Vai haver menos produção cerealífera este ano devido à seca. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a campanha cerealífera deste ano será “fortemente marcada pela seca severa a extrema que acompanhou grande parte do ciclo vegetativo dos cereais de inverno”. E por isso a atual campanha “deverá ser a segunda pior desde que existem registos sistemáticos (105 anos), apenas superior à produção de 2012 e próxima da de 2005 (igualmente anos de secas extremas).”

Julho foi mesmo o mais quente desde 1931, lembra o INE e há bacias hidrográficas com baixos níveis.

A campanha de cereais foi, assim, condicionada pela seca durante a fase de desenvolvimento, “com muitas searas a apresentarem povoamentos pouco homogéneos e espigas curtas”. Na fase de enchimento do grão houve falta de humidade dos solos e temperaturas elevadas. E na fase da colheita, que ficou concluída em julho, houve restrições ao uso de máquinas agrícolas devido ao risco de incêndio.

Com todas estas situações, “embora existam searas com produtividades e qualidade aceitáveis, a maior parte das áreas colhidas apresentam quebras de produção na ordem dos 30% no trigo mole, triticale e cevada, 25% na aveia e 15% no trigo duro e centeio”. Daí que deva mesmo ser a “segunda pior” desde que existem registos, apenas superior à campanha de 2012.

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Fonte:INE

Mas não é só nos cereais que está a ser um mau ano agrícola.

A seca e as altas temperaturas obrigaram à antecipação da colheita de batatas, provocando quebra na produtividade. E no caso da batata de regadio os baixos níveis hídricos também estão a penalizar, devendo, esta, ter uma quebra de 15% na produção. Na de sequeiro a diminuição deve atingir 30%.

A onda de calor afetou também os pomares de macieiras e pereiras. No caso da maçã, o INE estima que as quebras possam atingir os 10% por escaldões do fruto no Oeste. “O choque térmico provocou também a paragem no crescimento dos frutos, pelo que os calibres são na generalidade bastante inferiores ao normal, situação mais evidente nos pomares de sequeiro”. Nos pomares de regadio, “devido aos escassos recursos hídricos, não foi possível efetuar as regas com a frequência e dotações necessárias”.

A colheita da maçã terá início na segunda semana de agosto, mas já se aponta para quebras de produção de 15%. Na pera, cuja colheita é na terceira semana de agosto que tem início, a queda pode atingir os 30%.

Também no pêssego, as quedas podem atingir os 25%.

Na vinha é igualmente estimada uma diminuição da produção. Em alguns casos teve, mesmo, de se iniciar já a vindima, considerada precoce. No global, “apesar do elevado número de cachos, a seca e as altas temperaturas condicionaram o enchimento do bago e, consequentemente, a produtividade. As temperaturas extremas de julho potenciaram ainda o escaldão, com impacto no rendimento, prevendo um decréscimo global de 10% na uva para vinho”. Igual queda é esperada na uva de mesa.

Milho podia ser oportunidade mas elevados custos de produção travam

A guerra na Ucrânia, país que é considerado o celeiro do mundo, ainda elevou mais a cotação do milho nos mercados internacionais. O que deixava antecipar um maior interesse pela cultura. No entanto, o impacto “significativo” do aumento dos preços dos meios de produção, sobretudo dos fertilizantes, energia e combustíveis, e da previsível escassez dos recursos hídricos, travou esse ímpeto. Assim, estima-se que a área semeada aumente 5%, para os 78 mil hectares (valor muito próximo da média do último quinquénio).

Há outros casos em que o INE verificou existir alguma normalidade. Foi o caso do arroz. “As germinações foram boas, apresentando as searas bom desenvolvimento vegetativo. Ao contrário do que aconteceu com outras culturas, o arroz beneficiou do tempo quente, regularizando o seu ciclo vegetativo que se encontrava atrasado.” A produtividade do arroz deverá ser idêntica à de 2021, “apesar da presença de milhã no Baixo Mondego, infestante difícil de controlar e que compromete a produtividade da cultura”.

Também no lado positivo o INE aponta a produção de tomate para a indústria. A perspetiva do aumento do preço deste tomate conduziu a que a área contratada entre os produtores e a indústria transformadora rondasse os 16,5 mil hectares (+4%, face à campanha anterior). Na colheita já iniciada na última semana de julho, a produtividade é semelhante à campanha passada. No entanto, alerta o INE, “nos frutos em crescimento observam-se muitas situações de escaldão, havendo ainda o receio de que a onda de calor tenha afetado a polinização”.

Situação complicada está a acontecer nas pastagens e forragens, registando uma diminuição entre 20% e 80% na biomassa destinada à alimentação dos efetivos pecuários, sendo a maior quebra observada nos concelhos do Norte Alentejano e do Baixo Alentejo. “As necessidades de suplementação dos efetivos animais em regime extensivo com fenos e silagens aumentaram, o que, conjugado com a menor produção de alimentos conservados, tem causado constrangimentos nas explorações agropecuárias.”

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