Mais de cinco meses depois do início da invasão russa da Ucrânia, a ajuda humanitária continua a não “cruzar as frentes de batalha” para chegar à população em territórios ocupados por Moscovo, adiantou esta segunda-feira à Lusa fonte da ONU.

“Desde o começo da guerra, não conseguimos cruzar ainda as frentes de batalha e levar suprimentos, ajuda humanitária, para a população que está do outro lado, nas áreas que não estão agora sob o controlo do governo ucraniano”, explicou o porta-voz do gabinete humanitário das Nações Unidas na Ucrânia, Saviano Abreu.

Apesar disso, mais de 11 milhões de pessoas na Ucrânia já receberam ajuda humanitária nos últimos cinco meses, como comida, água potável, proteção, abrigo e educação para as crianças que tiveram que sair das escolas das suas regiões, apontou.

“Mais de 11 milhões de pessoas receberam a ajuda humanitária e ainda não é suficiente”, frisou.

O trabalhador humanitário falava à agência Lusa sobre a retoma das exportações de cereais ucranianos, no quadro dos acordos assinados pela Ucrânia e Rússia, que levantaram o bloqueio russo no Mar Negro, e que foram mediados pela Turquia e ONU.

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A saída do primeiro cargueiro com 26 mil toneladas de milho é um exemplo de que é possível fazer acordos quando há “vontade política”.

Mas Saviano Abreu apontou que o mesmo não tem acontecido em relação à ajuda humanitária, onde estes governos não têm cumprido “nenhuma das obrigações de acordo com o direito internacional humanitário, de respeitar a população civil”.

Precisamos que [o acordo para exportações de cereais] vá mais adiante e que, por exemplo, a ajuda humanitária na Ucrânia possa ser também oferecida às pessoas que precisam dela desesperadamente, nas áreas que não estão sob o controlo do governo da Ucrânia”, alertou.

Saviano Abreu, que está na Ucrânia desde março, assegurou que a ONU está a trabalhar “sem parar dia e noite” para garantir o acesso de ajuda a toda a população.

O porta-voz do gabinete humanitário da ONU explicou que há operações humanitárias que já se encontravam na região do Donbass, onde o conflito começou em 2014, mas que desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, esse processo de ajuda deixou de acontecer nas regiões separatistas pró-Rússia.

“As Organizações Não Governamentais (ONG) ou organizações da ONU que estão lá, estão sem capacidade para ajudar nessas áreas, bem como naquelas que foram tomadas mais recentemente, onde mudou o controlo do governo para a Federação Russa ou aliados”, sublinhou.

Situações de crise humanitária como a de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, onde a ajuda que chegou “foi mínima” por organizações já implementadas, ou a situação muito relatada da retirada de civis da fábrica de Azovstal, foram exceções.

“Só entramos, e eu estava lá nessa missão, quando fizemos a retirada dos civis de Azovstal”, sublinhou, referindo que a situação de falta de ajuda continua a ocorrer em muitas zonas da Ucrânia.