Tchizé dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, assume ter uma “postura contundente” no que diz respeito ao local em que deve ser realizado o funeral do pai e também nas críticas que tem endereçado ao atual chefe de Estado angolano, João Lourenço.

Numa entrevista à CNN Portugal marcada por várias acusações, Tchizé dos Santos afirmou que tudo o que envolve as cerimónias fúnebres do progenitor foi “premeditado”, apontou o dedo à equipa médica que acompanhou JES e também criticou o governo português, que — diz — lhe deve uma “indemnização”.

A autópsia: “Eu não fiz nenhuma acusação de envenenamento, mas de homicídio”

As conclusões preliminares da autópsia a José Eduardo dos Santos desmentem a tese de que houve qualquer irregularidade na morte do ex-Presidente angolano. Tendo interposto uma providência cautelar para conseguir que essa autópsia fosse realizada pelas autoridades espanholas ainda antes de o corpo de JES poder ser transferido para Angola, Tchizé dos Santos garantiu: “Eu não fiz nenhuma acusação de envenenamento, fiz uma denúncia de homicídio por negligência, por omissão, por maus-tratos. Soube que o meu pai esteve 16 horas sem comer e foi-me negada a possibilidade de ter um enfermeiro a tempo inteiro para o acompanhar. Quero investigar o deteriorar da saúde do pai, se foi devido às consequências de ações passadas.”

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A equipa médica “subordinada” a João Lourenço

Ainda sobre a condição clínica do antigo Presidente de Angola, a filha de JES defende que a equipa médica que acompanhava o pai há décadas foi conivente “e está subordinada a João Lourenço”, incluindo o médico João Afonso, que “andou a proibir que médicos espanhóis consultassem [o ex-Presidente angolano] e proibiu que lhe fossem dadas consultas semanais”, acusou Tchizé dos Santos.

João Lourenço, o “ditador perigoso que persegue” Tchizé dos Santos

Na mesma linha das acusações que tem lançado nos últimos dias, Tchizé dos Santos disse, na entrevista à CNN, que o Presidente de Angola escolheu José Eduardo dos Santos como o seu “alvo a abater”. “Ele queria destrui-lo. E conseguiu”, lamentou Tchizé, que contou que também foi “ameaçada de morte” e foi “perseguida”, alegadamente, por elementos da equipa do atual chefe de Estado angolano, que a “odeia profundamente”.

Para a filha de JES, João Lourenço é um “ditador corrupto” que não tem “conhecimento de princípios basilares como a separação de poderes, o Estado de direito, a constituição da República Angolana e os estatuto do MPLA”.

Acusando João Lourenço de ter uma “milícia em Barcelona” que mantinha José Eduardo dos Santos “refém”, Tchizé dos Santos assegurou que não “negoceia” a questão do funeral e da trasladação do corpo da cidade catalã para Luanda com criminosos. “Eu não irei pôr o pé em nenhuma instituição angolana enquanto for Presidente João Lourenço”, declarou.

Tchizé dos Santos diz que “corre perigo de vida” em Angola, mas mostra-se confiante, porque “as sondagens” que consultou para as próximas eleições não dão vitória a João Lourenço.

Ana Paula dos Santos, a ex-primeira-dama que teve um “comportamento indigno”

A distribuição de críticas e epítetos não se esgotou no atual Presidente angolano. Nessa lógica, Tchizé dos Santos considera que Ana Paula dos Santos, a última mulher de José Eduardo dos Santos (mas de quem estaria, atualmente, separado de facto), é uma “impostora” com um “comportamento indigno” que invadiu a casa do pai “dois meses antes de o pai falecer”. “Se eu contasse as bebedeiras, as fotografias que corriam nas redes sociais, em que estava agarrada a um jovem…”

Além disso, a filha de José Eduardo dos Santos afirmou que Ana Paula dos Santos é conivente com João Lourenço.

O aviso a Isabel dos Santos: “Se for ao funeral, será uma grande traidora”

Questionada sobre se sabe se alguns dos irmãos estará presente no funeral do pai, caso se realize em Luanda — e numa altura em que membros do Governo de Luanda estão em Barcelona para chegar a acordo com a família de Zedú em relação às cerimónias fúnebres —, Tchizé dos Santos disse não saber com grande detalhe quem vai ou não, mas assegurou que os quatro filhos de José Eduardo dos Santos com Ana Paula irão às cerimónias fúnebres.

No entanto, relativamente aos restantes, Tchizé dos Santos sabe que Coréon Dú não irá ao funeral. Sobre a irmã mais velha, Isabel dos Santos, deixa-lhe um aviso: “Será um grande erro se estiver de acordo com motivações pessoais e financeiras. Se for ao funeral, será vista como uma grande traidora, como o João Lourenço”.

A filha de José Eduardo dos Santos adiantou ainda haver uma “maioria” de irmãos que a apoia na providência cautelar, um recurso aos tribunais que acabou por ser apenas interposto por Tchizé dos Santos.

“Angola não é um país que produz rosas”

Voltando às acusações ao governo angolano, Tchizé dos Santos referiu que as cerimónias fúnebres, a semanas das eleições gerais no país, têm como intuito o “aproveitamento político”. “Acho que isto foi tudo premeditado”, confessou, dando três exemplos para demonstrar o seu ponto de vista.

O primeiro relaciona-se com as rosas presentes nas cerimónias de homenagem a JES em Luanda, que tiveram início esta segunda-feira e que contaram com a presença de João Lourenço. Tchizé referiu-se aos “milhares de flores nos comités do MPLA em que a foto de João Lourenço é maior do que a de José Eduardo dos Santos em Angola”. “Angola não é um país que produz rosas”, disse, para explicar que defender que já tudo estaria planeado com antecedência. Além disso, indicou que “foram empregues metros e metros de tapetes vermelhos” e apontou para “as molduras de madeira espalhadas em 164 municípios angolanos”. “Como é que o governo arranjou molduras? Toda a gente sabe que é difícil.”

As acusações a Portugal, o país que “baixa as orelhas”

Durante a entrevista, Tchizé dos Santos confidenciou estar em Espanha, perto de Barcelona, de forma a poder acorrer a qualquer situação que possa envolver a trasladação do corpo do pai.

Além disso, numa acusação dirigida a João Lourenço, a filha de José Eduardo dos Santos aproveitou para criticar as autoridades portuguesas. Dizendo sentir-se segura em Espanha — ao contrário do que acontece em Portugal ou em Angola —, Tchizé dos Santos afirmou que “Espanha não é Portugal”. “Quando João Lourenço ameaça cortar as relações diplomáticas, Portugal foge com o rabo entre as pernas.”

“O governo português baixa as orelhas”, prosseguiu, salientando também que Portugal (e também Angola) lhe devem uma “indemnização”. “O Estado português deve-ma”, declarou, sublinhando que foi alvo de “crimes contra os Direitos Humanos”, algo que promete “levar à justiça europeia” caso não se resolva nos tribunais portugueses.