Embaixadores presentes no encontro desta segunda-feira com o Presidente brasileiro rejeitaram a falta de fiabilidade das urnas eletrónicas alegada por Jair Bolsonaro, considerando tratar-se de uma estratégia eleitoral falhada, a menos de três meses das presidenciais.

Após o evento, um grupo de diplomatas presentes apontaram à imprensa a falta de evidências que sustentem essas teorias da conspiração difundidas a partir do Palácio do Planalto, sede do Governo brasileiro.

Alguns embaixadores presentes na apresentação liderada por Bolsonaro consideraram que o encontro teve objetivo de colocar em prática uma estratégia “trumpista”, que foi adotada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump que colocou em causa a fiabilidade do processo de votação por correio nos Estados Unidos ao perceber que perderia a reeleição para o atual chefe de Estado norte-americano, Joe Biden.

Numa apresentação marcada por erros de ortografia e de tradução, Bolsonaro tentou fazer com que os embaixadores de uma dezena de países, incluindo o português Luís Faro Ramos, concordassem com alegados riscos para a democracia que poderiam surgir nas próximas eleições do Brasil em outubro, nas quais ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece como favorito e lidera todas as sondagens já divulgadas.

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Segundo os diplomatas consultados pelo jornal “O Globo”, Bolsonaro não apresentou nenhuma evidência para sustentar as suas teorias e os constantes ataques que faz às urnas eletrónicas, que acusou de serem pouco transparentes e vulneráveis.

Alguns desses embaixadores afirmaram estar preocupados com a democracia no Brasil. Entre eles, um indicou que confia que as instituições do país funcionem e possam fomentar um entendimento entre Bolsonaro e a justiça para que as eleições ocorram normalmente e o resultado não seja questionado.

Outros embaixadores com quem a imprensa local pôde falar, na condição de preservar o anonimato, disseram que, além de não haver nada que sustente as teorias sobre um possível ataque de computador às urnas eletrónicas adotadas no Brasil, Bolsonaro mostrou que os seus recorrentes problemas com os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) têm um “forte caráter político“.

Durante essa reunião, Bolsonaro tentou desacreditar o sistema eleitoral brasileiro e os juízes do tribunal encarregados de garantir o bom funcionamento das eleições, segundo um dos diplomatas presentes. Para outros, o que mais chamou a atenção foram os ataques ao ex-presidente Lula da Silva.

Os embaixadores revelaram que Bolsonaro questionou a ideia de quem defende o reconhecimento imediato dos resultados eleitorais.

Dezenas de embaixadores participaram do encontro no Palácio da Alvorada, em Brasília. Entre eles estava o embaixador suíço em Brasília, Pietro Lazzeri, o único que preferiu comentar o encontro sem manter o anonimato.

Numa mensagem publicada no seu perfil no Twitter, Lazzeri confirmou a sua presença no encontro e indicou que confia e deseja ao povo brasileiro que as próximas eleições “serão mais uma celebração da democracia e das instituições“.

Entre os embaixadores convidados figuraram, além do português Luís Faro Ramos, o embaixador da Rússia, Alexei Labetsky, da França, Brigitte Collet, da Espanha, Fernando Garcia Casas, do Uruguai, Guillermo Valles Galmés, da Itália, Francesco Azzarello, do Marrocos, Mohamed Louafa, da Palestina, Ibrahim Alzeben, e da Colômbia, Dario Montoya, e o encarregado de negócios dos Estados Unidos, Douglas Koneff.

As embaixadas do Japão e da Coreia do Sul justificaram a ausência alegando outros compromissos, enquanto as delegações da Argentina, China e do Reino Unido não foram convidadas.

Oposição pede à Justiça que investigue Bolsonaro por ataque às eleições em encontro com embaixadores

Parlamentares de oposição ao Governo brasileiro pediram esta terça-feira que o Supremo Tribunal Federal (STF) investigue o Presidente do país, Jair Bolsonaro. Na queixa apresentada ao STF, os parlamentares afirmam que Bolsonaro terá cometido crime contra o Estado democrático, improbidade administrativa, propaganda eleitoral antecipada e abuso dos poderes político e económico.

O deputado federal Alencar Santana, do Partido dos Trabalhadores (PT), informou num vídeo divulgado nas redes sociais que deu entrada com a queixa pedindo a investigação contra o chefe de Estado brasileiro na qualidade de líder da minoria.

“Entramos no STF contra o Presidente, uma notícia crime, pelas barbaridades, pelas violências e pelos ataques que ele fez ontem na reunião com os embaixadores”, afirmou Santana.

A queixa, publicada na íntegra pelo parlamentar, alega que “o Presidente da República voltou a questionar a lisura do processo eleitoral brasileiro, de uma forma ainda mais agressiva e chocante, o que expõe seriamente a imagem do Brasil no cenário internacional, significando grave ameaça ao Estado democrático de Direito, pois afronta a soberania popular a depender do possível resultado do pleito de 2022″.

“O cargo de Presidente da República não pode ser usado para subverter e atacar a ordem democrática, criar caos e desestabilizar instituições“, acrescentou.

Há também descrição sobre os outros alegados crimes que terão sido praticados pelo Presidente brasileiro nessa reunião com diplomatas, segundo os deputados da oposição.