Uma imagem “histórica”. Tem sido este o adjetivo mais usado, nas últimas horas, para descrever a atitude da atleta iraniana Elnaz Rekabi, que decidiu competir sem usar hijab, transmitindo ao mundo mais um sinal de resistência às leis da “moralidade” impostas às mulheres no Irão.

A atleta participou este domingo na final das Competições de Escalada da Ásia, que decorriam em Seul, na Coreia do Sul. E foi lá que decidiu, desta vez, deixar o lenço de lado e subir a parede de escalada de bandeira do Irão ao peito e cabelo à mostra, apenas com uma fita a segurá-lo.

É uma imagem rara, uma vez que Rekabi estava a representar o Irão e as mulheres iranianas são obrigadas por lei a usar o hijab quando estão a participar em competições, mesmo quando decorrem fora do país. Daí que o vídeo tenha começado a circular em força nas redes sociais — e os elogios à atleta são cada vez mais.

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Bahman Kalbasi, correspondente em Nova Iorque da BBC persa, comentou no Twitter que um momento que parece “normal para quase todos os países” é, para as iranianas, “um momento incrível”, já que as mulheres são “forçadas há 43 anos a tapar-se, mesmo quando competem fora do Irão”. Daí que a “coragem” de Rekabi se esteja a tornar “viral”, escreveu.

O uso do hijab tornou-se obrigatório no Irão depois da Revolução Islâmica de 1979. E é, tal como outras regras de vestuário, controlado pela chamada “polícia da moralidade”, que vigiam o cumprimento das regras nas ruas e podem deter quem não as cumprir.

Foi uma dessas detenções, que levou à morte da jovem Masha Amini, a 13 de setembro — três dias depois de ser detida pela polícia com o argumento de que não estaria a usar “corretamente” o lenço — que funcionou como o gatilho para os protestos que encheram as ruas do Irão nas últimas semanas.

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Segundo a Iran Human Rights, a repressão policial dos protestos já terá levado à morte de pelo menos 108 manifestantes.

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A onda de solidariedade internacional tem, de resto, passado muito por gestos simbólicos relacionados com o cabelo — muitas mulheres têm cortado madeixas de cabelo para protestar contra o uso obrigatório do hijab. Rekabi junta-se assim a este movimento, mesmo podendo ser punida por isso quando voltar ao seu país.