Face à possibilidade do encerramento do Stop por falta de condições de segurança, e caso as obras necessárias no antigo centro comercial não avancem, a Câmara Municipal do Porto diz estar disponível para adaptar os dois pisos superiores do Silo Auto para acolher os cerca de 500 músicos. “A única coisa que teríamos de fazer era substituir as coberturas, mas seria um espaço em que seria possível isso acontecer”, explicou Rui Moreira, presidente da autarquia, durante a reunião do executivo desta segunda-feira. O espaço seria de gestão municipal, partilhado entre os vários artistas e contaria com um regulamento de utilização.

Na sequência de uma proposta apresentada pela CDU na reunião do executivo, que apresentava uma solução de “tomada de posse administrativa do Stop por parte da Câmara do Porto e/ou Ministério da Cultura”, Rui Moreira explicou que, com um projeto para obras já aprovado, esta seria uma decisão ilegal. “Neste momento, o que é proposto conteria uma ilegalidade porque foi apresentado à Câmara um projeto de arquitetura que já está aprovado. Decorrem, portanto, prazos para que se possam levar a cabo as obras que estão autorizadas”, explicou.

O autarca independente relembrou que o edifício do antigo centro comercial está “em clara desadequação” para as atividades que lá decorrem atualmente — utilizado maioritariamente como sala de ensaios e estúdio de gravações. “O Stop não pode funcionar como está a funcionar atualmente porque não tem as condições necessárias de segurança e salubridade. E este assunto tem sido denunciado à Câmara por inúmeras pessoas, inclusivamente pelos próprios músicos”, explicou ainda.

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Em causa estão obras como a instalação de sistemas de deteção de incêndio, de saídas de emergência e a execução de um projeto acústico. Rui Moreira relembrou as “fortíssimas reclamações” que a autarquia recebe por causa do ruído vindo deste espaço. “Exatamente porque, não havendo obras feitas, aquele edifício não tem insonorização e as pessoas que vivem na sua proximidade apresentam aqui reclamações todos os dias. Há ali, de facto, um grande problema”, acrescentou.

A 31 de maio deste ano a administração do Stop apresentou um projeto para reabilitar o Stop, sendo que o prazo para a realização das obras termina no dia 30 deste mês. Mas Rui Moreira não acredita que a empreitada vá mesmo avançar: “Sinceramente, não sei e até duvido”. Além dos elevados custos das obras, “considerados até agora incomportáveis para o grupo de músicos que liderou os vários processos tendentes á regularização”, a tarefa fica mais complicada devido ao facto de, neste edifício, não existir apenas um proprietário, mas sim mais de 90 — muitos não estão sequer contactáveis ou estão fora do país.

O vereador do Urbanismo, Pedro Baganho, referiu que esta não se trata apenas de uma dificuldade do Stop, mas algo em comum nos centros comerciais de primeira geração que existem no Porto — no Dallas, no Brasília e no Stop — e que dificulta a tarefa de reabilitação destes espaços.

Inaugurado em 1982 como centro comercial, desde meados dos anos 90 que o Stop passou a ser utilizado sobretudo como sala de ensaios e estúdio de gravações por músicos. A possibilidade do encerramento é discutida desde 2010, quando a autarquia exigiu que todas as lojas tivessem licença de utilização. Caso contrário, poderiam ter de fechar portas. O processo de licenciamento nunca chegou a ser concretizado e a incerteza ficou sempre no ar.

Rui Moreira sublinhou que esta é uma situação que a autarquia tem acompanhado há vários anos. A alternativa do Silo Auto, acrescentou, já tinha sido apresentada à Associação dos Músicos do Stop, que faz a ponte da comunidade de músicos com a Câmara, mas, na altura, os músicos não estavam interessados por se tratar de um espaço em modelo open space, oposto ao modelo de salas contíguas que existe atualmente no Stop.

Rosário Gâmboa, vereadora do PS, pediu a Rui Moreira que voltasse a levar a proposta do Silo Auto aos músicos e à administração do STOP, no sentido de perceber se seria viável avançar com essa solução que, a seu ver, “teria muito valor para a cidade. Vladimiro Feliz, do PSD, partilha a mesma opinião: “Havendo uma solução alternativa que possa passar pela partilha colaborativa de espaços, parece-me que faz todo o sentido”.