferência teve de ser adiada devido a vários fatores, como a pandemia de Covid-19, acabando por coincidir com a Cimeira do G7 e a da NATO, que arranca terça-feira.

O Presidente da República português frisou ainda que é o tempo certo, porque devemos recuperar o tempo perdido e “dar uma hipótese à esperança”, antes que seja tarde demais. “Os políticos vão, os oceanos ficam”, rematou. Nem a pandemia, nem a guerra, nem a crise devem adiar mais a atuação necessária para salvar os oceanos, defendeu. “A urgência da pandemia ou da guerra não podem ser a desculpa para esquecer os desafios estruturais duradouros e os seus efeitos na nossa vida do dia a dia.”

Voltando a falar do papel da água no planeta, Marcelo recordou que “os oceanos existem há milhões e milhões de anos”, muito antes de existir o homem, e continuarão a existir por “milhões e milhões de anos”, desde que a Humanidade “deixe de matá-los”.

Antes de o Presidente da República falar, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, deu como oficialmente aberta a Conferência dos Oceanos. Desta vez, a organização cabe a Portugal e ao Quénia. O lema é “Salvar os Oceanos, Proteger o Futuro”.

Guterres pede desculpa aos mais novos pela falta de atenção aos oceanos

Esta segunda-feira de manhã, em entrevista à agência Lusa a propósito do encontro, o ministro do Ambiente avisou que os portugueses vão ter de se habituar a viver com menos água. O Governo, disse Duarte Cordeiro, aplicará “as restrições que forem necessárias” se começar a faltar água.

“Não vale a pena, quem promove determinado tipo de investimentos ou infraestruturas, não ter em consideração que a água é um recurso escasso. E não temos qualquer tipo de limitação na aplicação de restrições quando tal é necessário. É o que temos feito”, afirmou o ministro, avisando que quem investe sem ter em conta a escassez de água pode ter consequências. O mais importante, garantiu, é haver água para consumo humano.

Portugal tem de se habituar a viver com menos água, avisa ministro do Ambiente

Também em entrevista à Lusa, o líder da delegação russa — presença que suscitou muita polémica — alertou que a suspensão da cooperação na área do clima ou proteção ambiental pode ter um “efeito catastrófico” para o planeta e a sua recuperação “exigir décadas”.

“A suspensão da cooperação na área do clima ou da proteção ambiental não afetará nada além de impedir o progresso nessas áreas. Isso pode ter um efeito catastrófico para o nosso planeta, sendo que a recuperação poderá exigir décadas”, disse Ruslan Edelgeriyev.

Suspensão da cooperação na área do clima pode ter “efeito catastrófico”