Esta sexta-feira deveria haver conferência de imprensa de Sérgio Conceição antes do jogo com o Estoril na Amoreira, por sinal um terreno sempre complicado mas que ao mesmo tempo foi a rampa de lançamento na última temporada para a conquista do título com uma grande reviravolta na segunda parte de 0-2 para 3-2. Às vezes, e depois desse momento que antecedia a viagem para Lisboa, existia até um encontro de adeptos perto da porta da garagem do Estádio do Dragão para uma saudação à equipa azul e branca. Esta sexta-feira, não houve conferência de imprensa. E, ao contrário do habitual, todos os convocados do treinador para o jogo da sétima jornada da Liga seguiram para a capital de avião e não de autocarro.

Carro com mulher e dois filhos de Sérgio Conceição apedrejado à saída do Dragão após derrota com o Club Brugge

Significa isso alguma coisa em relação ao futuro do treinador? Não. Nada. Aliás, essa decisão de prescindir da conferência de imprensa foi tomada em conjunto com os responsáveis do clube, que têm estado sempre próximos com Sérgio Conceição depois do ataque ao carro onde viajava a mulher e dois dos filhos, Rodrigo e Moisés (mais as respetivas namoradas). O foco é o jogo com o Estoril depois da goleada sofrida com o Club Brugge no Dragão, sendo que depois haverá uma paragem para os compromissos das seleções.

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Ainda assim, esta sexta-feira trouxe mais novidades sobre o caso 48 horas depois: a PSP já identificou os suspeitos envolvidos no ataque. “O Comando Metropolitano do Porto da Polícia de Segurança Pública, no passado dia 13, planeou e executou uma operação de segurança relativa ao jogo de futebol a contar para a Liga dos Campeões entre as equipas do F.C. Porto e do Club Brugge. Da operação policial resultaram uma detenção de um homem por venda de artigos contrafeitos e outro por tráfico de estupefacientes. A operação policial foi dada por terminada pelas 23h, sem registo de desordens dignas de destaque. Apesar de não existirem quaisquer informações ou indícios da possibilidade da ocorrência de qualquer desordem, junto da saída designada por P1, do Estádio do Dragão, foi mantido no local um dispositivo policial reduzido”, começou por explicar a PSP em comunicado esta tarde.

“Pelas 23h17, os elementos policiais no local foram contactados por uma cidadã a dar conta de que nas imediações do Estádio, próximo da Estação de Metro Sul (situada a cerca de 200m do local onde se encontravam os polícias), a sua viatura havia sido apedrejada por desconhecidos. No local não foi possível intercetar e identificar os autores do apedrejamento, por os mesmos aparentemente terem abandonado o local, numa viatura. Após diligências policiais, foi possível identificar os suspeitos do apedrejamento, tendo esse facto sido participado às entidades judiciárias competentes. A PSP apela a todos os cidadãos, especialmente aos que participam e assistem a eventos desportivos, que contribuam para que os mesmos sejam locais de festa e não palcos de desordem”, acrescentou.

“Depois de uma noite triste no relvado do Estádio do Dragão, que não pretendo aqui dissecar, o automóvel conduzido pela mulher de Sérgio Conceição foi alvo de um ataque à pedrada nas imediações do estádio. Não sei quem foram os ‘heróis’ autores dessa proeza. Duvido que venham a ser identificados. Mas deixo aqui a minha solidariedade pessoal ao Sérgio Conceição e à sua família. E um apelo, talvez inútil, a quem conheça os autores da proeza”, tinha comentado Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto.

Sentindo todo o apoio e solidariedade por parte do presidente Pinto da Costa, da administração da SAD e dos restantes departamentos dos azuis e brancos, Sérgio Conceição não esconde o sentimento de injustiça e até ingratidão perante o que aconteceu na noite de terça-feira. O técnico considera que se tratou de um ato isolado, até porque várias vezes faz as suas corridas pela cidade sem nunca ter tido qualquer tipo de problema (como o próprio admitiu no “Primeira Pessoa” da RTP, só lhe pedem mais títulos por mais que tenha ganho) e que poderia ter havido outro tipo de preocupação por parte das autoridades com um perímetro de segurança mais apertado mas nunca a continuidade no Dragão esteve em causa.

Ao contrário do que chegou a ser ventilado na quarta-feira, o treinador não alterou nenhum treino, não se recusou a treinar e muito menos aguardou por uma reunião com Pinto da Costa, que tem acompanhado mais de perto a equipa nesta fase no Olival. Ou seja, Sérgio Conceição orientou a sessão que já antes estava marcada para a tarde, reuniu antes com a equipa técnica tendo em conta este microciclo até ao encontro com o Estoril e fez o trabalho habitual quando há jogo europeu a meio da semana. A derrota não deixou de ser dissecada entre os responsáveis mas sempre num âmbito meramente desportivo e não à luz do que se passou depois da partida, que continua a merecer o veemente repúdio por parte dos dragões.

“A pior palavra que lhe ocorrer não chega para caracterizar o que aconteceu nas imediações do Estádio do Dragão após o jogo com o Club Brugge. Lamentando-se a falta de proteção por parte das autoridades, o que importa sublinhar é que o autor ou os autores do ataque ao carro da família de Sérgio Conceição, a serem portistas, não são apenas criminosos, são ingratos e têm memória curta. Nada justifica um ato como este, nem uma derrota incomum e impensável. A Sérgio Conceição e à sua família, expressamos toda a nossa solidariedade. A serem portistas, porque temos de o repetir, estes criminosos não só perderam por completo a noção da realidade e do mundo em que vivemos, como também revelaram uma ingratidão grotesca para com alguém que nos encheu de alegrias nos últimos cinco anos: três títulos de campeão nacional, duas Taças de Portugal e três Supertaças, e tudo isto só como treinador do FC Porto, porque se lhe juntarmos o percurso como jogador, o palmarés é ainda mais rico. É por isto e muito mais que Sérgio Conceição é e será para sempre um de nós”, escreveu a newsletter diária do clube esta quinta-feira.

Em paralelo com tudo disso, as autoridades continuam a fazer o seu trabalho em busca dos autores do apedrejamento à viatura da família de Sérgio Conceição, que deixou marcas bem visíveis desde um vidro partido (do lado do condutor, a mulher Liliana) às mossas na parte da carroçaria, que tinham ainda as impressões dos pontapés dados pelos agressores – sendo que pelo menos uma outra viatura ligada ao futebol dos azuis e brancos foi alvo de ataque com o mesmo modus operandi onde uns elementos se colocavam à frente do carro para que parasse e outros surgiam depois a apedrejar e pontapear. É por este ponto que o FC Porto fala em “falta de proteção das autoridades” na zona do Museu no Estádio do Dragão.

Francisco J. Marques, diretor de informação e comunicação dos azuis e brancos, revelou ainda um outro ponto que pode ser importante a nível de investigação: Rodrigo Conceição, filho de Sérgio que faz parte do plantel principal esta temporada, recebeu antes do ataque uma mensagem a ameaçar e insultar, dando uma outra força à ideia de que poderia ter sido uma retaliação por parte de alguns adeptos depois de um gesto para as bancadas depois da pesada derrota na Champions frente ao conjunto belga. O clube já cedeu às autoridades todas as imagens da zona que tinha à disposição, esperando agora que os agressores sejam encontrados para, caso sejam associados do FC Porto, serem também expulsos de sócios.