11 jogos, 11 vitórias. O Benfica aterrava em Turim a meio de setembro e ainda sem conhecer qualquer outro resultado que não a vitória esta temporada. Mais: o Benfica aterrava em Turim a meio de setembro e ainda a conhecer muito mal qualquer outra realidade que não ganhar bem, ganhar por muitos e ganhar sem sofrer. Esta quarta-feira, em Itália e contra a Juventus, a equipa de Roger Schmidt tinha o primeiro grande desafio desde que o alemão chegou aos encarnados.

Ao mesmo tempo, tinha também a primeira grande oportunidade para mostrar aos mais céticos que o registo de 11 vitórias em 11 jogos não foi alcançado apenas devido à teórica acessibilidade dos adversários. Em Turim, o Benfica tinha finalmente uma chance para mostrar que pratica um futebol acima da média, que Roger Schmidt está a realizar um trabalho notável e que a qualidade de Enzo, Neres ou Gonçalo Ramos não se aplica apenas à Primeira Liga. Para isso, porém, era preciso inverter o natural favoritismo da Juventus.

Ficha de jogo

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Juventus-Benfica, 1-2

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Allianz Stadium, em Turim (Itália)

Árbitro: Felix Zwayer (Alemanha)

Juventus: Mattia Perin, Cuadrado (De Sciglio, 58′), Bremer, Bonucci, Danilo, Fabio Miretti (Di María, 58′), Leandro Paredes, Weston McKennie, Kostic (Moise Kean, 70′), Vlahovic, Milik (Fagioli, 70′)

Suplentes não utilizados: Pinsoglio, Garofani, Gatti, Rugani, Soulè, Barbieri

Treinador: Massimiliano Allegri

Benfica: Vlachodimos, Alexander Bah, António Silva, Otamendi, Grimaldo, Florentino, Enzo Fernández (Fredrik Aursnes, 81′), David Neres (Chiquinho, 81′), Rafa (Diogo Gonçalves, 86′), João Mário (Draxler, 86′), Gonçalo Ramos (Petar Musa, 81′)

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Gilberto, Rodrigo Pinho, Ristic, John Brooks, Henrique Araújo, Paulo Bernardo

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Milik (4′), João Mário (gp, 43′), David Neres (55′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Alexander Bah (26′), a Fabio Miretti (42′), a Mattia Perin (45′), a João Mário (45′), a Danilo (59′), a Leandro Paredes (73′), a Florentino (85′)

“É um adversário de topo, com qualidade individual e coletiva e também com muita experiência. Vamos ver, já jogámos contra boas equipas esta época. Todos os jogos foram difíceis para nós, precisamos sempre de boas exibições para os vencer. É algo que nos dá muita confiança mas também temos imenso respeito pelo opositor. Ainda no fim de semana, em Famalicão, foi um jogo muito difícil para nós. Não há jogos fáceis no futebol, tudo é possível. Amanhã, a situação vai ser um pouco diferente. Não somos favoritos, contudo, esperamos jogar de forma corajosa, com confiança, e vamos dar o melhor para fazer um bom jogo e ganhar. Se isso não for possível, fazer um ponto”, explicou o treinador alemão na conferência de imprensa.

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Assim, depois de vencer o Maccabi Haifa na primeira jornada da fase de grupos e de ver a Juventus perder com o PSG em Paris, o Benfica enfrentava uma equipa à precisar de vencer para não deixar fugir o comboio dos oitavos — mas também uma equipa que tinha vencido apenas um dos últimos seis encontros e que não estava propriamente num enorme momento exibicional. Depois das poupanças no fim de semana contra o Famalicão, Schmidt voltava à base e recuperava Alexander Bah, João Mário e Gonçalo Ramos para o onze inicial, sendo que Allegri trocava apenas De Sciglio por Danilo em comparação com a última jornada da Serie A, sendo também forçado a lançar Mattia Perin na baliza devido a uma lesão do titular Szczęsny. Di María, que reencontrava o Benfica, começava no banco.

O Benfica entrou no jogo praticamente a perder: ainda dentro dos cinco minutos iniciais, Paredes bateu um livre na direita e Milik, com um cabeceamento perfeito ao primeiro poste, desviou para abrir o marcador (4′). Os encarnados viam desmoronar um arranque que até tinha sido positivo, com as linhas subidas e pressão alta, e passaram por momentos de verdadeira asfixia em que a Juventus estava totalmente inserida no meio-campo adversário. Kostic ficou muito perto de aumentar a vantagem com um pontapé ao lado após um cruzamento de Cuadrado na direita (10′) e Milik ficou a centímetros de bisar ao falhar o desvio depois de um passe de Miretti (18′).

