As quintas eleições legislativas em três anos e meio em Israel poderão esta terça-feira fazer regressar ao poder o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção.

Aos 73 anos, o homem que mais tempo foi chefe de Governo na história do país – 14 anos (1996-1999 e 2009-2021) – vai tentar obter uma maioria de 61 deputados, dos 120 assentos do Knesset (parlamento israelita), com os seus aliados dos partidos ultraortodoxos e de uma extrema-direita abertamente racista e homofóbica em ascensão, com a qual Netanyahu não tem quaisquer escrúpulos em negociar.

Após ter sido derrotado em 2021 por uma coligação de partidos de todas as tendências, depois de, embora eleito, não ter conseguido obter uma maioria para governar nas legislativas realizadas desde 2019, desta vez, as perspetivas não são melhores: as últimas sondagens atribuem ao “bloco de direita” de Netanyahu 60 assentos parlamentares e 56 ao primeiro-ministro cessante, o centrista Yaïr Lapid, e seus aliados.

Nos seus cartazes de campanha, Netanyahu mostra imagens do seu adversário com líderes de partidos árabes e frases como “Uma vez é suficiente”, classificando o Governo de Lapid como “perigoso”.

Lapid aliou-se, em junho de 2021, a uma “Coligação da Mudança” que reunia partidos de direita, esquerda, centro e uma formação árabe, o Raam, de Mansur Abbas, para afastar do poder Benjamin Netanyahu, acusado pela Justiça de corrupção numa série de casos.

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A coligação de Yaïr Lapid perdeu a maioria no parlamento na primavera deste ano, com a saída de deputados de direita, o que levou o Governo a convocar novas eleições legislativas – as quintas desde abril de 2019 em Israel, um país que, nos últimos anos, tem tido dificuldades em formar coligações e em mantê-las.

Apesar de a campanha ter começado lentamente, ela acelerou nos últimos dias, com os partidos religiosos a exibirem faixas nas ruas de Jerusalém, e as formações árabes a distribuírem panfletos nas cidades árabes da Galileia.

Em 2020, os partidos árabes israelitas conquistaram um recorde de 15 mandatos parlamentares, depois de realizarem uma campanha dinâmica em conjunto. Mas desta vez, apresentam-se dispersos por três listas: Raam (islamista moderado), Hadash-Taal (laico) e Balad (nacionalista).

No sistema proporcional israelita, uma lista eleitoral precisa de obter pelo menos 3,25% dos votos para ter assento parlamentar, com um mínimo de quatro lugares. Abaixo desse limiar, os partidos não têm representação no Knesset.

Divididos, os partidos árabes têm, portanto, menos hipóteses de conseguir alcançar esse limiar, assim facilitando a vitória do bloco Netanyahu e seus aliados.

Estas eleições ocorrem num clima de tensão na Cisjordânia ocupada, com dois ataques perpetrados nos últimos dias por palestinianos, um dos quais matou um civil israelita no sábado à noite em Hebron (sul), uma cidade em torno da qual vivem colonos israelitas.

Na sequência de uma série de ataques a israelitas na primavera, o exército realizou mais de 2.000 ataques na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967, nomeadamente em Jenin e Nablus (norte). Tais operações, muitas vezes intercaladas com confrontos, fizeram mais de 120 mortos do lado palestiniano, o maior número de vítimas nos últimos sete anos.

Por causa das eleições, o exército israelita vai esta terça-feira encerrar pontos de acesso à Cisjordânia e à Faixa de Gaza, exceto em casos de emergências “humanitárias”.

Na imprensa israelita, a questão mais premente na véspera do escrutínio era saber se a violência terá “a última palavra”, favorecendo um voto à direita em eleições ferozmente disputadas, como observou o diário Yediot Aharonot.

Desta vez, além do regresso ou não ao poder do polémico Benjamin Netanyahu, da ascensão da extrema-direita e do imprevisível voto árabe (cerca de um quinto dos cidadãos israelitas), marcou a campanha eleitoral no país o elevado custo de vida, que aparentemente preocupa ainda mais os eleitores do que o clássico problema de segurança.

Após o escrutínio, os partidos têm quase três meses para negociarem uma nova coligação que lhes assegure uma maioria no parlamento, ou seja, 61 mandatos. Se não conseguirem fazê-lo, Israel regressará às urnas no início do próximo ano e repetirá todo o processo mais uma vez.

Além de custarem milhões de shekels, cinco legislativas em menos de quatro anos cansaram os cidadãos e reduziram a sua confiança nas instituições democráticas do país.