Nasceu em Moscovo, decidiu passar a representar o Cazaquistão em 2018, já fez história pelo país que a acolheu: aos 23 anos, Elena Rybakina venceu Ons Jabeur (6-3, 6-3, 6-2) para conquistar Wimbledon e tornou-se a primeira tenista cazaque a ganhar um Grand Slam.

Mas a final feminina de Wimbledon, este sábado, fez história logo à partida. Ons Jabeur era a primeira tenista árabe e africana, homem ou mulher, a chegar à final de um Grand Slam na Era Open. Já Elena Rybakina era a primeira cazaque (nasceu em Moscovo mas representa o Cazaquistão desde os 19 anos) a alcançar o derradeiro encontro de um dos quatro principais torneios do circuito, para além de ser a finalista mais jovem desde Garbiñe Muguruza em 2015, com apenas 23 anos.

Para chegar à final, Rybakina venceu CoCo Vandeweghe, Bianca Andreescu, Zheng Qinwe, Petra Martić, Ajla Tomljanović e Simona Halep. A número 23 do ranking WTA demonstrou sempre estar a um grande nível ao longo do torneio, com exibições ofensivas consistentes e muito assentes no serviço forte e rápido, claramente potenciado pelo metro e oitenta e quatro de que beneficia.

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Nascida em Moscovo em 1999, a tenista chegou a ser número 3 mundial enquanto júnior e foi convidada para representar o Cazaquistão em 2018, aos 19 anos, aceitando o desafio depois de adquirir a nacionalidade cazaque e apostando principalmente no apoio financeiro que lhe foi garantido. Nas últimas semanas, quando questionada sobre o facto de ter nascido na Rússia e de os atletas russos terem sido afastados de Wimbledon na sequência da invasão da Ucrânia, Rybakina nem sequer deu azo à polémica.

“Jogo pelo Cazaquistão há bastante tempo. Confiaram em mim, sinto-me muito feliz por representar o Cazaquistão. Joguei os Jogos Olímpicos, a Fed Cup… Nasci na Rússia, sim, mas represento outro país. Nem sequer passo tempo na Rússia. Treino na Eslováquia e no Dubai e estou sempre a viajar. Até o presidente da minha Federação veio ver-me jogar, é uma honra”, ressalvou a tenista, que em Tóquio falhou a medalha de bronze ao perder com Elina Svitolina e que teve precisamente no presidente da Federação cazaque o adepto mais entusiasta nas bancadas.

No court central do All England Club, Ons Jabeur mostrou superioridade desde o início e aproveitou os 17 erros não forçados de Elena Rybakina para ganhar o primeiro set (6-3), com a cazaque a demonstrar muitas dificuldades na hora de responder aos slices da adversária. Rybakina respondeu no segundo set, levando Jabeur a vários erros que não tinham aparecido até então e carimbando sete winners em três jogos e meio — sendo que, no primeiro set inteiro, tinha feito os mesmos sete. A tenista de 23 anos encontrou o seu melhor ténis nesta altura, tornando a final mais competitiva e relançando completamente o desfecho, acabando por vencer o segundo set (6-2) e empatar a partida para a levar para um terceiro e derradeiro set.

A final feminina de 2022 chegou assim aos três sets — algo que também aconteceu no ano passado, com a vitória de Ashleigh Barty perante Karolína Plíškovám, mas que antes não ocorria desde que Serena Williams derrotou Agnieszka Radwańska em 2012, tendo acontecido apenas outras três vezes nos últimos 20 anos. E aí, Elena Rybakina fez aquilo que duas horas antes parecia impossível: manteve a concentração, forçou Ons Jabeur a inúmeros erros improváveis, assegurou os serviços brutais a centenas de quilómetros por hora e venceu o terceiro set para conquistar Wimbledon (6-2), tornando-se a vencedora mais jovem desde Maria Sharapova em 2011.

Assim, e depois de um primeiro set em que tudo parecia perdido, Elena Rybakina atingiu o ponto alto da própria carreira — o melhor resultado em Grand Slams era mesmo uma chegada aos quartos de final de Roland Garros em 2021 — e confirmou a ideia de que continua a ser, nesta altura, uma das tenistas mais promissoras para acompanhar nos próximos anos. Mais do que isso, Elena Rybakina conseguiu o feito de ser uma atleta nascida na Rússia a ganhar Wimbledon no ano em que Wimbledon excluiu todos os russos e bielorrussos.