Os 20 minutos iniciais do jogo foram o espelho de uma antiga máxima do futebol — parecia mesmo que a Juventus tinha mais um jogador do que o Benfica. Porque tinha. A inferioridade numérica dos encarnados no meio-campo, com Florentino e Enzo a enfrentarem McKennie, Paredes e Miretti, permitia aos italianos ganhar quase todas as segundas bolas, desfrutar de segundos de enorme insistência junto à grande área e beneficiar de uma pressão portuguesa que chegava sempre atrasada e era pouco eficaz. A partir dos 20 minutos, e principalmente a partir de um cabeceamento de Gonçalo Ramos que passou por cima (20′), essa lógica alterou-se.

O Benfica soltou a pressão da Juventus e subiu as linhas, obrigando a equipa de Massimiliano Allegri a juntar os setores e a encaixar os blocos no último terço para eliminar os espaços que os encarnados poderiam aproveitar. Gonçalo Ramos ia empatando com um cabeceamento que Mattia Perin encaixou (27′), Enzo Fernández rematou de longe mas por cima (29′), o mesmo Ramos atirou rasteiro para o guarda-redes segurar (36′) e a equipa de Roger Schmidt ia desequilibrando essencialmente a partir do corredor direito, anulando nesta altura a dimensão ofensiva dos italianos. Rafa teve a melhor ocasião encarnada até então, ao acertar em cheio no poste com um remate de fora de área (39′), e o empate apareceu logo depois.

Já perto do final da primeira parte, o árbitro da partida foi ao VAR analisar as imagens sobre uma falta de Miretti sobre Gonçalo Ramos no interior da grande área e assinalou penálti, permitindo a João Mário empatar o jogo ainda antes do intervalo (43′). No fim do primeiro tempo, o Benfica tinha conseguido reagir à desvantagem embrionária e chegar ao golo sem perder completamente um norte que, nos minutos iniciais da partida, parecia mesmo ter desaparecido.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o Benfica procurou mostrar de imediato que pretendia ir atrás da vitória, com Alexander Bah a rematar ao lado (47′). O lateral dinamarquês ia mesmo sendo um dos melhores elementos encarnados, envolvendo-se muito na dinâmica ofensiva e potenciando a qualidade de Neres sem descurar as tarefas defensivas. Vlachodimos ainda foi forçado a uma defesa atenta depois de um pontapé forte de Milik (50′) mas a Juventus não tinha qualquer capacidade para ameaçar a baliza adversária, desequilibrando apenas com recurso a transições rápidas e sem clarividência no último terço.

A superioridade clara do Benfica acabou por ter consequências práticas ainda antes da hora de jogo. Enzo insistiu pelo corredor central, deu em Ramos na área, Rafa aproveitou um ressalto para atirar para defesa de Perin e Neres, na recarga, rematou para dar a volta ao marcador (55′). Massimiliano Allegri reagiu de imediato e lançou Di María e De Sciglio, sendo que o argentino defrontou o Benfica pela primeira vez na carreira, mas a lógica da segunda parte era totalmente inversa à da primeira: agora, parecia mesmo que os encarnados tinham mais um jogador do que os italianos, recuperando todas as segundas bolas e demonstrando uma confiança acima da média no meio-campo.

O Benfica ia gerindo a vantagem com bola e esteve muito perto de aumentar a vantagem em duas ocasiões, com Perin a defender remates de Rafa (63′) e Neres (68′), e Allegri decidiu voltar a mexer para colocar Moise Kean e Fagioli em campo. A dupla alteração teve impacto no jogo, com o avançado italiano a acertar no poste logo nos primeiros instantes em que esteve em campo (71′), e os encarnados deixaram fugir o ascendente total na partida, permitindo que o encontro partisse e que os italianos criassem algumas transições mais perigosas.

Roger Schmidt ainda lançou Musa, Aursnes e Chiquinho a dez minutos do fim, Vlahovic teve um golo anulado por fora de jogo (83′) mas o resultado já não se alterou. O Benfica venceu a Juventus em Turim com direito a reviravolta e somou a segunda vitória em duas jornadas da Liga dos Campeões, subindo à liderança do grupo em igualdade com o PSG e já com uma vantagem substancial em relação aos italianos. Na hora do apito inicial, poderia até parecer que o jogo não passava de um David contra Golias — mas quando Neres, o David dos encarnados, está em campo, nada é o que parece.