Muito aparato, provas incriminatórias, um final sem consequências. Esta sexta-feira, a FIFA anunciou que recusou os recursos apresentados pelo Peru e pelo Chile e deu razão ao Equador no que toca à alegada falsa identidade de Bryon Castillo — ou seja, deixou praticamente certo que os equatorianos vão mesmo marcar presença no Mundial do Qatar.
“Depois de analisar as submissões de todas as partes e depois de ter sido conduzida uma audição, o Comité de Recursos da FIFA confirmou a decisão do Comité de Disciplina e arquivou os processos iniciados contra a Federação Equatoriana de Futebol. Entre outras considerações, foi considerado que, com base na documentação apresentada, o jogador é interpretado como um cidadão de nacionalidade equatoriana”, pode ler-se no comunicado da FIFA, que indica ainda que tanto o Peru como o Chile podem agora recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto.
De recordar que, em análise, estava o caso caricato de Bryon Castillo. O lateral direito dos mexicanos do Club León, clube treinado pelo português Renato Paiva, tem estado envolto polémica nos últimos meses devido à nacionalidade: que, para efeitos oficiais, é equatoriana mas que, de acordo com a documentação apresentada pelo Peru e pelo Chile, é colombiana.
Mas é preciso começar pelo início. Oficialmente, Byron Castillo nasceu em novembro de 1998 em General Villamil, uma cidade costeira do Equador. Desde abril, porém, a FIFA investigou a possibilidade de Byron Castillo ter nascido em julho de 1995 em Tumaco, uma localidade fronteiriça na Colômbia. Na origem da investigação estava então uma queixa da Federação chilena — o jogador participou nas duas partidas da qualificação para o Mundial 2022 entre as duas equipas e o Chile exigia que o Equador fosse penalizado, sonhando ainda com a ida ao Qatar.
A FIFA deu a primeira resposta à queixa do Chile em junho, quando arquivou o processo e defendeu que Castillo nasceu mesmo no Equador, mas a Federação chilena recorreu — e foi precisamente o resultado desse recurso que ficou conhecido esta sexta-feira, sendo que o caso chileno apresentou provas adicionais. Isto porque, de acordo com documentos e áudios a que o Daily Mail teve acesso, a Federação equatoriana também conduziu uma investigação ao caso e concluiu que Byron Castillo nasceu mesmo na Colômbia, optando por encobrir todo o episódio.
FIFA Appeal Committee passes decision on eligibility of player Byron David Castillo Segura
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— FIFA Media (@fifamedia) September 16, 2022
Segundo o jornal inglês, as primeiras dúvidas quanto à verdadeira identidade do jogador surgiram em 2015 quando uma transferência do Emelec para o Norteamerica colapsou devido a “irregularidades” na documentação. Em 2018, a Federação do Equador suspendeu o Norteamerica por crimes de falsificação de documentos de atletas e abriu uma investigação independente. Byron Castillo foi interrogado no âmbito dessa investigação e, de acordo com o áudio a que o Daily Mail teve acesso, terá confessado que nasceu na Colômbia e que adquiriu uma nova identidade no Equador.
Há quatro anos, o lateral que é treinado pelo português Renato Paiva no Club León terá então assumido cinco mentiras: nasceu em 1995 na Colômbia e não em 1998 no Equador; chama-se Bayron Javier Castillo Segura e não Byron David Castillo Segura, como está no documento equatoriano; deixou Tumaco para rumar ao Equador e ir atrás do sonho do futebol; e foi ajudado por Marco Zambrano, o dono do Norteamerica, que providenciou todos os documentos falsos e arranjou uma nova identidade para o jovem jogador.
¡BOMBA! ???? ???????? ????
A través de este audio, el diario británico, Daily Mail, reveló nuevas evidencias del caso Byron Castillo, quien fue citado por la FIFA para declarar este jueves. En peligro nuevamente la participación de Ecuador en Qatar 2022.
— Pase Filtrado (@pasefiltradope) September 12, 2022
Byron Castillo nunca falou publicamente sobre esta questão e foi chamado pela FIFA a testemunhar na sessão de quinta-feira, não sendo público se participou ou não na audição. O objetivo do Chile era então que a FIFA prolongasse o precedente recente e castigasse o Equador com derrotas por 3-0 nas duas partidas que disputou contra os chilenos na qualificação para o Mundial — algo que faria com que o Chile subisse ao 4.º lugar do grupo do CONMEBOL e, tendo vantagem em relação ao Peru na diferença de golos, garantisse o apuramento para o Qatar.
Em 2016, na qualificação para o Mundial do Brasil, foi precisamente isso que aconteceu com o caso de Nelson Cabrera, defesa que representou ilegalmente a Bolívia depois de já ter sido internacional pelo Paraguai — tanto o Chile como o Peru foram recompensados com vitórias por 3-0 contra a Bolívia. Atualmente, o Equador integra o Grupo A em conjunto com o Qatar, o Senegal e os Países Baixos, sendo mesmo o adversário dos anfitriões no jogo de inauguração da competição, a 20 de novembro.