O líder do PSD acusou este sábado, em Leiria, o Governo de estar a “empobrecer todos os dias” o país, apontando vários problemas que Portugal enfrenta em setores como a saúde e a educação.

“Precisamos de nos fortalecer (…) para governar Portugal de outra maneira e não condenar o país, como infelizmente está a acontecer, a empobrecer todos os dias. Portugal está hoje a empobrecer todos os dias”, afirmou Luís Montenegro no encerramento da Conferência “A Transferência de Competências e os Fundos Comunitários”, hoje em Leiria.

O presidente do PSD enumerou o encerramento das urgências, “uma marca deste Governo”, e dos blocos de partos, como sucedeu nos últimos dias em Leiria e Portimão, respetivamente.

“É esta a panorâmica dos serviços de saúde. E é por isso que também estamos mais pobres”, disse, ao reforçar que a maioria socialista liderada por António Costa está a levar os portugueses “para um empobrecimento que é crescente e que não é só financeiro”.

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“Ele também é financeiro, é verdade. Somos hoje o 21.º lugar em termos de rendimento ‘per capita’ na Europa, temos os salários mais baixos, temos cada vez mais portugueses a ganhar o salário mínimo e, cada vez mais, o salário mínimo a encostar no salário médio”, disse.

Montenegro considerou ainda que o país está mais pobre, “porque o investimento público esteve ao abandono nestes últimos sete anos e porque quando precisamos de uma resposta do Serviço Nacional de Saúde, a resposta tarda”.

“Não são só as urgências encerradas, mas noutras, por exemplo, no Algarve, todos os doentes, nomeadamente na pediatria, estão a ser conduzidos para o Hospital de Faro, onde há crianças à espera dez horas para serem atendidas”, denunciou.

Esta situação, considerou o social-democrata, está a criar “desigualdade”, porque “quem tem dinheiro está a ser conduzido para ir procurar uma resposta na saúde privada ou das instituições sociais”.

“Este Governo socialista é o mais amigo de sempre do setor privado da saúde, porque é aquele que empurra mais portugueses precisamente para os seus braços. Por isso, temos hoje mais de 4 milhões de pessoas que têm seguro de saúde ou estão no quadro da ADSE, por isso que nós estamos mais pobres”, apontou.

Para Luís Montenegro, Portugal está a “perder qualidade de vida, a perder bem-estar naquilo que é essencial” e também se vê o empobrecimento na educação “quando falta um professor a uma criança”.

Reconhecendo que a inflação vai ser “superior a 4%”, Montenegro recordou que avisou o Governo para preparar “um programa para ajudar as pessoas que têm menores rendimentos”.

“Com este aumento de preços que está a atingir, em particular, o cabaz alimentar, a aquisição de bens essenciais, a eletricidade, o gás, os combustíveis, com o aumento de preços que estamos a viver e que se vai prolongar, é preciso haver um programa de ajuda àqueles que têm mais dificuldades, e mesmo à classe média”, defendeu.

Para o líder do PSD, “num ano em que Estado já estava a bater o recorde de angariação de receita fiscal sobre as pessoas e sobre as empresas”, o que o PSD pediu “era que uma parte desse excedente pudesse acudir a essa necessidade”.

Luís Montenegro criticou também o “desaproveitar” dos financiamentos comunitários.

“Basta ver que o PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] tem uma execução miserável. Não chega a 700 milhões euros. O Portugal 2020 e 30 está a zero. Ainda estamos a acabar o quadro anterior. Já tivemos um reforço das verbas disponíveis no PRR e foi por sermos dos que têm pior desempenho na recuperação. E nós também empobrecemos por aí”, acrescentou.

Orçamento é um “tapa buracos”

“Estamos numa semana de grande folclore político, numa semana de apresentação do OE. Diria mesmo na semana da ladainha habitual da apresentação dos orçamentos do Partido Socialista, que já o vemos há sete anos: há dinheiro para tudo”, afirmou ainda o presidente do PSD.

Considerando que “este Governo tem tudo para poder ser um Governo transformador” e para “ter a coragem de mudar e reformar”, o líder social-democrata constatou que “todos os indícios vão no sentido contrário, de deixar tudo na mesma”.

“Vão no sentido em que vai a este OE. É um OE de tapa buracos: tapa um buraco aqui, tapa um buraco ali”, criticou.

Luís Montenegro lembrou ainda o programa de emergência a que Portugal foi sujeito sob o executivo do PSD, e lamenta que o Governo já tenha referido que “se houver aqui algum azar haverá outro a seguir”. “Estamos mais ou menos a reviver, com as necessárias adaptações e com uma conjuntura completamente diferente, aqueles tempos dos PEC [Plano de Estabilidade e Crescimento], onde sucessivamente havia um plano para resolver os assuntos e depois ficava tudo na mesma ou vinha outro pior”, acrescentou.

Montenegro ironizou ainda com as palavras do Governo de que “há reforço de investimento, mexidas nos impostos” e “vai tudo correr bem”. “É tudo aquilo que é a ladainha orçamental da semana de apresentação do Orçamento, que depois se prolonga no debate na generalidade e no encerramento, no debate da votação final global. Tudo isso não passam de intenções, de expectativas que são criadas e que não são materializadas, nem executadas”, destacou.

Luis Montenegro desafiou os presentes a “comparar tudo aquilo que os membros do Governo, a começar pelo primeiro-ministro e a continuar pelo ministro das Finanças, dizem na semana em que apresentam o Orçamento ao país, com aquilo que depois realizam de janeiro a dezembro do ano seguinte”.

“Nem metade daquilo que é proposto fazer e realizar chega à vida das pessoas”, acrescentou. O líder social-democrata considerou ainda a maioria socialista “esquisita”.

“O primeiro-ministro anda em desavenças públicas com ministros, onde os ministros andam em desavenças públicas uns contra os outros e até ministros contra os seus secretários de Estado. Mais uma vez querem que nós levemos a sério a proposta do Orçamento”, afirmou.

Luis Montenegro referiu ainda a situação do “principal responsável pela condução da política económica, apresenta uma estratégia para os impostos sobre as empresas e é triturado pela máquina socialista, é triturado pelos seus colegas de Governo e é triturado pelos seus secretários de Estado”.

“E lá continua alegremente a assistir à sua desautorização completa, porque o Orçamento efetivamente não seguiu a estratégia dele”, acrescentou, ao afirmar que a situação na TAP é um “crime político financeiro”, pelo que o PSD vai “querer apurar tudo aquilo que foram as decisões dos últimos anos na TAP para saber por que é que os contribuintes tiveram de injetar tanto dinheiro”.