“O que me disse Agostini? Para fazer apenas aquilo que sei e que isso seria suficiente. Rossi? Convidou-me para beber um Ice Tea de limão gelado para falarmos um bocado”. O primeiro é “apenas” o piloto com mais títulos na categoria rainha do motociclismo (oito, sete numa equipa transalpina); o segundo o maior ícone de sempre da modalidade e também segundo com mais vitórias (sete, todas por conjuntos japoneses). Entre ambos, houve o sucesso de Marco Lucchinelli e de Franco Uncini nos anos 80 mas a “reforma” de Il Dottore deixou um vazio entre pilotos italianos capazes de chegar a um título. Pecco Bagnaia, aos 25 anos, estava a dois pontos de segurar a coroa. E os maiores “protetores” possíveis estavam com ele.

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Havia uma história quase paralela em relação ao piloto da Ducati e que ia puxar o fio a Valentino Rossi e a um episódio que aconteceu há mais de uma década na Yamaha, quando o ícone fez um “Ou eu ou o Jorge Lorenzo” e acabou por perder. Il Dottore apostou tudo na Ducati e na perspetiva de um italiano conseguir ganhar com uma formação transalpina. Era um sonho, tornou-se um pesadelo. Dois anos depois, voltou à equipa nipónica mas a áurea de campeão desaparecera com o tempo. O guião estava desenhado mas só uma década depois acabou por concretizar-se e com uma outra particularidade: 50 anos depois, o título de MotoGP (então 500cc) volta a ser ganho por um piloto transalpino numa equipa transalpina, sendo que a Ducati tinha ganho o título nesse hiato mas pelo australiano Casey Stoner em 2007.

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Nascido em Turim, Bagnaia começou cedo a conhecer o sabor da vitória com a vitória no Europeu de MiniGP com 12 anos. Em 2012, com uma terceira posição na época de CEV Moto3 numa Honda, ganhou o “passaporte” para entrar como piloto VR46 na Academia de Rossi. Também por isso, Il Dottore foi sempre a grande referência de Pecco. E foi com o sonho de poder um dia imitar os seus sucessos que entrou pela primeira vez em 2013 no Moto3 pela FTR Honda, sem pontuar. Esteve no ano seguinte na KTM, mudou a seguir para a Mahindra, conseguiu o primeiro pódio em 2015 em França, terminou o Mundial de Moto3 em 2016 na quarta posição com duas vitórias e seis pódios. O próximo salto estava mesmo garantido.

O primeiro ano de Moto2 pela Kalex funcionou como rampa de lançamento para a primeira grande vitória no Mundial da segunda categoria logo em 2018, batendo Miguel Oliveira numa temporada onde conseguiu oito vitórias e 12 pódios no ano em que festejou também a ida de Cristiano Ronaldo para a “sua” Juventus. Em 2019, Pecco Bagnaia subiu para a principal categoria pela Pramac, equipa satélite da Ducati onde fez duas épocas com um só pódio, o segundo lugar em São Marino em 2020. A ascensão ao conjunto de fábrica era uma questão de tempo e, a seguir ao segundo lugar no último ano, segurou o primeiro título.

Em dia de festa, muitos pormenores foram sendo recordados sobre o piloto transalpino. O gosto pela cozinha, com a habitual pasta entre os pratos preferidos. Os filmes e séries preferidos, como o Gladiador, Stranger Things, Harry Potter ou Senhor dos Anéis. A paixão por outros desportos como basquetebol, esqui ou pesca. O hábito de ler autobiografias das principais figuras do desporto. Mas o maior deles todos acabou por ser o primeiro triunfo de um piloto da Academia de Valentino Rossi no Mundial de MotoGP.

“Foi um dia muito feliz porque foi também o dia mais difícil. Depois de perder uma parte da asa, tive de fazer uma corrida mais defensiva. Estou muito orgulhoso da minha equipa. Vi muitos rostos a chorarem, eu próprio também chorei. Um italiano a ganhar por uma equipa italiana… Foi uma vitória incrível. Sentia essa pressão sobre os meus ombros. Não foi apenas a influência do Valentino [Rossi], foi de todos os que fazem parte da Academia. Foram sempre muito profissionais, apaixonados, próximos uns dos outros. Quando vi Morbidelli acabar em segundo, foi uma motivação extra para mim”, comentou.