Era o primeiro match point de Max Verstappen. Em Singapura, o piloto da Red Bull tinha a primeira oportunidade de confirmar a revalidação do título e igualar Michael Schumacher como o campeão mais precoce de sempre: em 2002, o alemão conquistou o Mundial quando ainda faltavam cinco corridas para o fim da temporada, exatamente as mesmas que restam após a prova deste domingo.

Para lá chegar, porém, Verstappen precisava da calculadora. O piloto neerlandês chegava a Singapura com mais 116 pontos do que Charles Leclerc e com 11 vitórias nas 16 corridas disputadas: ou seja, para ser campeão já este domingo, precisava de ganhar e fazer a volta mais rápida da corrida, esperar que o monegasco fosse oitavo ou pior e que Sergio Pérez, colega de equipa na RedBull, não conseguisse melhor do que o quarto lugar. Uma conjugação complexa que, com a qualificação, ficou ainda mais complicada.

“Porquê? Porquê?”: Verstappen estava a voar, Red Bull mandou-o para as boxes e Leclerc sai na frente em Singapura

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Depois de a terceira sessão de treinos livres ter sido suspensa devido à chuva, as duas primeiras rondas da qualificação trouxeram surpresas: Daniel Ricciardo e Esteban Ocon ficaram com a “fava” no primeiro corte, assim como Valtteri Bottas, Alexander Albon e Nicholas Latifi, e George Russell não foi além do 11.º lugar na segunda vaga, partindo longe das decisões para o objetivo de voltar a chegar a um pódio. Numa Q3 que teve vários líderes e cuja última volta começou com Charles Leclerc em primeiro, Verstappen estava a esmagar todos os tempos do monegasco quando foi chamado às boxesaparentemente devido a falta de combustível, ficando impedido de lutar pela pole-position. Assim, Leclerc ficou com a primeira posição da grelha, seguido de Sergio Pérez, Lewis Hamilton, Carlos Sainz e Fernando Alonso, e o neerlandês arrancava de oitavo.

Tudo isto num fim de semana marcado por uma notícia da Gazzetta dello Sport que dava conta de que duas equipas tinham infringido o limite orçamental da última temporada: a Red Bull e a Aston Martin. Ou seja, e em termos práticos, o facto de a Red Bull ter gasto um valor pouco abaixo dos 5% do limite imposto pode levar a castigos ainda desconhecidos mas que podem passar por uma possível reprimenda pública pelo sucedido, dedução de pontos do Mundial de Construtores e/ou pilotos, exclusão de alguns eventos e ainda limitações de uso de túnel de vento e multas de avultado valor.

“Não sei de nada. As contas foram todas submetidas em março, é um longo processo que a FIA está a levar a cabo. Eles estão a seguir o processo e creio que na próxima semana será declarado o certificado. Acredito que as nossas contas estão abaixo do limite. Mas cabe à FIA, obviamente, seguir o protocolo”, disse Chris Horner, o diretor da Red Bull. “A infração não afeta apenas 2021 mas também 2022 e 2023. São milhões de dólares que podem fazer a diferença entre ganhar ou perder. Estamos muito preocupados. Confio na FIA e no trabalho dos reguladores. O que acontecerá? Se alguém supera o limite e lhe é aplicada uma multa, então vou começar a fazê-lo também”, destacou Toto Wolff, diretor da Mercedes, entre outras declarações que levaram a que Red Bull ponderasse até colocar um processo ao responsável germânico.

Era neste contexto que a Fórmula 1 chegava à corrida deste domingo — que começou com cerca de uma hora de atraso devido à chuva muito intensa que caiu ao início da noite em Singapura, hora de almoço em Portugal, e que deixou a pista totalmente alagada. A Mercedes “aproveitava” o 11.º lugar de George Russell e mudava todas as unidades de energia do carro do britânico, motivando a saída do pit lane. No arranque, foi Sergio Pérez a brilhar: o mexicano voou e saltou desde logo para a liderança do Grande Prémio de Singapura, ultrapassando Charles Leclerc. Por outro lado, Max Verstappen afundou nas primeiras curvas e distanciou-se ainda mais da frente do pelotão, caindo para 12.º e assumindo a difícil tarefa de realizar uma prova de recuperação com muita água em pista e reduzida visibilidade devido ao spray.

Enquanto Verstappen começava a galgar posições mas sem a facilidade do costume, não só devido ao traçado sinuoso de Singapura como às condições complexas motivadas pela fraca aderência à pista, Pérez ia registando os melhores tempos da corrida para manter tanto Leclerc como Sainz a uma distância de segurança. O safety-car entrou em ação na oitava volta, logo depois de Zhou e Latifi colidirem e abandonarem, e Verstappen chegou à volta 13 já em sétimo e nas costas de Fernando Alonso — que ia fazendo tudo o que podia para não deixar fugir o neerlandês e manter a possibilidade de aproximação a Lando Norris.

Os esforços do piloto espanhol foram em vão quando o motor do Alpine parou, motivando um safety-car virtual que regressou logo depois de sair devido a saídas de pista de Alexander Albon e Esteban Ocon — ou seja, à volta 30, já nem a Alpine nem a Williams tinham carros em competição. Russell e Gasly foram os primeiros a parar e mudaram ambos para pneus médios, deixando os olhos de todos as outras equipas a observar a reação do composto em Singapura, e Leclerc seguiu o exemplo pouco depois. Pelo meio, Hamilton falhou uma curva e foi direitinho às barreiras numa altura em que estava colado ao quarto lugar de Norris, recorrendo às boxes para também trocar para médios e mudar a asa dianteira.

Sergio Pérez também parou para calçar pneus médios e regressou ainda no primeiro lugar graças à distância que tinha em relação a Charles Leclerc. Nesta altura, Tsunoda também foi direito às barreiras e motivou a entrada do safety-car em pista até o AlphaTauri ser retirado. Verstappen arriscou tudo logo depois da saída do safety-car, travando tarde numa tentativa de ultrapassar Norris e indo parar à escapatória, caindo para novamente para o 12.º lugar. Nesta fase, a Fórmula 1 confirmou que o Grande Prémio não iria cumprir as 61 voltas previstas e anunciou que a corrida iria terminar no fim das duas horas regulamentares.

Pérez queixava-se do desempenho do monolugar e ia perdendo tempo para Leclerc essencialmente nas curvas, voltando a conquistar alguma distância nas retas. O monegasco não deu descanso ao mexicano até ao fim do tempo mas o Red Bull conseguiu mesmo carimbar a vitória em Singapura, com Leclerc e Sainz a blindarem o pódio para a Ferrari seguidos de Norris, Ricciardo e Stroll, sendo que Hamilton foi nono. Verstappen ainda passou Vettel e terminou em sétimo, falhando a primeira oportunidade para revalidar o título mundial e adiando o xeque-mate para a corrida da próxima semana, no Japão.