“Faltam-me as coisas certas no momento certo, como tem acontecido várias vezes ao longo desta temporada. Temos sempre bastante potencial mas falta sempre qualquer coisa numa volta. Não tenho muito mais a dizer, apenas que estou de consciência tranquilo em relação a isso.”

Miguel Oliveira “desapontado” com 14.º lugar na qualificação para Valência

Miguel Oliveira chegou para o Grande Prémio da Comunidade Valenciana de sorrisos nos lábios, cheio de esperança e com aquela sensação de fim de ciclo que retira a pressão do resultado ainda que o mesmo seja mais desejado do que nunca. E o primeiro dia reforçou toda essa esperança, com um promissor oitavo lugar na primeira sessão de treinos livres com todos os tempos acima de 1.31 e uma ainda melhor sexta posição na segunda sessão que teve registos bem mais rápidos. Tudo fazia sentido até este sábado. Tudo começou a perder sentido este sábado. E enquanto a maioria das equipas subiu, o português estagnou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O início da despedida da KTM: Miguel Oliveira arranca em 14.º em Valência e na última corrida do ano

Apesar de ter ficado a menos de uma décima do top 10 nos TL3, e com isso terminar na antecâmara de uma qualificação direta para a Q2, e ter sido o mais rápido na quarta sessão de treinos livres (ainda que com um tempo alto), a Q1 não correu da melhor forma, caindo para a 14.ª posição da grelha com os dois primeiros lugares de acesso a caírem para Maverick Viñales e Álex Rins. A despedida da KTM voltaria a ser aquilo que aconteceu muitas vezes ao longo da temporada, com o número 88 obrigado a ir de trás para a frente numa corrida onde sabia que Jorge Martín tinha condições para recuperar a desvantagem de dois pontos em relação ao nono lugar do Mundial e que não seria fácil ganhar dez pontos a Rins pelo oitavo.

“Fiquei desapontado. Quando se faz um quarto treino livre com o melhor ritmo de corrida e depois se fica curto na qualificação é sempre frustrante mas esta temporada tem sido assim. Sim, estou ansioso por ser a última corrida da temporada. O arranque e as duas voltas iniciais serão determinantes para o resto mas é um pouco inútil sair com um grande ritmo desde o 14.º lugar. Consegui o ritmo no FP4 sozinho, sem ninguém à frente. Quando isso acontece, as coisas correm sempre bem. Com os cones de ar e o sobreaquecimento dos pneus, tenho sempre um pouco mais de dificuldade. Mas vou procurar maximizar os meus recursos para que possa terminar a corrida numa boa posição”, comentara Miguel Oliveira.

Os protagonistas principais da corrida seriam de forma inevitável Pecco Bagnaia (líder do Mundial com 23 pontos a mais que iria sair do oitavo lugar) e Fabio Quartararo (que arrancava de quarto) mas havia várias histórias paralelas em Valência para seguir como a última corrida da Suzuki ou a derradeira prova de Jack Miller na Ducati e de Pol Espargaró na Honda antes do regresso à KTM. Em sentido contrário, Oliveira despedia-se do conjunto austríaco após uma longa ligação, seguindo para a RNF Aprilia. Era a corrida das decisões, das despedidas, das emoções, do risco ponderado com margem para arriscar tudo. E para o português de tudo um pouco, entre muitos sorrisos e fotografias antes do arranque da prova.

Entre muitos cuidados na partida, Álex Rins saiu a ganhar assumindo a liderança da prova à frente de Jorge Martín com Marc Márquez em terceiro. Logo a seguir, Fabio Quartararo tinha atrás de si as duas Ducati de fábrica, com Jack Miller e Pecco Bagnaia. E ainda houve uma sensação de susto com o italiano no início da segunda volta, que viu sair uma pequena parte da asa numa altura de maior tráfego na pista, o que não evitou que mergulhasse por baixo de Quartararo e ficasse em quinto, à frente do francês. Já Miguel Oliveira, que no final da primeira volta era apenas 13.º, foi ganhando posições e subiu ao top 10.

O português tinha à sua frente Joan Mir, sendo que Luca Marini não parecia ter capacidade para colocar em causa a décima posição do número 88, cada vez mais próximo do companheiro de equipa Brad Binder. Lá na frente, criava-se um fosso entre os dois candidatos ao título e os quatro primeiros, com quase dois segundos entre grupos que foram sendo reduzidos sendo que Quartararo já tinha passado para a frente de Bagnaia. Um pouco mais atrás, Aleix Espargaró acabou por desistir, estendendo a passadeira a Enea Bastianini para subir a terceiro do Mundial mesmo ocupando nessa fase um modesto 12.º posto.

Miguel Oliveira lutava com sucesso pela nona posição de Johann Zarco e ainda subiu mais um lugar para oitavo depois de Marc Márquez sair de pista quando estava no quarto posto. Já Brad Binder, aproveitando o risco zero de Bagnaia, assumiu o quinto lugar à frente do italiano que sabia que Quartararo estava longe de alcançar sequer o pódio em Valência. O italiano quase que assumia essa questão de perder lugares desde que o seu título não fosse colocado em causa, o que permitiu que Joan Mir passasse a Ducati e o português andasse colado com Luca Marini por perto. Oliveira passou na 17.ª volta e ficou em sétimo, sendo que Brad Binder já tinha ultrapassado na quarta posição Fabio Quartararo, há muito sem esperanças.

As decisões mais relevantes estavam fechadas, com Bagnaia campeão mesmo continuando a descer lugares, Enea Bastianini a segurar o terceiro lugar no Mundial rodando já à frente do compatriota e companheiro da Ducati e Brad Binder a subir às posições de pódio pouco antes de Jack Miller cair, desistir e permitir que Miguel Oliveira subisse a quinto, igualando o terceiro melhor resultado do ano apenas atrás das vitórias na Indonésia e na Tailândia. As KTM estavam a voar na parte final, com Binder a passar também Martín com a esperança de poder colocar ainda em causa a melhor despedida da Suzuki com Álex Rins.