Uma comissão parlamentar da União Europeia que investiga o uso de spyware instou esta sexta-feira as autoridades gregas a maiores esforços para esclarecerem um escândalo de vigilância telefónica que visou políticos da oposição e jornalistas.

“Obtivemos esclarecimentos, mas também sentimos que muitas das nossas perguntas ainda estão por responder”, disse o chefe da comissão, Jeroen Lenaers, após uma visita à Grécia.

A relatora da comissão, Sophie in’t Veld, avançou que, embora não surgissem provas concretas sobre quem instalou e usou spyware (programa intruso que é infiltrado num sistema de computadores ou telemóveis para obter informação), “tudo aponta na direção de pessoas nos círculos governamentais”.

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, garantiu, em declarações feitas no auge do escândalo, que não teve conhecimento das escutas ao líder do partido da oposição (PASOK), o socialista Nikos Androulakis.

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O chefe do Governo explicou que os telemóveis de Androulakis foram colocados sob “vigilância legal” entre setembro e dezembro do ano passado, durante o período de eleições no partido, admitiu que o que aconteceu “pode estar em concordância com o espírito da lei, mas foi errado” e insistiu que não teria permitido esta ação se estivesse informado.

O escândalo na Grécia sobre escutas telefónicas implicou a demissão do chefe dos serviços nacionais de informações e do secretário-geral do gabinete do primeiro-ministro.

Para o primeiro-ministro, “mesmo que tudo tenha acontecido legalmente, foi politicamente inaceitável” e por isso prometeu alterações nos serviços nacionais de informações, incluindo um maior controlo parlamentar, e mudanças internas para garantir mais transparência e controlo.

No mês passado, uma comissão parlamentar grega investigou a vigilância de Androulakis, mas as suas conclusões globais continuam classificadas.

Lenaers, deputado europeu eleito pela Holanda, referiu que a investigação do parlamento grego “desvendou poucos factos e não ouviu todas as testemunhas relevantes”.

O relatório final da comissão deve ser tornado público”, disse em conferência de imprensa.

Também Sophie in’t Veld realçou que a comissão a que preside não encontrará provas de quem usou o programa de espionagem “enquanto as autoridades não estiverem dispostas a partilhar informações oficiais”.

A relatora acusou as autoridades gregas de não terem feito grandes esforços para investigar o uso do spyware e sublinhou que o assunto “deve ser esclarecido com urgência e plenamente antes” das próximas eleições legislativas da Grécia em meados de 2023.

Instou também Atenas a procurar a ajuda da agência de polícia europeia, a Europol, na investigação “pelo menos para obter provas”.