“Não é só uma exposição de fotografia”. Foi assim que o fotojornalista do Observador João Porfírio apresentou, na tarde deste sábado, na antiga lota de Portimão a sua exposição “75 dias na Ucrânia” — que, mais do que uma exposição de fotografia, é uma experiência audiovisual construída com o objetivo de fazer com que o que se está a passar na Ucrânia “não caia no esquecimento”.

O fotojornalista, que passou mais de dois meses em território ucraniano em reportagem, a cobrir a guerra provocada pela invasão russa, abriu a mostra — que estará na antiga lota até dia 16 de outubro — a explicar às várias dezenas de pessoas presentes que a ideia é “trazer o máximo da Ucrânia em guerra” para Portugal, para que quem visita a exposição possa “experienciar, em todos os sentidos”, as dificuldades que os ucranianos estão a passar.

Isso mesmo foi, aliás, reconhecido por uma refugiada ucraniana que está agora no Algarve, com a filha, mas cuja família continua a viver na Ucrânia, e que fez questão de estar presente para ver as fotografias e o restante material, com que acabaria por se emocionar. O momento emotivo marcou a inauguração e a mulher ucraniana não saiu antes de cumprimentar João Porfírio e de lhe agradecer pelo trabalho feito — seja na Ucrânia ou agora em Portugal, para onde traz as histórias de quem conheceu por lá.

FOTO ANDRÉ DIAS NOBRE

Com esse objetivo de mostrar as dificuldades dos ucranianos, a exposição, que conta com a curadoria do também fotojornalista Mário Cruz, vencedor de dois prémios World Press Photo, conta não só com um total de 26 fotografias da autoria de João Porfírio, a juntar a alguns vídeos que gravou na Ucrânia, como também objetos recolhidos em território ucraniano e trazidos para Portugal.

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FOTO ANDRÉ DIAS NOBRE

O cenário recria ainda um dos bunkers onde os ucranianos tentam proteger-se dos bombardeamentos, assim como a réplica de um carro civil baleado no qual seguia uma família ucraniana que fugia de Irpin (parte da qual acabou por morrer durante a fuga) — no mesmo espaço, pode ver-se um vídeo de cinco minutos com trabalhos publicados, desde o início da guerra, no Observador.

Uma exposição contra o esquecimento: Portimão recebe “75 dias na Ucrânia”, do fotojornalista João Porfírio

Na inauguração ouviu-se o quinteto da orquestra Sem Fronteiras, do maestro português Martim Sousa Tavares — música que tocará durante a exposição e que será interrompida pelas sirenes de emergência que soam em território ucraniano, para avisar a população para o perigo de bombardeamento iminente. Na inauguração, o quinteto começou logo por tocar o hino da Ucrânia.

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“Os jornalistas nunca são notícia”, explicou João Porfírio — mas, neste caso, a exposição não é tão focada nas “dificuldades de fazer a cobertura de uma guerra”, mas antes nas provações por que está a passar a população ucraniana. Isso mesmo explicou na visita guiada que fez nesta primeira tarde da mostra, durante a qual foi recordando a história associada a cada fotografia.

A inauguração contou com a presença de António Carrapatoso, fundador e presidente do Conselho de Administração, que aproveitou para deixar rasgados elogios ao fotojornalista: “O João está connosco no Observador há muito tempo e personifica em grande medida aquilo que queremos que o Observador seja: juventude, competência, criatividade e coragem. Quando começou a guerra foi uma das pessoas que se chegaram logo à frente”. Depois disso, Porfírio passou, acompanhado por vários repórteres do Observador, estes 75 dias em cidades como Kiev, Bucha, Irpin, Borodianka, Zaporíjia, Hostomel, Kharkiv, Mikolaiv, Odessa e Lviv.

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Sendo a guerra um acontecimento que ainda está a decorrer, montar a exposição requer ainda um “grande trabalho de reflexão”, como notou Mário Cruz na abertura da mostra. “O trabalho do João Porfírio ficou na nossa memória — e estou confiante que esta exposição também ficará.”

Quem também marcou presença foi a presidente da Câmara de Portimão, a socialista Isilda Gomes, que frisou a ligação do fotojornalista ao município, de onde é natural: “Os portimonenses são assim: ousados. O João é filho desta terra”.

FOTO ANDRÉ DIAS NOBRE

E frisou, de resto, a importância do dia que marcou uma dupla inauguração: é que também o espaço da antiga lota, na zona ribeirinha da cidade, recebeu assim a sua primeira exposição depois de ter estado ao abandono e de ter sido requalificada. “Nada melhor para inaugurarmos este espaço do que esta exposição: é um alerta para cada um. Ninguém sobrevive sozinho: precisamos permanentemente uns dos outros.”