Luís Marques Mendes apelida de “teatro político” o confronto entre Chega e Santos Silva. “Este conflito só interessa mesmo à bolha política e mediática. Não diz nada ao povo. É tudo artificial. É tudo cheio de cinismo”, declarou o ex-líder do PSD nos habituais comentários na SIC.

Para Marques Mendes, há, no entanto, quem beneficie destas “manobras”. Neste caso, o Governo estará a lucrar já que, “enquanto se discute o ‘sexo’ dos anjos, tenta desviar as atenções dos problemas reais do país – os problemas da saúde e da inflação, por exemplo”. Também o Chega lucra porque “mostra que faz muita oposição”, mas Marques Mendes considera que o que faz é “má oposição”. É que o ataque do Chega aos imigrantes “é o maior disparate e a maior injustiça do mundo.”

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Marques Mendes tinha admitido nos comentários da semana passada que o Governo em setembro deve lançar um apoio “bem mais robusto às famílias” mais pobres e às empresas mais frágeis, sendo, por isso, “muito provável” que faça um apoio intercalar ou antecipado das pensões de reforma, não deixando tudo para 2023“.

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Esta semana volta a referir a “folga” que o Governo tem, nas contas nacionais, para aprovar apoios sociais às famílias mais pobres, às empresas muito afetadas e aos pensionistas. “Espero que o Governo prepare um um pacote verdadeiramente robusto para setembro, porque é preciso que as pessoas sintam vantagens desta cobrança. É socialmente indispensável”, até porque Marques Mendes antecipa que o défice possa ficar abaixo do previsto nos 1,2% e 1,4% do PIB e a dívida pública em percentagem do PIB vai ficar abaixo dos 120% do PIB.

Isto porque, descreve Marques Mendes, o Estado está a ganhar com a inflação:

  • Receita do IVA: o Governo previa este ano um crescimento de 10,7%. Até junho, a receita do IVA está a crescer 26,9% (mais do dobro);
  • Receita do IRS: o Governo previa um crescimento de 4,7%. Até junho, o crescimento é de 12,3% (quase três vezes mais);
  • Receita total: o Governo previa um crescimento de 6,7%. Até meio do ano, o crescimento é de 29,7%.  Em valores absolutos mais de 4 mil milhões de Euros de receita cobrada.

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E sobre a polémica do dia, depois de Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, ter dito que podia haver aumentos de 40% na fatura de eletricidade em agosto, Marques Mendes diz que “se isto suceder é uma calamidade”.

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Numa outra polémica, sobre a eventual taxação dos chamados lucros caídos do céu à banca e à energia (como Espanha fez), o comentador considera que, embora sedutora, “é um bocadinho populista: os ricos que paguem a crise.”

Considera Marques Mendes por um lado que “se as empresas têm mais lucros, ainda bem, porque pagam mais impostos ao Estado e têm mais condições para fazerem novos investimentos, gerando mais riqueza e mais emprego”, por outro lado deixa a pergunta no caso de essas empresas mais tarde virem a ter prejuízos: “Será que, mantendo a coerência, o Estado lhes vai dar um subsídio ou uma compensação? Claro que não” E, por fim, “Portugal já tem a segunda taxa mais alta de IRC na UE (a seguir a Malta). Os nossos principais concorrentes na atração de investimento têm taxas mais baixas. Se agravarmos ainda mais o IRC, damos um sinal errado aos investidores”.

Por isso, conclui: “A solução não é lançar novos impostos. A solução é levar as empresas, designadamente as de energia, a reinvestirem os lucros extraordinários que têm em vez de distribuírem dividendos pelos acionistas”.

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Problema na segurança é o mesmo da saúde, da justiça ou da educação. “Má organização”

“O nosso grande problema na segurança é o mesmo da saúde, da justiça ou da educação. É um problema de má organização. Temos recursos, mas estão mal distribuídos”, comenta Marques Mendes, na habitual rubrica de domingo na SIC, deixando o desafio ao Ministério da Administração Interna: “colocar mais polícias na rua e pôr funcionários civis a fazer trabalhos administrativos.”

Na segurança, Marques Mendes mostrou os números que sustentam esta conclusão.

  • Portugal tem um rácio de 443 polícias por 100 mil habitantes. “Estamos muito melhor que países como a Itália, Espanha, França e Alemanha. E muito acima da média europeia. Logo, estamos bem quantitativamente”;
  • No conjunto dos 27, só três países têm um “rácio melhor” (Chipre, Grécia e Croácia).
  • Em matéria de gastos públicos com segurança Portugal também está acima da média da UE (1,9% do PIB);
  • Só mesmo em número de mulheres nas forças de segurança “estamos mal. Aí somos o pior país da UE”.